A anorexia nervosa, um distúrbio alimentar grave, e a hiperatividade física estão ligadas por um mecanismo molecular comum, uma descoberta que pode levar a um tratamento desta doença que afeta principalmente as adolescentes, de acordo com um estudo recente.
Enquanto acreditava-se que a hiperatividade dos anoréxicos era intencional e tinha como objetivo a perda de mais peso com a queima de calorias, uma equipe conjunta de pesquisadores do Inserm, do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS) e das universidades Montpellier e Nîmes descobriu um mecanismo comum que explica o elo entre os dois comportamentos.
Usando ratos geneticamente modificados que imitam o comportamento da anorexia humana, os pesquisadores descobriram que eles apresentavam uma anormalidade molecular em uma região do cérebro relacionada à recompensa.
Esta anomalia corresponde à "super-expressão" (excesso de expressão de genes) do receptor 5-HT4 a serotonina, um receptor celular que controla a hiperatividade motora nos ratos.
- Nós identificamos pela primeira vez ao nosso conhecimento uma via molecular comum envolvida na anorexia e hiperatividade - explica Valérie Compan, que liderou o estudo publicado no final do ano passado na revista Translational Psychiatry.
O trabalho também confirmou a existência de semelhanças entre a anorexia e o vício.
- A anorexia e a cocaína trilham o mesmo caminho molecular, o que tende a confirmar que a anorexia é um vício - acrescenta Compan.
Os pesquisadores também descobriram que o receptor poderia tornar-se completamente inativo e provocar "um excesso de consumo de alimento", como o encontrado especialmente na bulimia.
- Os distúrbios que afetam este receptor - às vezes muito ativo e supressor do apetite e às vezes inativo - podem explicar as oscilações entre a anorexia e a bulimia em alguns pacientes - ressalta a pesquisadora, que espera que o trabalho possa ser reproduzido em seres humanos.
- Na ausência total de medicamentos para o tratamento da anorexia, este receptor pode representar um alvo terapêutico eficaz, já que ao desativá-lo os pacientes estariam mais dispostos a se alimentar e ao reativá-lo poderia moderar a ingestão de alimentos - acrescenta.