“Numa folha qualquer, eu desenho um sol amarelo”, já dizia a famosa canção, eternizada por Toquinho. Mais do que uma representação do poder da criatividade, a arte traz alívio e respiro. Neste sentido, o Hospital Moinhos de Vento promoveu, nesta quarta-feira (7), uma oficina de aquarela a pacientes oncológicas, em referência ao Dia Mundial do Câncer, celebrado no último dia 4.
Doze mulheres em tratamento receberam noções da técnica da designer e artista visual Mariana Prestes. A atividade reuniu pacientes em tratamento contra a doença na instituição e pessoas que tinham consulta na área no momento da ação. Uma delas é Lenir Romero, 72 anos, que se assustou, há alguns anos, com o aparecimento de nódulos em suas mamas.
— Fiz uma cirurgia, removi, mas não cheguei a ter câncer, foi uma situação rara. No entanto, estou sempre monitorando com exames periódicos — conta, sorridente.
Especialista na área têxtil e apaixonada por bordados, Lenir ouviu atentamente as orientações de Mariana e se emocionou ao revelar que a pintura que faria durante a oficina seria ofertada ao noivo de 84 anos, que conheceu há dois anos.
— As pessoas me perguntam “como assim, nem sabia que tinha namorado?”, mas entramos direto no noivado porque, na nossa idade, não podemos perder tempo — brinca.
Em tons de violeta, surgiram flores do pincel direto para a folha de papel canson — típica para aquarela — que Lenir e suas colegas de oficina receberam, as “oncofriends”, como uma delas chamou. Quanto ao casamento, ainda não está nos planos da professora de costura.
Viagens não esmaecem
Arquiteta aposentada da prefeitura de Porto Alegre, Virgínia Müzell, 72 anos, está sempre em busca de novos horizontes. Disposta a aprender, enxergou na oficina uma oportunidade de se dedicar a algo diferente.
— Foram muitos anos de trabalho, cuidar dos filhos. Chegou a hora de pensar em mim — diz a elegante senhora.
A arte tem uma questão terapêutica e, também, emocional.
MARIANA PRESTES
Designer e artista visual
Virgínia descobriu o câncer após um exame de rotina, em 2022. A cirurgia de remoção de um pequeno nódulo ocorreu, como um presente, em 11 de maio daquele ano, um dia antes de seu aniversário.
— Foram 16 sessões de quimioterapia e controle hormonal que tem duração total de cinco anos. Mas estou muito bem, faço exames com frequência e não paro de viajar — informa a arquiteta, mãe de dois filhos e avó de dois netos que moram na França, destino de Virgínia na próxima semana.
A paisagem que criou na oficina, um pôr do sol sobre uma praia radiante, não tem inspiração europeia. É da casa onde repousa em Garopaba, Santa Catarina, sua viagem mais recente.
Arte terapêutica
Parceira artística do hospital, Mariana Prestes já pintou cabeceiras de cama, painéis de corredor e mural de azulejos do bistrô da instituição. Segundo ela, é quando o seu trabalho encontra o propósito de levar bem-estar a quem está lá.
— Já ministro workshops e oficinas desde 2015, mas essa foi especial, neste formato. É bem emocionante ouvir as histórias de vida dos alunos, por que estão ali — pincela a designer, que também contou a sua própria vivência, quando sua mãe descobriu um câncer.
Além de um “colorido abraço” que Mariana dá aos frequentadores do Moinhos de Vento, a artista consegue compartilhar seus conhecimentos, outra alegria ao participar de ações como esta.
— A arte tem uma questão terapêutica e, também, emocional. Muitas pessoas nem imaginam que precisavam ter esse contato e vêm me dizer. Nesses workshops, recebo relatos de que querem continuar nessa que é uma espécie de terapia. Para algumas, até profissão — traduz Mariana.
Para a psicóloga do hospital, Jéssica Garcia, oficinas como a desta quarta-feira, mostram uma conexão das pacientes com suas demandas em relação à doença, mas, também, as emocionais.
— Manifestações artísticas dizem muito sobre a nossa vida, então, poder expressar isso a partir do desenho, música ou poesia, é muito positivo — pontua.