Uma crise foi instalada na direção do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) desde a última quinta-feira (29), quando o vice-presidente Marcelo Matias deu início a uma série de afirmações em programas de televisão e publicações em redes sociais em que dizia ter sido "desligado" da função na entidade classista. Ele também teceu críticas à atual gestão do Simers, cujo presidente é Marcos Rovinski. A rusga é motivada, ao menos em parte, pela sucessão eleitoral do sindicato, que acontecerá no final de 2024, ainda sem data definida.
— Fui desligado hoje da vice-presidência do sindicato — afirmou Matias, na TV Pampa.
Em resposta, a direção do Simers publicou nota oficial em rede social na sexta-feira (1º), cujo conteúdo foi replicado a pedido da entidade na imprensa, para desmentir: "Simers não demitiu o dr. Marcelo Matias da vice-presidência da entidade, ao contrário do que ele próprio divulgou em suas redes sociais e em emissora aberta de televisão. (...) Ao tomarmos conhecimento desta manifestação pública, estamos buscando os meios administrativos e jurídicos a fim de obter esclarecimentos e retratação".
O fato é que houve um racha na direção do Simers, presidido desde 2019 pelo mesmo grupo político de médicos. Matias liderou o sindicato entre 2019 e 2021 e Rovinski o sucedeu, com mandato até o final de 2024. Na discussão sobre a sucessão, a maioria apontou para um novo nome que desagradou a Matias. Ele deve formar, agora, uma candidatura de oposição para o próximo pleito, embora não tenha definição se será o candidato a presidente ou apenas integrante da chapa. A cizânia foi consumada em uma reunião na quinta-feira, na sede do sindicato.
— A partir do final do ano passado, começou a movimentação do grupo para pensar um novo nome. A maioria não apoiou o doutor Matias. E ele quer ser o candidato a presidente. Muito provavelmente, em função disso, ele optou por esse afastamento, criando um momento muito estranho — diz Rovinski, que não concorrerá à reeleição.
Ele argumenta que um dos princípios do grupo político de médicos do qual faz parte é a "renovação" e "formação de novas lideranças". Rovinski ainda reclama que Matias estaria "antecipando a eleição" e destaca que "o momento é de defesa da reputação" do Simers.
Já Matias relata que, na reunião de quinta-feira, recebeu um "ultimato" da direção do sindicato, que queria saber se ele apoiaria o candidato escolhido pelo grupo ou se abriria dissidência.
— Eles é que estão antecipando a campanha eleitoral. A única coisa que fiz e seguirei fazendo é apontar que não concordo com coisas que estão sendo feitas. O presidente disse textualmente que eu não teria como continuar na gestão se participasse de uma chapa de oposição — afirma.
Matias não especifica os pontos de discórdia, mas tem reiterado críticas sobre supostos compromissos que teriam sido abandonados pela direção do sindicato.
— Se eu conseguir fazer parte de uma chapa, obrigatoriamente durante o processo eleitoral vamos deixar muito claro tudo o que foi se perdendo na gestão e hoje não existe mais — acrescenta.
Ele ainda reclama do suposto uso da estrutura "jurídica" e de "comunicação" do sindicato para distribuir a nota oficial após o episódio:
— Usam para me atacar. Isso caracteriza perseguição a alguém que faz parte da direção e tem o direito de tecer críticas. Não agredi e não ameacei ninguém.
Do ponto de vista formal, Matias continua sendo vice-presidente do Simers.
— Ele não foi afastado nem desligado. Sequer ele solicitou afastamento. É uma situação esdrúxula. Fomos tomados de surpresa pela maneira como ele se colocou na mídia — comentou Rovinski.
Ele afirmou que, caso receba um pedido formal de desligamento, irá acatar a saída de Matias da vice-presidência.
— Ninguém pode estar em um lugar sem ter vontade de estar — pondera Rovinski.
Pelo regulamento do Simers, o cargo de vice é de indicação do presidente. Mesmo que Matias deixe essa função, ele assegura que permanecerá como membro da gestão no cargo de diretor-geral, para o qual foi eleito na chapa.
O momento do Simers é delicado. Reuniões de diretoria executiva vinham sendo gravadas em áudio com frequência, o que poderá desencadear uma guerrilha virtual na categoria no período pré-eleitoral.