Em 23 de fevereiro de 1989 o recém-nascido Álvaro Luís Gonçalves Santos tornava-se um marco na medicina do Rio Grande do Sul. Ele é o primeiro gaúcho concebido por meio de reprodução assistida (ou “bebê de laboratório”) na história. Aos 35 anos, ele relembrou para GZH essa história e relatou como está sua vida hoje.
Depois de ter estudado por dias, noites, fins de semana e feriados, o hoje auditor da Secretaria da Fazenda do RS passou em 25 concursos e agora tem o emprego de seus sonhos, trabalhando no combate à corrupção. Vencida esta etapa, ele diz perseguir hoje o objetivo almejado por seus pais mais de três décadas atrás: ter filhos.
A gravidez de sua mãe, Iara dos Santos, foi um sucesso na primeira tentativa e abriu caminho para uma longa trajetória de desenvolvimento de técnicas de reprodução no Estado. O procedimento foi capa da Zero Hora em 24 de fevereiro de 1989.
O nascimento de Álvaro foi fruto da técnica GIFT (Transferência Intratubária de Gametas, em português). O método de reprodução assistida consiste em remover os óvulos, unir com esperma e imediatamente colocá-los nas trompas da mulher. A GIFT é complexa e já caiu em desuso, mas foi suficiente para a concepção de Álvaro na primeira tentativa. Na época Iara tinha 26 anos e tentava ter um filho desde os 19, mas, por ter endometriose, não conseguia.
— A gente queria que ela conseguisse na primeira tentativa, mas era muito difícil — diz o médico chefe da equipe responsável pelo procedimento, Álvaro Petracco.
Foi em homenagem ao médico que Álvaro recebeu seu primeiro nome. Já o Luís faz referência ao pai, João Luís Santos.
A reprodução assistida sempre foi um tema muito presente nas conversas da família. Por meio dela, quatro anos depois, Iara conseguiu ter uma segunda filha. A primeira gravidez aumentou seus níveis de progesterona, hormônio que tem capacidade de tratar a endometriose, explica Petracco. De acordo com o médico, por esse motivo, outras gestações naturais são comuns em mulheres que passaram por reprodução assistida.
Planos de constituir família
É justamente com sua irmã caçula, Gabriela, que Álvaro vai comemorar seu aniversário de 35 anos. Ele vai celebrar em São Paulo, cidade onde ela mora. A data marca uma busca por novos objetivos de vida.
Álvaro nasceu em Porto Alegre, mas morou em Imbé até os 17 anos, quando se mudou novamente para estudar Economia. Depois de formado, dedicou sete anos de sua vida aos estudos para concursos. Foi em 2021 que chegou ao lugar que sempre quis estar: a Seção de Integridade e Combate à Corrupção da Contadoria e Auditoria-Geral do Estado (CAGE). Agora, além de ter o objetivo de fazer mestrado na Áustria e posteriormente entrar em um doutorado, sonha em encontrar a mulher que será sua esposa e ter filhos.
— Para mim é o sentido da vida — comenta — Quero como meu pai teve, menino mais velho e menina mais nova. Esse seria o ideal.
A reprodução em laboratório continua sendo um tema constante na vida de Álvaro. Até hoje os médicos são próximos à família e recomendados pelo auditor quando amigos estão na tentativa de ter filhos. Também é um assunto usado como "quebra-gelo" e curiosidade em entrevistas de emprego, dinâmicas de grupo e conversas com amigos.
Avanços de técnicas e Inteligência Artificial
De acordo com Petracco, a repercussão do caso de Álvaro ajudou a desmistificar os processos de reprodução assistida para o público em geral. Hoje, quase 7 mil bebês já nasceram por meio de tratamentos da clínica em que o médico atua, a Fertilitat. Com o avanço das tecnologias, os resultados têm sido melhores. Os tratamentos hoje também são mais acessíveis, apesar de ainda serem dispendiosos, principalmente por conta do uso de medicamentos importados.
Outra questão que desenvolveu o tratamento, aponta Petracco, é o uso de Inteligência Artificial. Hoje, incubadoras usam o recurso para identificar os embriões de melhor qualidade para a gravidez. A tecnologia se alimenta com os próprios resultados das fertilizações, para identificar quais são as características que aumentam a chance de sucesso.
O êxito do procedimento depende da idade da paciente e da condição que a impede de engravidar. Mulheres mais jovens têm melhores resultados. A média de sucesso é de 50% por tentativa, diz o médico.