Esta segunda-feira (11) marca os quatro anos de vigência oficial da pandemia provocada por um vírus novo e desafiador. Desde que a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu que a covid-19 representava uma ameaça global, o Brasil acumula 710 mil mortes — das quais 42,7 mil ocorreram em solo gaúcho. No ano passado, a entidade retirou a classificação de "emergência de saúde pública" em razão do recuo de diversos indicadores de gravidade, mas isso não significa que a pandemia deixou de existir.
Embora o avanço da vacinação siga derrubando o número de óbitos em comparação a outros períodos da doença, a contínua perda de vidas serve como lembrete da importância de manter o esquema vacinal em dia e proteger principalmente idosos e pessoas com imunidade comprometida, que formam o grupo de maior risco.
Dados do Ministério da Saúde mostram que 1.789 pessoas morreram entre 31 de dezembro do ano passado e 2 de março — período que engloba as primeiras nove semanas epidemiológicas deste ano com informações disponíveis em nível nacional. Semanas epidemiológicas são uma divisão de tempo utilizada para monitoramento de doenças que sempre se iniciam em um domingo e terminam no sábado seguinte.
O patamar atual corresponde, em média, à notificação de cerca de 200 novas vítimas a cada sete dias em todo o país. No Rio Grande do Sul, no mesmo período, a Secretaria Estadual da Saúde (SES) aponta 110 mortes, o equivalente a uma média de 12 por semana.
O aspecto positivo é que essas cifras representam uma queda significativa em comparação com a mesma época do ano passado. Houve um recuo de 70,8% nos óbitos verificados no Estado nos primeiros meses do ano, e de 67,2% em âmbito nacional em relação a 2023. As estatísticas oficiais apontam ainda um cenário de estabilidade ao longo das últimas semanas, embora o número de novas contaminações venha apresentando uma tendência de crescimento em razão do recente período de Carnaval e da retomada das atividades cotidianas pós-férias.
— Observamos que ainda temos ondas (de contaminação) em momentos que também se observava nos primeiros anos da pandemia, como no final de ano e na volta às atividades pós-Carnaval. Mas agora, felizmente, mesmo vendo elevação de casos, a magnitude dessas ondas é mais baixa, e elas têm um impacto muito menor. Devemos agradecer ao tempo decorrido, quando muitas pessoas já se infectaram, mas, principalmente, aos efeitos da vacinação, que foi um verdadeiro divisor de águas — analisa o virologista e professor da Universidade Feevale Fernando Spilki.
O epidemiologista da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Paulo Petry observa, porém, que esse recente salto na notificação de infecções deve servir de alerta para evitar que o número de vítimas aumente em um momento posterior. O número de novos casos passou de um patamar inferior a 1,5 mil registros semanais em janeiro para 6 mil na virada de fevereiro para março no Estado. Em todo o país, o salto foi de menos de 40 mil novos doentes por semana para 70,5 mil no mesmo intervalo.
— Em termos percentuais, o número de casos tem aumentado bastante, o que acende um sinal de alerta. Observamos que muitas pessoas negligenciaram aquelas doses de reforço (de vacina) e, ao negligenciar, as vacinas feitas anteriormente vão perdendo o efeito. Felizmente, os casos em pessoas vacinadas não têm evoluído para internação ou morte, mas acendem um alerta — avisa Petry.
A redução na proporção de mortes em relação ao número de casos registrados faz com que a letalidade da covid-19 venha paulatinamente caindo no Brasil. Ela é calculada como o percentual de casos notificados que resulta em óbito (como nem todas as infecções são contabilizadas oficialmente devido à subnotificação, costuma-se usar o termo "letalidade aparente").
— A letalidade aparente caiu quase pela metade em relação ao que era antes de ser introduzida a vacina. Tínhamos algo na faixa de 3% a 3,5%, enquanto hoje estamos na casa de 1,6%, 1,7%. Isso quer dizer que o vírus, e isso a gente percebe em laboratório, hoje afeta especialmente quem tem algum comprometimento de imunidade e, principalmente, idosos sem a vacinação completa. Continuam sendo suscetíveis e, são infelizmente, o grupo onde mais se observam óbitos — afirma o virologista Fernando Spilki.
