A modelo e influenciadora Andressa Urach, 36 anos, relatou nesta semana ter realizado o procedimento de bifurcação de língua.
No Instagram, a criadora de conteúdo adulto afirmou que decidiu fazer a transformação para "potencializar os conteúdos e performances" e que agora está em recuperação.
A reportagem de Zero Hora buscou especialistas em saúde bucal para entender como é realizada essa cirurgia e quais são os possíveis riscos.
O que é a bifurcação de língua?
A bifurcação é um procedimento de modificação corporal em que a língua é dividida em duas partes, criando uma aparência que lembra a de serpentes. Não há indicações médicas para a prática, sendo realizada por motivos estéticos, culturais ou como uma forma de autoexpressão.
Segundo Marcelo Emir Requia Abreu, cirurgião de cabeça e pescoço do Serviço de Otorrinolaringologia do Grupo Hospital Conceição (GHC), esse procedimento deve ser feito idealmente sob anestesia e por um cirurgião habilitado.
— Muitos optam por realizar a cirurgia com artistas de modificação corporal, o que aumenta significativamente os riscos de complicações — reforça Bianca Abreu de Azevedo, dentista hospitalar e oncológica do Hospital São Lucas da PUCRS e do grupo Oncoclínicas de Porto Alegre.
Como é realizado o procedimento?
A cirurgia é feita a partir de um corte na região central da língua, chamada septo-lingual, onde há menos chances de lesão vascular.
Quais são os riscos relacionados à bifurcação de língua?
- Hemorragias e sangramentos: a língua tem uma rica rede de vasos sanguíneos. A cirurgia de bifurcação pode causar sangramento intenso e, em casos extremos, hemorragias.
- Infecções durante o processo operatório e pós: a cavidade oral é um ambiente naturalmente propício para infecções em razão de bactérias. Por isso, qualquer incisão ou ferimento na boca pode facilmente ser contaminado, levando a dores, edemas e drenagem purulenta.
- Alterações sensitivas e gustativas: durante a cirurgia, há risco de danos aos neurais da língua. Esses danos podem resultar em perda de sensibilidade, tornando a língua incapaz de sentir gosto ou temperatura adequadamente.
- Dificuldades na fala e na deglutição: a língua é essencial para a articulação da fala e para o processo de deglutição. Uma língua bifurcada pode comprometer a função normal, resultando em dificuldades na pronúncia de palavras e na mastigação e deglutição de alimentos. Essas dificuldades podem ser permanentes, dependendo da extensão da cirurgia e do processo cicatricial.
- Danos estéticos: a formação de tecido cicatricial é uma resposta fisiológica esperada a qualquer corte ou lesão. No caso da língua, a cicatrização pode ocorrer de forma anormal, levando à formação de aderências ou cicatrizes mais grossas do que o habitual. Isso pode afetar não somente a aparência, mas também a sua função, uma vez que esse tecido cicatricial pode restringir os movimentos da língua e causar desconforto a longo prazo.
*Fontes: Marcelo Emir Requia Abreu, cirurgião de cabeça e pescoço do Serviço de Otorrinolaringologia do Grupo Hospital Conceição (GHC), e Bianca Abreu de Azevedo, dentista hospitalar e oncológica do Hospital São Lucas da PUCRS e do grupo Oncoclínicas de Porto Alegre.
A bifurcação de língua é um procedimento reversível?
A cirurgia pode ser revertida, mas a reconstituição da língua é um processo complicado, que pode não restaurar totalmente a aparência e a função original do órgão, adverte a dentista.
— É essencial que seja considerado que, além dos riscos físicos, há também considerações psicológicas importantes em torno dessa mutilação na cavidade bucal. Muitas pessoas se arrependem dessa decisão, especialmente se encontram dificuldades significativas na fala, alimentação ou se enfrentam estigmas sociais. O que pode levar a problemas de autoestima, ansiedade e outras complicações psicológicas. É uma decisão que precisa ser tomada com cuidado — aconselha Bianca.