Esqueça os pesados aparelhos de musculação ou horas intermináveis de aulas que mais parecem uma tortura. O método do futuro, quando se fala em malhação eficaz e nada monótona, tem um nome e sobrenome: treinamento funcional. Como o termo diz, o objetivo é que o corpo mantenha sua funcionalidade. Em resumo, é preservar a capacidade de executar os movimentos do dia a dia, que vão desde sentar e levantar até alcançar um pote de biscoitos no alto da prateleira. A técnica ganhou imensa notoriedade nos últimos anos por ter sido eleita para esculpir o corpo de celebridades como Juliana Paes, Deborah Secco e Jennifer Lopez, bem como para turbinar o desempenho de atletas de alta performance, como jogadores de futebol e de tênis, nadadores e lutadores de MMA (Artes Marciais Mistas, popularizada por Anderson Silva).
- Nada mais é do que tentar reproduzir a ação natural do corpo. Usamos tanto para a reabilitação quanto para o condicionamento físico - afirma Henrique Valente, um dos fisioterapeutas do Grêmio.
Assim como Valente - que utiliza os princípios do treinamento funcional no time titular do Grêmio há alguns anos - um dos fisioterapeutas do Inter, Mauren Mansur, explica que a "febre" nas academias nada mais é que uma nova roupagem para a chamada cinesioterapia funcional:
- É uma terapia que promove, através dos movimentos naturais do corpo, agilidade, potência,
coordenação e estabilidade da parte central do corpo, garantindo maior eficiência neuromuscular.
Enquanto os exercícios localizados, como a musculação, estimulam os músculos de forma isolada, no modelo funcional o treino é dinamizado com a ajuda de aparelhos simples, como bolas, elásticos, pesos e pranchas. O educador físico Christian Krause (que aparece na capa deste caderno), da academia Porto do Corpo, na Capital, diz que um dos grandes benefícios é o ganho de consciência corporal:
- Os resultados vão de maior força e equilíbrio à propriocepção, que é a percepção do próprio corpo, incluindo a consciência da postura, do movimento, das partes do corpo e das mudanças no equilíbrio.
Também é possível gastar energia - e muita energia - em uma das aulas, que duram de 45 a 60 minutos. O valor médio da mensalidade gira em torno de R$ 180, com aulas duas vezes por semana. Dependendo do nível de treinamento e intensidade, são queimadas de 400 a 800 calorias. A advogada Luciana Minuzzi, 34 anos, diz que, desde que começou a fazer as aulas, há um ano, conseguiu "secar" oito quilos, além de se livrar de uma lombalgia (dor na região lombar):
- O melhor foi que substituí gordura por músculos. Sinto uma enorme diferença no meu corpo, em todos os sentidos - diz ela.
Ávido praticante de esportes, o autônomo Luciano Di Concilio, 37 anos, diz que o treinamento lhe deu maior potência para surfar e nadar, por exemplo.
- A musculatura melhora como um todo. Além de ser bem menos monótono - avalia.
Uma opção que se encaixa em todos os perfis e idades
A personal trainer Márcia Refinski, da academia MR Fitness, em Porto Alegre, garante que qualquer pessoa, em qualquer idade e perfil, está apta para se beneficiar deste tipo de treinamento:
- O programa apenas precisa ser ajustado para cada condição física. E, é claro, é preciso de regularidade: no mínimo duas vezes por semana, fazendo parte da rotina de exercícios. Defendo que ele não substitui a musculação, e sim complementa.
Um dos instrutores da academia Cia. Athletica de Porto Alegre, Gabriel Azambuja, afirma que a região central do corpo (chamada de core, composta por 29 músculos que sustentam o complexo quadril-pélvico-lombar) é a mais trabalhada:
- Tudo se baseia no fortalecimento desta estrutura, que é o centro de produção de força e da geração de estabilidade, além da manutenção do alinhamento postural - afirma o professor.
A fisioterapeuta Cláudia Joffre, do Vitta Exercício e Clínica de Saúde, lembra de outro benefício:
- Para a correção de vícios posturais, é excelente. Como exige um trabalho de concentração maior, ativa mais áreas do sistema nervoso central. Além de tudo, é bom para a mente.
Conheça os principais movimentos do treinamento funcional
O que é treinamento funcional
O nome treinamento funcional é autoexplicativo: vem traduzido do inglês (Functional Movement System - Sistema de Movimentos Funcionais). É uma proposta criada pelo fisioterapeuta americano Gray Cook e pelo educador físico Lee Burton há mais de uma década. A proposta básica é fazer com que os movimentos feitos pelo corpo sejam corretos por meio de exercícios que usam o desequilíbrio com objetos como a bola medicinal, o bosu (meia bola) e elásticos, para recrutar um número maior de fibras musculares na execução do mesmo exercício, que é feito em um lugar plano. O principal aparelho, porém, é o peso do próprio corpo.
Principais benefícios
Os exercícios do treinamento funcional focam em cadeias musculares, são bem variados e envolvem força, equilíbrio, agilidade, consciência corporal, entre outros fatores. Praticantes afirmam que ganham maior massa muscular, melhor performance e disposição nas atividades diárias. O corpo passa a se movimentar melhor e com mais equilíbrio. Além disso, é excelente para prevenir lesões - por isso, caiu no gosto de treinadores de atletas de elite das mais diversas modalidades.
Quem pode praticar
Qualquer pessoa, independentemente de idade ou gênero. O que diferencia o treino de uma pessoa para outra são os exercícios e o grau de dificuldade destes para atingir o objetivo. Os exercícios são definidos de acordo com as necessidades e capacidades do aluno.
Como obter melhores resultados
O ideal para o condicionamento físico completo, segundo os especialistas, é aliar o treino de musculação com o funcional, mesclando as propostas com exercícios aeróbicos, como natação e corrida. Se o objetivo for emagrecer, é preciso de um treino intenso, o que não é possível nas primeiras aulas. Os ganhos de equilíbrio e coordenação começam a ser notados a partir da quarta aula. Já o ganho de massa muscular e maior definição dos músculos, a partir da oitava aula.
Você sabe o que é o core?
O conjunto de 29 músculos que se estendem da porção logo abaixo do peito até a base da cintura é a "região de ouro" do treinamento funcional. Os músculos que se encontram nesta área específica são responsáveis pela estabilização da coluna vertebral e, do ponto de vista fisiológico, é o mais importante do organismo. O core (termo em inglês que significa "centro" ou "miolo") é dividido em dois grupos: do primeiro, fazem parte os músculos mais profundos, cuja função é manter a estabilidade da coluna lombar. O segundo é composto dos músculos globais, que ficam mais na superfície e são responsáveis pela flexibilidade da região - além de darem a aparência de "barriga de tanquinho" tão desejada.
O treinamento do core é preconizado por todos os treinadores de atletas de alto rendimento, como os jogadores de futebol, lutadores e maratonistas. Isto porque ele tem tudo a ver com performance: quanto mais forte a região, maior a eficiência dos movimentos e menor a quantidade de lesões.