O primeiro abraço ocorre ali mesmo, na entrada do posto. Ives Rigobello, o paciente, encontra Francisco Arsego, o médico, na recepção do posto de saúde, durante uma das rondas que o profissional faz por ali durante a jornada de trabalho. Sem formalidades, como bons amigos. Para eles, a relação médico-paciente é quase assim mesmo, uma coisa de amigo. E que amigo.
Conhecidos desde 2004, quando Rigobello passou a tratar a mãe idosa na Unidade do Serviço de Atenção Primária à Saúde, ligada ao Hospital de Clínicas e à Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), médico e paciente já viveram momentos intensos. O mais emblemático, segundo o médico foi o diagnóstico de um tumor maligno nos rins do aposentado, detectado por Arsego e confirmado por exames de alta complexidade.
- Eu conhecia a história dele, o que ajudou no diagnóstico e no encaminhamento para o tratamento especializado - conta o médico.
- Foi ele quem me deu a notícia. O chão fugiu dos meus pés, é claro, pois eu estava recebendo um diagnóstico terrível. Mas tinha confiança no Francisco, éramos velhos conhecidos. Ele me disse que eu poderia ficar bem, e eu confiei - relembra o paciente, emocionado.
A cirurgia para a retirada do rim doente foi um sucesso, e os exames posteriores estão revelando um quadro positivo. Essa história ainda não teve um desfecho completo, pois o paciente vive a fase de monitoramento da doença.
Envolver-se com os pacientes é algo natural e inevitável, de acordo com Arsego, que é professor do Departamento de Medicina Social do curso de Medicina da UFRGS. Para ele, em maior ou menor medida, o médico cria vínculos com seus pacientes, participa de suas vidas, é decisivo na trajetória de todos eles. E isso é inerente ao exercício da medicina.
- Escolhemos uma profissão em que o contato com o ser humano é o princípio. Para mim, é impossível não sentir a morte de um paciente ou não vibrar com sua recuperação - comenta.
Ensinar uma relação estreita com as pessoas virou tema de sala de aula para Arsego. A tecnologia e os avanços que tanto melhoraram o processo de diagnóstico criaram uma certa distância entre médico e paciente em alguns casos. Para ajudar os futuros médicos a desenvolver a empatia desde cedo, o professor coordena o estágio de três meses na Unidade Básica de Saúde do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. E aposta que seus estudantes aprenderão, com a medicina, a apreciar os abraços e os gestos de amigo.