Uma coluna recente sobre otimismo rendeu centenas de comentários de leitores testemunhando o valor de viver a vida como um copo meio cheio. Porém, um deles em particular - de um nonagenário de Calabasas, Califórnia - era muito impressionante. O leitor, William Richmond, disse que uma frase da coluna, "finja até conseguir", resumia sua vida longa e muito bem-sucedida.
A forma como ele encara a vida poderia servir como plano de batalha para os milhões de universitários recém-formados procurando emprego num mercado de trabalho implacável e, também, para pessoas mais velhas que tentam voltar a trabalhar após um longo intervalo e aqueles que perderam o emprego e agora precisam se reinventar.
Em 1946, após quase quatro anos como piloto de caça nos Fuzileiros Navais, Richmond voltou à vida civil "com a certeza de que conquistaria tudo que quisesse".
Afinal, ele conseguira voar sozinho e pousar em segurança um Piper Cub depois de apenas seis horas de treinamento, depois passou o ano seguinte aprendendo a ser piloto. De acordo com Richmond, "faça, depois aprenda a fazer - se serviu para os fuzileiros...".
Richmond adorava jazz e, como recebeu um tambor para tocar na fanfarra do ginásio, em Rockford, Illinois, ele decidiu ir a Los Angeles e virar músico profissional.
"Eu não era muito bom, mas sabia manter o ritmo e dava a impressão de saber o que estava fazendo. Em poucos meses, arrumei um emprego num bar no centro e no devido tempo estava tocando numa 'big band'."
Contudo, reconhecendo suas limitações musicais, matriculou-se numa escola de música para aprender a ser baterista profissional, depois da qual trabalhou praticamente 15 anos sem parar com bandas famosas, tocando para cantores como Peggy Lee, Ella Fitzgerald e Frank Sinatra - e, por fim, Jerry Lewis.
Percebendo a habilidade de Richmond para fazer as pessoas rirem, Lewis lhe pediu para escrever piadas e, depois, um filme, "O Terror das Mulheres" (1961), que foi um sucesso, muito embora seu colaborador, Mel Brooks, desistisse de cara, deixando o ex-piloto, um novato completo, com a missão de escrevê-lo. Após fazer um curso de roteiros, Richmond escreveu mais seis filmes para Lewis e continuou nessa carreira por mais 30 anos, como roteirista profissional de comédia de incontáveis programas de TV antes de se aposentar aos 73 anos.
Segundo declarou em entrevista, "o importante é visualizar o que se deseja e ir atrás. Esteja pronto para uma abertura - para os achados fortuitos e felizes - o tempo todo".
Comprometa-se com a ação
A Dra. Elaine Fox, psicóloga da Universidade de Essex, Inglaterra, autora de um livro de divulgação científica sobre a ciência do otimismo, "Rainy Brain, Sunny Brain", afirmou que o pensamento positivo não é o principal no otimismo.
"O que realmente faz a diferença é agir", ela me contou. "Se você ficar sentada passivamente, não vai conseguir o emprego desejado."
Seu livro inclui a história de Madam C.J. Walker (1867-1919), filha de ex-escravos, órfã aos sete anos, casada aos 14 e divorciada aos 20. Sem se deixar vencer pelo racismo e sexismo, ela se tornou talvez a primeira negra milionária dos Estados Unidos, fundando uma empresa que produzia produtos capilares.
"A história de enriquecimento de Madam Walker foi principalmente incentivada por sua irrepreensível atitude confiante", escreveu Fox. "Os reveses eram encarados de frente com energia incansável."
Segundo Fox, depois de Thomas Edison ter tentado em vão mais de dez mil formas diferentes de fabricar uma lâmpada, "ele disse uma frase memorável: 'Eu não fracassei. Só encontrei dez mil maneiras que não funcionam'".
Em entrevista, Fox afirmou: "O importante é ter um senso de controle sobre a vida, o seu destino. Quando acontece um contratempo, você sente ser capaz de fazer algo a respeito".
Ou, em suas próprias palavras, o "otimismo não tem tanto a ver com se sentir feliz, nem necessariamente é uma crença de que tudo ficará bem, mas com a maneira com que respondemos quando o caldo engrossa. Os otimistas costumam seguir em frente, até mesmo quando parece que o mundo inteiro se voltou contra eles".
Às vezes, um pequeno blefe ajuda. Richmond disse que teve a primeira chance profissional ao afirmar a outros músicos que era um baterista excelente. Uma coisa levou a outra, até ele arrumar um emprego numa banda que excursionaria nove meses tocando uma noite só em cada lugar.
"Depois da primeira noite, fui demitido. Eu não era bom o suficiente", recorda-se. "Porém, eles tinham de ficar comigo até acharem um substituto e, paulatinamente, comecei a tocar cada vez melhor e não perdi o posto."
Muitas pessoas que tentam entrar (ou reentrar) no mercado de trabalho descobriram ser útil se colocar no lugar onde se deseja estar, mesmo envolvendo um sacrifício monetário.
Robin Seligman-Schmidt, de Manhattan, tinha 52 anos quando decidiu procurar emprego na área que estudou na faculdade: arte e design de interiores. Ela começou fazendo trabalho voluntário no Instituto Leo Baeck, biblioteca de pesquisa em Nova York que abriga arquivos judaicos alemães e arte.
"Trabalhei com um curador fazendo catálogo e serviços diversos", ela contou, e isso a levou a um cargo remunerado como consultora de "Destino: Xangai", mostra de obras tendo como autores ou como tema judeus alemães e judeus austríacos que fugiram para a China durante a II Guerra Mundial, agora em exibição no Instituto.
"Sendo voluntária você pode encontrar algo totalmente diferente do que já fez ou pensou", foi o conselho de Seligman-Schmidt a pessoas de todas as idades em busca de emprego. "Faça alguma coisa para manter a mente trabalhando e, possivelmente, achará algo que realmente seja do seu interesse."
Retrabalhe o cérebro
Fox mostrou que, embora os circuitos cerebrais variem de uma pessoa para outra, é possível fortalecer o que ela chama de cérebro "ensolarado" e enfraquecer o "chuvoso".
Entre os métodos de "reciclagem" baseados na ciência descritos por ela no livro estão:
- Encare os medos de frente. Saia da zona de conforto para ajudar a eliminar o medo, ansiedade e pensamentos negativos que podem barrar o caminho do sucesso.
- Reavalie eventos da vida cotidiana. Diga a si mesmo que talvez as coisas não estejam tão ruins.
- Pratique uma meditação atenciosa. Deixe os sentimentos e pensamentos passarem pela mente sem julgar nem reagir a eles; isso ajuda a criar uma sensação de distanciamento das experiências negativas.
- Assuma o controle de como se sente em vez de deixar os sentimentos o controlarem. A sensação de que você comanda seu destino pode ajudá-lo a dar a volta por cima e maximizar a satisfação com a vida.
- Ria. Use os sentimentos positivos para deter os negativos.
- Entregue-se completamente. Envolva-se em atividades importantes para você, quer seja uma carreira, hobby, esporte ou voluntariado. Como diz Bill Richmond, faça. Depois aprenda a fazer.
The New York Times
Otimismo pode ser a receita para uma vida longa e bem sucedida
Livro destaca que pensamento positivo e atitude são fortes armas para combater a ideia de fracasso
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