A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera o leite materno um “alimento de ouro” por conta de seus inúmeros nutrientes. A recomendação é que o aleitamento materno seja exclusivo até o sexto mês de vida e siga até, pelo menos, os dois anos de idade.
Para que isso se concretize, os cuidados devem começar ainda no pré-natal. O pediatra especialista em amamentação Roberto Issler, médico cooperado da Unimed Porto Alegre, destaca que o último trimestre da gravidez é um período propício para que o obstetra oriente a paciente sobre o assunto.
— No consultório, quando recebemos uma mãe e um bebê, estamos falando de indivíduos. Mas se multiplicarmos isso em termos de população, o impacto do aumento das taxas de aleitamento materno impacta na qualidade de vida e na saúde da população, em geral — indica Issler.
Mês dedicado ao aleitamento materno, o Agosto Dourado é parte de um programa de incentivo à prática que existe há décadas no Brasil, capitaneado pelo Ministério da Saúde.
O pediatra orienta que, para se ter sucesso na amamentação, é preciso que os primeiros momentos entre mãe e bebê sejam acompanhados por profissionais afinados nas orientações sobre o assunto.
No caso de bebês prematuros – que, muitas vezes precisam ficar internados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) –, há a possibilidade de ofertar o leite da mãe, o que garante uma recuperação mais rápida. Issler também lembra que não existe necessidade de horários rígidos para amamentar nem é preciso controlar o tempo das mamadas.
— O bebê deve mamar em livre demanda. O esvaziamento da mama estimula a produção do leite e, também, evita problemas como o ingurgitamento mamário, popularmente conhecido como leite empedrado, que causa dor e desconforto na hora de amamentar — explica o pediatra.
O baixo ganho de peso do bebê e a pequena produção de leite da mãe são temas que costumam tirar o sono das famílias. A chamada curva de crescimento, que contém as indicações de peso e altura de acordo com a idade, são um guia, mas o principal é avaliar a saúde e o biotipo dos bebês.
Issler orienta que o baixo ganho de peso pode ser causado por conta de intervalos longos entre as mamadas, assim como o cansaço materno e a pega incorreta.
— Em alguns casos, pode ser um bebê que tem uma condição física mais longilínea, mais magra, com um ganho de peso mais baixo, mas com um crescimento adequado — explica.
A influência da alimentação da mãe na amamentação também gera dúvidas, mas, segundo o pediatra, não há nenhuma restrição prévia, desde que os alimentos sejam de boa procedência. Evitar o álcool e o tabagismo é essencial.
O Ministério da Saúde também afirma que não existe comprovação de que alguma comida ou bebida aumente ou reduza a produção de leite materno.
Segundo o pediatra, há de se ter cuidado com algumas medicações, cujas fórmulas não são compatíveis com a amamentação. Para isso, Issler indica o site E-Lactancia, – um projeto da Asociación para la Promoción e Investigación científica y cultural de la Lactancia Materna, da Espanha – em que é possível pesquisar medicamentos e suas indicações para lactantes.
Fora de casa
Com uma licença-maternidade no Brasil com duração de 120 dias, muitas mães voltam ao trabalho ainda no período de aleitamento materno exclusivo.
Porém, o pediatra ressalta que não é necessário interromper a amamentação neste momento. A extração e oferta do leite materno, ou mesmo um intervalo mais longo para que a mulher possa amamentar, é um direito da trabalhadora e deve ser facilitado pelas empresas, escolas e creches.
— É possível ofertar o leite em copinhos e evitar o uso de mamadeiras e chupetas para não causar a chamada confusão de bicos, que pode prejudicar a sequência da amamentação – lembra Issler.
Mesmo com tantos benefícios e esforços para incentivar o aleitamento materno, muitas mulheres não conseguem amamentar. Nestes casos, o bebê pode usufruir do leite materno pasteurizado, oferecido pelos bancos de leite. No Estado, o Banco de Leite da Santa Casa de Porto Alegre é a principal referência, mas o Hospital Materno Infantil Presidente Vargas e o Hospital Fêmina também recebem doações.
Para encontrar um banco de leite humano, basta ligar para o telefone 136 ou acessar o site da Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano. Issler orienta que é preciso cuidado e acolhimento com as mães que não conseguem amamentar:
– Se uma mulher amamenta por dois meses, já é importante. É preciso tirar a culpa e a ideia de que uma mãe que não amamenta é menos mãe.
Dicas para uma boa amamentação
Posição do bebê
- Alinhar o corpo do bebê próximo ao da mãe e manter o corpo e a cabeça dele alinhados são ações fundamentais. As posições devem ser avaliadas constantemente e adaptadas de acordo com o conforto do bebê e a eficiência da amamentação
Pega correta
- Com a boca bem aberta, lábios inferior e superior virados para fora e o queixo tocando a mama, o bebê deve abocanhar a maior parte da aréola, e não somente o bico do seio. Essa é a chamada pega correta, que deve ser observada pelo pediatra em consultas
Limpeza das mamas
- Não é recomendado usar sabonete e outros produtos para lavar os mamilos, pois eles eliminam a oleosidade natural da pele, responsável pela proteção e hidratação do local. No entanto, é fundamental higienizar as mamas com água durante o banho para evitar a candidíase mamária e outras infecções
Horário
- A amamentação deve ser feita em livre demanda, sempre que o bebê quiser ou apresentar sinais de fome e sede
Hidratação
- É comum que as mulheres sintam sede ao amamentar. Mantenha por perto uma garrafa ou copo d’água
Orientação profissional
- Pode ajudar a prevenir casos como o empedramento do leite e rachaduras no mamilo
Fonte: Roberto Issler, pediatra especialista em amamentação, e Ministério da Saúde
* Produção: Padrinho Conteúdo