O setor de oncologia do Hospital Moinhos de Vento recebeu uma visita ilustre nesta semana. As salas e os corredores da área destinada ao tratamento de pacientes com câncer foram percorridos pelo Papai Noel, mas não um Papai Noel qualquer: o bom velhinho é o servidor público Darci Juarez de Campos Homem, de 72 anos, que também está na luta contra a doença.
Ele foi diagnosticado com câncer de próstata em maio deste ano. Iniciou um ciclo de radioterapias em novembro, no Moinhos. Depois de 28 sessões realizadas quase que diariamente, de segunda a sexta-feira, o tratamento foi finalizado na terça-feira (20), justamente o dia que ele escolheu para fazer a visita aos companheiros de batalha.
Foi um dia para Papai Noel nenhum botar defeito, pois o idoso atua profissionalmente como o bom velhinho desde 2015. Começou por indicação de um ex-colega que já trabalhava na função e não estava conseguindo dar conta da demanda do período natalino. Precisava de mais alguém para dividir os eventos. Barbudo e extrovertido, Darci era um candidato perfeito para ajudar a suprir a procura. E iniciou assim, como quem não quer nada, mas nunca mais parou.
A agenda neste período do ano é corrida, ele confessa, mas estava decidido a reservar uma data para a ação desde o início do acompanhamento no Moinhos. Decidiu fazê-la no dia da última sessão para celebrar esta primeira vitória contra a doença, agradecer à equipe da instituição e, de quebra, levar uma mensagem de esperança a quem segue em tratamento. Deu tão certo que ele já planeja transformar a visita em tradição anual.
— Pretendo comparecer todos os anos, no dia 20 de dezembro, como Papai Noel. É uma data que ficou marcada na minha vida e nada mais justo do que eu dar essa contribuição. É uma forma de agradecer ao acolhimento que deram para mim e minha esposa, pois parecia que eu nem estava fazendo um tratamento. O hospital se tornou uma extensão do nosso lar — conta Darci.
A visita foi idealizada por ele e pela enfermeira Luciane Borelli Finatto, que atua junto ao setor de radioterapia do hospital. Foi Luciane que, ao saber da função peculiar exercida pelo paciente, sugeriu que ele desse uma palinha de sua versão Noel na instituição. Bom velhinho que é, Darci aceitou de primeira.
A sugestão dada pela profissional não foi à toa: trabalhando na área oncológica há alguns anos, Luciane sabe o quanto ações como essas podem ajudar a quem luta contra um câncer. Isso ficou ainda mais claro durante a visita, ela conta.
— A gente acha que a figura do Papai Noel é simbólica só para as crianças, mas para os adultos também, principalmente diante desta fragilidade. Receber um diagnóstico como esse é muito assustador, pois a pessoa precisa traçar uma outra estratégia para a sua vida, lidar com a ansiedade, com a ameaça da morte. Não é fácil. Então, foi muito importante para eles (pacientes) esse acolhimento — diz a enfermeira, salientando que o momento também foi um alento para a equipe do hospital. — Ele veio com o saco cheio de amor e carinho. Foi muito gratificante para a gente que trabalhou o ano todo. É algo que reafirma que, além de entregar alta tecnologia e qualidade no atendimento, nós somos pessoas cuidando de pessoas.
O próprio Papai Noel seguirá sob os cuidados dos profissionais da instituição por mais algum tempo. Concluído o ciclo de radioterapias, Darci passará por exames para avaliar como a doença reagiu ao tratamento. Pode ser que a batalha contra o câncer de próstata ainda persista, mas ele está confiante de que já conseguiu vencê-la.
— A palavra câncer te derruba só de ouvi-la, mas a gente tem duas opções: morrer ou fazer o que tiver que ser feito para viver. Por isso não fiquei abalado. Permaneci confiante desde o início, sempre com muita fé — afirma o idoso.
Questionado sobre o presente que gostaria de entregar neste Natal, pediu para deixar uma mensagem:
— Às vezes os homens só fazem o exame quando "a água já está no nariz". Por isso, a mensagem que eu quero deixar é esta: faça o exame, deixe de machismo, deixe de preconceito. Eu sempre fiz todos os meus exames necessários, por isso estou aqui. Quem procura, acha, mas acha a prevenção e a cura. E eu creio que Deus já me curou.