Antes mesmo do aparecimento dos primeiros sintomas, a depressão expande a rede de saliência do cérebro, área responsável por comportamentos ligados à atenção e à motivação. É o que aponta um promissor estudo publicado em 4 de setembro na revista científica Nature.
A doença reorganiza a comunicação entre diferentes áreas do cérebro, com a expansão da rede de saliência frontoestriatal sobre outras importantes partes do córtex. Esta região é responsável por regular as respostas emocionais aos estímulos recebidos pelo cérebro.
O estudo aponta que a rede de saliência frontoestriatal apresenta expansão maior em pacientes com depressão quando comparada com os voluntários sem diagnóstico da doença. Os efeitos foram observados a partir da análise da atividade cerebral de 141 pacientes com a doença e de outros 37 sem.
— A principal descoberta é que existe uma expansão da área do córtex ocupada por uma rede cerebral chamada de rede de saliência. Antes não se sabia que condições clínicas da depressão pudessem expandir as redes cerebrais — explicou para a Deutsche Welle (DW) o neurocientista e especialista em depressão da University College London, Jonathan Roiser.
Durante sua expansão, a rede de saliência atua sobre outras importantes áreas do cérebro. Uma delas é parte do córtex responsável por decisões relacionadas ao esforço e à motivação, o que, segundo Roiser, pode explicar a aversão de pessoas com depressão à prática de atividades físicas.
A mesma atividade cerebral também foi observada em um grupo de crianças entre 10 e 12 anos que desenvolveram depressão no decorrer da adolescência, conforme os pesquisadores do estudo. Neste panorama, a descoberta é promissora e poderia se tornar um bioindicador da doença.
Para Emily Hird, neurocientista da University College London ouvida pela DW, os estudos ainda não são suficientes para apontar que as mudanças na atividade cerebral estão relacionadas exclusivamente a pensamentos depressivos. A fala de Roiser é mais direta:
— Não acredito que a depressão seja uma entidade homogênea do ponto de vista neurobiológico, portanto, não haverá um biomarcador único para ela.