As doenças preexistentes mais presentes em pessoas que morreram por dengue em 2024 no Rio Grande do Sul são hipertensão (56%), diabetes (18%), cardiopatia (18%) e doença pulmonar obstrutiva crônica (16%) — uma mesma pessoa pode ter mais de uma doença. É o que aponta nota informativa da Secretaria Estadual da Saúde (SES), com base em dados compilados pelo Centro Estadual de Vigilância em Saúde, que revelou o perfil dos óbitos por dengue no RS neste ano. Não houve relato de comorbidade em 16% das mortes.
Na tarde desta quinta-feira (18) a SES confirmou mais três óbitos pela dengue no Estado. Com isso, o RS já soma 81 óbitos pela doença. As vítimas de hoje eram uma mulher de 69 anos sem doença preexistente, e dois homens, de 67 e 92 anos, ambos com comorbidades. As doenças não foram divulgadas pela SES.
Entre os fatores identificados como causas que podem levar à morte por dengue estão: o não reconhecimento dos sinais de alarme pela população e pelos profissionais de saúde, procura tardia do paciente pelo serviço de saúde, manejo clínico inadequado, procura por várias vezes aos serviços de saúde, dificuldade de acesso e hidratação inadequada ou insuficiente.
— Isso é um cenário identificado no Brasil como um todo. Algumas falhas do indivíduo, que busca tardiamente, não reconhece os sintomas, não faz a hidratação adequada, assim como nas unidades onde a pessoa é atendida, também um pouco de falha no reconhecimento dos sintomas, às vezes uma alta precoce e a pessoa depois retorna com sinais de gravidade — avalia Marcelo Vallandro, diretor adjunto do Centro Estadual de Vigilância em Saúde.
Mais mortes entre idosos
Pessoas com 60 anos ou mais correspondem a 74,3% das mortes (58 vítimas fatais) por dengue em 2024 no Rio Grande do Sul. Para Fernando Spilki, virologista e professor da Universidade Feevale, o maior índice de mortes entre idosos está relacionado a fatores como as alterações do sistema imunológico provocadas pelo envelhecimento - a chamada imunossenescência - as doenças crônicas como diabetes e aquelas ligadas à circulação e infecções secundárias.
O especialista explica, no entanto, que os maiores riscos não estão associados somente aos mais velhos:
— Em termos de casos graves, não temos apenas os idosos. Muito recentemente se publicou artigo internacional demonstrando que as crianças, do ponto de vista da epidemiologia, são muito suscetíveis. Está demonstrado isso agora. E pacientes na faixa etária da população economicamente ativa, jovens adultos, a gente encontra uma porcentagem importante, mas aí relacionado a doenças crônicas — alerta o virologista.
É por haver casos graves entre crianças que elas são público-alvo prioritário a campanha nacional de vacinação. A ação do Ministério da Saúde (MS) distribuiu doses a 521 municípios selecionados - até o momento nenhuma cidade gaúcha recebeu imunizantes. Conforme estabelecido pelo MS, serão vacinadas as crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos, faixa etária que concentra maior número de hospitalização por dengue.
Sintomas e busca por atendimento médico
Conforme a nota informativa da Secretaria Estadual da Saúde, os sintomas mais frequentes entre quem morreu estão a febre (62%), dor muscular (58%), dor de cabeça (43%) e náuseas (43%).
A análise demonstra que os pacientes procuram em média, ao menos, duas vezes por atendimento até a internação ou suspeição de dengue. Esses pacientes demoram em média 2,6 dias após o início dos sintomas para procurar o primeiro atendimento e, após, cerca de 4,4 dias até ocorrer a hospitalização. Os óbitos acontecem em média 8,3 dias após o início dos primeiros sintomas.