Sensação de relaxamento e diminuição de dor são alguns dos benefícios trazidos a quem é submetido a uma sessão de fisioterapia aquática. Originada do grego (hidro = água; therapia = cura), a hidroterapia vai além do tratamento de problemas específicos de saúde, trazendo benefícios psíquicos e neurológicos.
Embora não se sabia com certeza quando a água foi utilizada pela primeira vez com finalidades terapêuticas, há indícios de que os orientais iniciaram a prática em aproximadamente 2400 a.C. Hipócrates (460-375 a.C.) empregava água quente e fria no tratamento de doenças. No Ocidente, os romanos a utilizaram amplamente com fins terapêuticos e recreacionais. Eles dispunham de balneários e termas, onde tomavam quatro tipos de banho, sob diferentes temperaturas.
A Europa foi precursora na busca científica acerca dos efeitos terapêuticos da água. A primeira publicação sobre os efeitos de banhos terapêuticos foi assinada pelo médico inglês John Flayer, em 1697. Daí em diante, outros profissionais dedicaram sua atenção aos efeitos e indicações da hidroterapia.
Atualmente, as atividades aquáticas com fins terapêuticos são utilizadas por elas mais diversas áreas, dentre elas os educadores físicos, fisioterapeutas, ortopedistas, reumatologistas, entre outros. Banhos de imersão e atividades aquáticas como a natação, hidroginástica e hidroterapia também são consideradas terapêuticas.
A fisioterapeuta Juliana Collares Vanassi, da Sulfisio, diz que a técnica é indicada para pacientes com quadro crônico de origem reumática ou traumato-ortopédica, pós-operatórios, casos neurológicos que requeiram uma reabilitação aquática associada à fisioterapia convencional. Entre as patologias mais comuns estão hérnias de disco, discopatias degenerativas, artroses/artrites de coluna e membros inferiores, acidente vascular encefálico, Parkinson, entre outros.
O baixo impacto nas articulações e o relaxamento trazido pela água aquecida estão entre os principais benefícios que atraem os pacientes, explica a fisioterapeuta Vanise Tomatis Loth, da Acquaticus:
- Na água consegue-se iniciar movimentos que fora dela demoram para ser obtidos. Na imersão, obtém-se resultados mais rápidos.
Trabalhando na área há mais de 10 anos, Vanise afirma que muita gente ainda confunde a hidroginástica com hidroterapia. Enquanto a primeira é uma modalidade de exercício físico, a segunda é uma técnica de fisioterapia que costuma ser usada para o tratamento de patologias. O custo médio de uma sessão fica entre R$ 60 e R$ 80.
A aposentada Eunice Ester Schmit, 65 anos, é adepta da hidroterapia há seis. Frequenta a piscina da Acquaticus duas vezes por semana, por indicação de seu ortopedista. Faz hidropostural para amenizar as dores que sente na coluna e, de vez em quando, recorre à fisioterapia aquática para amenizar os efeitos de uma hérnia de disco.
- É uma delícia. A gente deita na boia e recebe massagem. Saio de lá flutuando, sem dor nenhuma - comenta.
Postura e relaxamento no meio líquido
Em 1980, Harold Dull transportou para as águas aquecidas das piscinas de Harbin Hot Springs (Califórnia) os alongamentos e massagens do Zen Shiatsu, criados no Japão. A isso deu o nome de Watsu (water shiatsu, em inglês). Em sessões de aproximadamente 60 minutos, o terapeuta apoia e movimenta o cliente à medida que alonga e massageia os pontos de tensão muscular. A piscina aquecida a 35°C aumenta a sensibilidade dos tecidos e favorece o fluxo sanguíneo.
A fisioterapeuta Aline Guedes Milano do Canto, da Sulfisio, explica que o paciente, deitado nos braços do instrutor, é conduzido de forma totalmente passiva, deslizando pela superfície da água em um ambiente propício para o relaxamento profundo.
A proposta é justamente eliminar dores, lesões e preocupações, distensionar o corpo por meio de um atendimento individualizado. A técnica ajuda no tratamento de depressão, diminui dores musculares e baixa a ansiedade. Não é feita necessariamente por fisioterapeutas, mas por profissionais com treinamento especializado.
Já a hidropostural é uma atividade feita em pequenos grupos e serve para corrigir a postura, por meio da consciência corporal, fortalecimento da coluna e atividades de equilíbrio. A atividade é muito procurada por pacientes idosos, obesos e gestantes. Professora da modalidade, Vanise Tomatis Loth explica que algumas pessoas inicialmente fazem consultas, mas acabam ficando mais tempo, pois gostam, e incorporam a atividade na rotina, como exercício físico.
Leveza e bem-estar
Há cerca de seis meses, a repórter recebeu uma sessão demonstrativa de Watsu na clínica Acquaticus. Confira o relato:
"A sensação é estar flutuando. A música de fundo tranquila, a luz baixa e o corpo submerso na água aquecida ajudam a aquietar a mente e fazem as tensões físicas, aos poucos, irem embora. Porém, na primeira vez, isso não acontece assim tão rápido. Ao entrar na piscina e deixar os movimentos do meu corpo serem guiados pelo profissional que fiz a sessão, fui acometida por uma estranha sensação... a dificuldade de desligar do mundo lá fora. Pensava no dia de trabalho, na tarefas que ainda tinha para cumprir, nas notícias das últimas horas. Mas a terapia requer entrega. Por isso, percebi que precisava intensificar os esforços para resgatar a mente meditativa e deixar o corpo relaxado para melhor usufruir da sessão. Se a pessoa não desliga, dificilmente sente todos os benefícios da terapia. Quando falo isso, digo que é necessário fechar os olhos e confiar nos movimentos executados levemente dentro da água. Relaxe, você não irá se afogar nem será surpreendido com posições doloridas ou desconfortáveis. Pelo contrário, a proximidade com o profissional lhe traz uma sensação de confiança, leveza e bem-estar que permanecem com você horas depois que você sai da piscina".
Indicações
As indicações da hidroterapia são bem variadas e recomendadas para o tratamento de uma série de problemas de saúde. Confira alguns:
:: Reumáticas
Artrite reumatoide, febre reumática, espondilite anquilosante, osteoartrites ou artroses, tendinites, bursites, capsulites, miosites, discopatias degenerativas, polimialgias.
:: Ortopédicas e traumatológicas
Fraturas consolidadas ou em fase de consolidação, alterações posturais, pós-lesões traumáticas como entorses, luxações, subluxações, lesões impactantes, além de pós-operatórios ósseos e articulares.
:: Neurológicas
Parkinson, Alzheimer, sequelas de acidente vascular cerebral (AVC), traumatismo raquimedular, poliomielite, polineuropatias, traumatismo cranioencefálico, paralisia cerebral, tumores do sistema nervoso central, doenças degenerativas do sistema nervoso, como distrofias musculares, lesões periféricas de nervos, síndromes neurológicas e pós-operatórios em geral.
:: Respiratórias
Asma brônquica, bronquite crônica, enfisema pulmonar, fibrose cística e sequelas de infecções respiratórias, pós-operatórios.
:: Cardíacas
Hipertensão, alterações valvulares.
:: Endócrinas
Obesidade, alterações da tireoide.
:: Psíquicas
Depressão, neuroses, autismo, doenças mentais e deficiências mentais em geral.