Um estudo realizado por pesquisadores do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, demonstrou a eficácia de um medicamento composto na prevenção de acidente vascular cerebral (AVC) e demência. Os pacientes tiveram redução de 13 milímetros na pressão máxima e de 6 milímetros na mínima. A expectativa é incorporar a medicação ao Sistema Único de Saúde (SUS) em 2025.
As polipílulas, que reúnem duas substâncias para pressão alta e uma para colesterol em um único medicamento, reduziram a pressão arterial em pacientes com risco baixo ou moderado. O resultado foi positivo especialmente naquelas pessoas que tinham maiores chances de doenças vasculares. Os dados da primeira etapa do projeto foram apresentados na manhã desta quarta-feira (13).
— Essa polipílula está sendo avaliada para ver se, reduzindo a pressão, reduz o risco de AVC e demência. Sabemos que baixar 2 mm da pressão material já tem uma redução de 10% no risco de AVC — explica a líder do projeto e chefe do Serviço de Neurologia e Neurocirurgia, Sheila Martins.
Segundo Sheila, a expectativa é de que, no longo prazo, a medicação possa reduzir o risco de AVC e de declínio cognitivo. As avaliações ainda demostraram efeitos da pílula na prevenção de infarto do coração e morte cardiovascular.
O projeto tem parceria do Ministério da Saúde e iniciou em agosto de 2021. Ao longo da pesquisa, foram avaliados 421 participantes. Destes, 371 foram randomizados, quando os pacientes não eram informados se estavam recebendo a polipílula ou o placebo (sem princípio ativo).
A polipílula está sendo monitorada pela Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e um laboratório brasileiro já está fazendo a produção inicial do medicamento, segundo a equipe pesquisadora.
O que é a polipílula?
O medicamento usado no estudo é uma pílula composta por dois remédios: um para a pressão alta e outro para colesterol.
— Estamos nos preparando para um grande estudo expandindo para todo o Brasil. Esse mesmo ensaio clínico será feito com mais de 8 mil pacientes e, então, verificando não só se baixa a pressão, mas realmente medindo se reduz AVC e declínio cognitivo. E como desfecho secundário, AVC, declínio cognitivo, infarto e morte cardiovascular — diz Sheila.
O AVC é causado por uma alteração súbita da circulação cerebral e pode ser isquêmico – quando entorta um vaso sanguíneo cerebral e falta sangue em determinada região – ou hemorrágico – quando um vaso é rompido e espalha sangue. Ambos os tipos têm como principal fator de risco a pressão alta.
"Sabemos que a pressão acima de 115/75 já tem um aumento progressivo, à medida que vai aumentando, do risco de ocorrer AVC, também de infarto do coração e de morte cardiovascular", esclarece a médica.
Os medicamentos disponíveis atualmente costumam ser prescritos a partir da pressão no nível de 140/90. No estudo, participaram pessoas com risco moderado ou baixo de AVC, com a pressão máxima entre 120 e 139, e que tenham combinado mais um fator modificável, como fumo, obesidade, alimentação não saudável e sedentarismo.