O Prêmio Nobel de Medicina foi entregue nesta segunda-feira (7) aos americanos Victor Ambros e Gary Ruvkun pela descoberta do microRNA, um novo tipo de molécula de RNA que desempenha um papel fundamental na atividade genética.
"É incrível!", disse Ruvkun à AFP por telefone depois de ouvir a notícia. O pesquisador especificou que ele e Ambros são amigos há anos:
— É magnífico e vamos comemorar como loucos — acrescentou.
O segundo laureado, o seu compatriota Victor Ambros, mostrou o mesmo entusiasmo.
— Uau! É incrível! Eu não sabia disso — disse ele ao repórter da rádio pública sueca SR, que lhe deu a boa notícia, já que o júri não havia conseguido contatá-lo antes.
A dupla foi responsável por estudos sobre a regulação gênica. Cada célula tem o mesmo número de cromossomos, portanto igual conjunto de genes e de instruções. É justamente a regulação gênica que permite que cada célula ative somente as instruções necessárias e ative o conjunto correto de genes.
Os pesquisadores descobriram o microRNA, uma nova classe de pequenas moléculas de RNA - os primeiros resultados de trabalhos nesse sentido foram publicados em 1993. Hoje, é sabido que o genoma humano envolve a codificação de mais de mil microRNAs.
Ambros, de 70 anos, é biólogo na Massachusetts Medical School, e Ruvkun, de 72 anos, é professor de genética na Harvard Medical School. Em 1993, publicaram as suas descobertas sobre "um novo nível de regulação dos genes" em dois artigos separados, que foram decisivos.
Além da medalha e do diploma, o prêmio traz uma recompensa de 11 milhões de coroas (cerca de R$ 5,79 milhões), que é dividida quando há vários vencedores.
Entenda a descoberta da dupla
Os dois pesquisadores se dedicaram a compreender como diferentes tipos de células se desenvolvem e descobriram os microRNAs.
"Sua descoberta revolucionária revelou um novo princípio de regulação genética que se mostrou fundamental para os organismos multicelulares, incluindo os humanos", afirma o comunicado.
Esta descoberta incentivou "muitos testes (que estão) em curso, não só contra o câncer, mas também contra outras doenças (...), porém, não há nada próximo de uma aplicação real", disse Gunilla Karlsson Hedestam, professora do Instituto Karolinska.
Eric Miska, geneticista da Universidade de Cambridge, destacou a importância do estudo das mutações celulares de C. elegans, realizado pelos dois biólogos.
"O mesmo pequeno RNA que se encontra neste verme e é importante para o seu desenvolvimento, é encontrado em você e em mim. E tem uma função importante, na verdade, acaba sendo um supressor tumoral", explicou.
Trabalhos em paralelo
Os dois pesquisadores, que colaboram entre si, mas trabalham separadamente, realizaram sua pesquisa utilizando um verme "C. elegans", de um milímetro, para determinar por que e quando ocorrem mutações celulares.
Cada célula contém os mesmos cromossomos e, portanto, exatamente o mesmo conjunto de genes e informações. A regulação genética permite que cada célula selecione apenas as informações relevantes.
Um "ano branco"
No ano passado, o Prêmio Nobel da Medicina foi atribuído à húngara Katalin Kariko e ao americano Drew Weissman pelo desenvolvimento da tecnologia de RNA mensageiro que abriu caminho às vacinas da Pfizer/BioNTech e Moderna contra a covid-19.
A atribuição destes prestigiados títulos continuará na terça-feira (8) com as premiações em Física, Química na quarta-feira (9), Literatura na quinta-feira (10), e da Paz, na sexta-feira (11). O prêmio de Economia, criado mais recentemente, encerra a série na próxima segunda-feira (14).
O Nobel da Paz, o de maior destaque, nunca foi tão difícil de prever, com catástrofes se multiplicando por todo o planeta.
Dan Smith, diretor do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri), é favorável a um "ano branco", ou seja, a não concessão do prêmio, como já aconteceu 19 vezes em toda sua história, a última em 1972, durante a Guerra do Vietnã:
— Talvez seja hora de dizer: "Sim, muitas pessoas trabalham muito, mas sem resultados e precisamos que mais pessoas e líderes mundiais acordem e percebam que estamos em uma situação extremamente perigosa".