O Ministério da Saúde emitiu uma nota técnica com orientações para a vacinação da população vítima da enchente no Rio Grande do Sul. No documento, divulgado na quinta-feira (16), o órgão recomenda que apenas crianças, gestantes e pessoas com condições clínicas especiais sejam vacinadas contra Hepatite A. A Sociedade Gaúcha de Infectologia (SGI), porém, alerta para risco de aumento no número de casos da doença.
— A Hepatite A, na maior parte dos casos, é benigna e branda, sem sintomas. Somente em 1% dos casos pode evoluir para a falência total do fígado e o paciente pode precisar de transplante. É uma doença prevenível, então não tem por que não vacinar, ainda mais considerando que os casos podem aumentar porque estamos no meio do esgoto. Os voluntários e os desabrigados se beneficiariam do imunizante. Mas, perante a escassez de vacina, a orientação do Ministério da Saúde é compreensível e defensável — pontua o presidente da SGI, Alessandro Pasqualotto.
Além das crianças e das gestantes, devem receber o imunizante aquelas pessoas com hepatopatias crônicas, pessoas vivendo com HIV/aids, imunossuprimidos, pessoas cadastradas em programas de transplantes, entre outros.
Em caso de surto, isso é, a partir de dois casos laboratorialmente confirmados no mesmo abrigo, o Ministério da Saúde sugere o bloqueio vacinal. A estratégia consiste em realizar a vacinação da população acima de 10 anos de idade que vive no local. O problema, porém, é que, como Pasqualotto chama atenção, não há um grande estoque da vacina disponível para essas situações.
— Temos um estoque considerável. O Ministério da Saúde nos aportou as vacinas para o público-alvo de rotina, que são as crianças de um até cinco anos de idade, e para as pessoas que têm condições clínicas especiais. Agora, pedimos um aporte maior para vacinar as gestantes nos abrigos e para casos de surto. Se faltar, vamos ter que usar a dose pediátrica dobrada, porque o Brasil não dispõe de um grande quantitativo de vacinas da Hepatite A — explica a chefe da Divisão de Vigilância Epidemiológica do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVS), Roberta Vanacôr.
Por meio de um formulário de notificação, Roberta garante que a Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul (SES) irá acompanhar a evolução da Hepatite A e de outras doenças que podem ser causadas pelas enchentes no Rio Grande do Sul. As equipes de saúde que atendem nos abrigos podem notificar os casos que aparecerem para que a secretaria acompanhe e defina as ações necessárias.
Transmissão da doença
A Hepatite A preocupa os especialistas porque é uma infecção causada pelo vírus A da hepatite e a transmissão da doença ocorre, principalmente, pelo contato de fezes com a boca através de água ou alimentos contaminados e pela exposição a baixos níveis de saneamento básico e de higiene pessoal. O infectado pode apresentar sinais de fadiga, mal-estar, febre, náuseas, constipação ou diarreia, icterícia, urina escura e fezes claras. Os sintomas costumam aparecer de 15 a 50 dias após a infecção.
O tratamento para a doença é basicamente sintomático, com medicações que ajudem a aliviar as queixas do paciente. Para prevenir a doença, a recomendação é manter a vacinação em dia e evitar situações de risco.