Caracterizada por repetições motoras, gestuais e vocais frequentes e involuntárias, a síndrome de Tourette ainda é uma condição que gera desafios para quem a possui e para a medicina. Para algumas pessoas, conviver com a doença rara e sem cura causa constrangimento, mas as crises podem ser amenizadas com tratamento, opção recomendada por especialistas para melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
Há vezes em que não são só movimentos, mas vocalizações de palavras e até de obscenidades. Para a estudante de Porto Alegre Estefania Tabata Rodrigues Pereira, 21 anos, essas expressões acabam fazendo com que ela se isole e costume não sair tanto em público.
— Eu saio na rua, mas tenho medo. Qualquer coisa que possa acontecer me deixa nervosa de eu ter uma Tourette. O palavrão é pior. Porque sai bem alto. Fico com medo, porque vão achar que tu tá xingando outra pessoa, mas tu não tá — diz Estefania.
A jovem convive há 15 anos com os episódios de movimentos involuntários no corpo e na fala. Para ela, é algo interno e latente:
— Dá para sentir dentro, sabe? Parece que cresce. Eu consigo segurar meia hora, vinte minutos. Mas em algum momento, depois, eu tenho que ter. Quando vem, vai vir violentamente. E eu tenho que aguentar. Dá para adiar, mas não dá para fugir.
Segundo Carlos Rieder, neurologista e presidente da Academia Brasileira de Neurologia, a crise pode ocorrer em qualquer hora ou local. Isso porque "as áreas do cérebro, motoras, que tinham que estar inibidas, controladas, elas ficam em hiperatividade". No caso de quem sofre com a síndrome, as sensações e movimentações são mais fortes.
Para explicar a intensidade, Rieder faz uma comparação entre uma pessoa que pode deixar a vontade passar e aquelas que não têm como controlar.
— Às vezes, a gente tem vontade de coçar o nariz. A pessoa vai lá, passa a mão, mas, se controlar, fica desconfortável. Ela tem essa necessidade. No Tourette isso é uma maneira exagerada, normalmente sensitiva, de movimentar, coçar, ou sensorial de passar a mão nas regiões afetadas — diz.