Idosos apresentam maior risco, mas crianças também são vítimas
Um levantamento realizado pela Secretaria Estadual da Saúde (SES) demonstra que, das 54 mortes por coronavírus registradas em dezembro de 2023 no Rio Grande do Sul, 70% envolveram pessoas idosas. Mas isso não significa que outras faixas etárias estejam a salvo do vírus. Dados do Boletim Observa-Infância da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), divulgados pelo jornal Folha de S.Paulo, revelam que três crianças ou adolescentes até 14 anos de idade morrem a cada quatro dias no país em decorrência de complicações do coronavírus. O levantamento leva em conta as primeiras nove semanas do ano.
As 48 vítimas verificadas neste ano ficam bem abaixo do patamar de 326 óbitos observado no mesmo período de 2022, quando os imunizantes ainda não estavam disponíveis para o público infanto-juvenil, mas indicam que é preciso seguir ampliando a cobertura vacinal nessa faixa etária — até então de apenas 11%. O perfil de idade mais afetado foi o de zero a dois anos, com 26 registros de óbito.
Desde janeiro, no Rio Grande do Sul, a SES adotou a estratégia preconizada pelo Ministério da Saúde que prioriza a imunização dos grupos mais vulneráveis. Devem receber uma dose da vacina bivalente a cada seis meses as pessoas de 60 anos ou mais, imunocomprometidas, gestantes e puérperas que receberam uma última dose da vacina monovalente ou bivalente há mais de seis meses, independentemente do número e tipo de dose já realizada. Já quem integra outros grupos prioritários deve tomar a vacina bivalente anualmente.
Para as crianças de seis meses a cinco anos incompletos, a orientação é aplicar a primeira dose da vacina aos seis meses de idade, a segunda dose aos sete meses, e uma terceira dose aos nove (quem não se vacinou ou está em atraso pode completar o esquema). De cinco a 11 anos, se fizer parte de algum grupo prioritário, deve se vacinar. No Estado, levando-se em conta toda a população, a cobertura vacinal com esquema completo (incluindo reforço) está em 56%. Quando se considera apenas o modelo primário (duas doses ou dose única), a cifra vai para 84%.
Impacto acumulado da doença
Rio Grande do Sul
- Total de casos: 3.118.421
- Total de óbitos: 42.780
- Letalidade aparente: 1,4%
Brasil
- Total de casos: 38.592.310
- Total de óbitos: 710.427
- Letalidade aparente: 1,8%
Evolução recente
Mortes por semana epidemiológica em 2024
Rio Grande do Sul
- Semana 1 (31/12/2023 a 6/1/2024) - 13 óbitos
- Semana 2 (7/1 a 13/1) - 11
- Semana 3 (14/1 a 20/1) - 12
- Semana 4 (21/1 a 27/1) - 17
- Semana 5 (28/1 a 3/2) - 14
- Semana 6 (4/2 a 10/2) - 11
- Semana 7 (11/2 a 17/2) - 8
- Semana 8 (18/2 a 24/2) - 13
- Semana 9 (25/2 a 2/3) - 11
Total no período: 110
Total no mesmo intervalo de 2023: 377
Variação: -70,8%
Brasil
- Semana 1 (31/12/2023 a 6/1/2024) - 101 óbitos
- Semana 2 (7/1 a 13/1) - 260
- Semana 3 (14/1 a 20/1) - 196
- Semana 4 (21/1 a 27/1) - 212
- Semana 5 (28/1 a 3/2) - 194
- Semana 6 (4/2 a 10/2) - 164
- Semana 7 (11/2 a 17/2) - 198
- Semana 8 (18/2 a 24/2) - 211
- Semana 9 (25/2 a 2/3) - 253
Total no período: 1.789
Total no mesmo intervalo de 2023: 5.457
Variação: -67,2%
Fontes: Ministério da Saúde e Secretaria Estadual da Saúde do RS