O afeto dos pais traz benefícios fundamentais para o desenvolvimento da criança, tanto no campo social - aumentando sua capacidade de convívio -, quanto no âmbito emocional - levando à formação de uma personalidade terna e amorosa. A conclusão é de um estudo realizado pelo Departamento de Psiquiatria da Escola de Medicina da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, segundo o qual os meninos e meninas criados com carinho familiar costumam apresentar um hipocampo (área cerebral relacionada ao aprendizado) quase 10% maior que as demais.
A pesquisa, realizada por psiquiatras e neurocientistas da universidade, revela, pela primeira vez, uma relação entre o impacto do carinho na infância, as especificidades psicológicas e sociais desenvolvidas posteriormente e o tamanho dessa região do cérebro.
Para chegar às conclusões, os pesquisadores analisaram imagens cerebrais de 92 crianças de sete a 10 anos que já haviam sido avaliadas previamente entre os três e os seis anos. Quando eram mais novas, o vínculo afetivo delas com os pais, principalmente com a mãe, foi observado em momentos considerados estressantes, como a espera para abrir um presente desejado. A capacidade dos pais em acalmar o filho nessas circunstâncias foi o parâmetro utilizado para definir se o menino ou menina tinha uma criação afetuosa, já que a situação simula situações de ansiedade.
- O estudo é muito objetivo. Não analisamos os pais que se consideravam carinhosos. Nós nos baseamos, sobretudo, no comportamento deles e na extensão de seu carinho em condições adversas - explica Joan L. Luby, chefe do Programa de Desenvolvimento Emocional na Primeira Idade da universidade e uma das principais condutoras da pesquisa, publicada na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
Segundo ela, o carinho familiar auxilia também no combate ao estresse e à depressão. Joan ressalta ainda que o hipocampo pouco desenvolvido está relacionado à suscetibilidade da criança em desenvolver, principalmente na adolescência, problemas como o transtorno depressivo maior (TDM), que influencia o impacto e a abordagem terapêutica do transtorno de déficit de atenção e hiperativade (TDAH) em adultos.
Autoconfiança
Para a psicóloga Selma Afonso Nazaré, o toque de carinho, além de ser um ato "gostoso" em qualquer idade, estimula o corpo em diversos aspectos.
- Fisicamente, os sinais corporais, como a respiração, o sorriso e o olhar são beneficiados. Se levarmos em consideração o lado afetivo, a estabilidade emocional, a amabilidade, o humor, a autoconfiança e a serenidade são ressaltados durante a vida infantil. As crianças criadas em um ambiente carinhoso se desenvolvem psicossocialmente e se tornam mais saudáveis e interativas com os familiares e amigos da escola, estabelecendo vínculos afetivos em qualquer fase da vida - destaca.
A jornalista Sal Freire e o professor universitário Rodrigo Dantas, pais de João, 14 anos, lembram que a qualidade e quantidade dos carinhos trocados com o filho foi um dos elementos que proporcionaram a construção de um vínculo forte com ele. Desde que João era recém-nascido, a jornalista percebia sua capacidade de tranquilizá-lo em situações estressantes com um ato carinhoso.
- Hoje, ele já desenvolveu recursos próprios para superar momentos estressantes - completa.
Em família
Pesquisa relaciona a criação afetuosa com o desenvolvimento cerebral da criança
Carinho familiar auxilia também no combate à depressão
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