De porta em porta na busca de larvas do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, chikungunya e zika vírus. Essa é a rotina dos agentes de combate a endemias em Porto Alegre, em meio ao aumento dos casos da doença. O trabalho tem como principal objetivo evitar a proliferação do mosquito e conscientizar a população, o que nem sempre é tarefa fácil.
GZH acompanhou o trabalho de uma equipe durante a manhã desta quarta-feira (27) pelas ruas dos bairros São Geraldo e Boa Vista, na zona norte da Capital. Os dois locais foram escolhidos para vistoria devido a confirmação de casos positivos de dengue na região.
Em 2024, Porto Alegre registrou até a última terça-feira (26) 1.034 casos da doença e um óbito, conforme monitoramento da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). A pasta municipal também considera que dos 46 bairros que possuem acompanhamento da proliferação do mosquito, 32 estão em estado crítico.
Usando colete identificador, crachá da prefeitura e equipamentos de proteção, como luvas e repelente, os profissionais tentam contato com cada um dos moradores. Logo no início do trabalho, o foco da ação já foi encontrado.
Larvas do mosquito transmissor foram localizadas dentro de um ralo externo, que absorve a água da chuva. A coleta surpreendeu a moradora, que não imaginava ter a presença do inseto no pátio de casa.
— As larvas do Aedes se movimentam em formato de um S e são bem agitadas — explicou o agente de endemias e facilitador do eixo norte da Vigilância em Saúde, Eurico Gomes.
Durante a retirada das larvas, os agentes já aproveitam para orientar os moradores. Entre as principais dicas estão:
- Cuidar dos pratinhos de plantas e, se possível, removê-los
- Desobstruir calhas para evitar acúmulo de água
- Utilizar telas milimétricas em ralos pluviais
- Manter as caixas d’água fechadas e colocar tela também no ladrão
- Evitar deixar objetos com pneus e garrafas expostos à chuva
A localização das larvas não ocorre em todas as visitas. Em muitas casas, os agentes cumprimentam os moradores pelos cuidados para evitar a proliferação do mosquito. Foi o que aconteceu na residência da aposentada Marisa Brugalli Carlesso, 75 anos. No local, os ralos têm telas e as dezenas de vasos de plantas espalhados pelo pátio não contavam com pratos.
— Eu gosto de manter a casa limpa, tenho as minhas plantações e estou sempre de olho. Desde que eu e meu marido viemos para cá, há 38 anos, sempre cuidamos de tudo. Isso é algo que se aprende desde criança — afirmou Marisa.
Resistência à visita preocupa
As recusas dos moradores para que os agentes de endemias façam a vistoria preocupam. Segundo o relato dos profissionais, a desconfiança aumenta quando a frequência das visitas fica mais intensa. Nos condomínios, o obstáculo está na burocracia para que os trabalhadores possam fazer a inspeção dos pontos.
O principal motivo para que a entrada dos agentes seja negada está na desconfiança de que seja algum golpe ou mesmo uma tentativa de assalto. Para isso, é importante observar se o agente está devidamente identificado, com colete e crachá (veja vídeo). Se ainda persistir dúvida, o morador pode fazer contato pelo telefone 156 e confirmar a matrícula do profissional.
Para auxiliar na confiança da população, soldados do exército têm acompanhado algumas equipes pela cidade.
— As pessoas podem dedicar um dia da semana para fazer uma geral no pátio para ver se tem algum foco do mosquito ou, ainda, sempre depois de um dia de chuva, para ver se ficou alguma coisa com água acumulada — ressaltou o agente de endemias Eurico Gomes.