Jairo e Gabriel são gêmeos siameses que nasceram em dezembro do ano passado, um de costas para o outro, unidos pelo final da coluna. O parto foi realizado em Porto Alegre pela equipe do Hospital Conceição. Após separação cirúrgica, eles receberam alta hospitalar.
Após um mês do nascimento, os pais abriram mão da guarda dos bebês. Eles acabaram ficando aos cuidados da equipe de enfermagem, enquanto esperavam pela cirurgia de separação.
De acordo com o chefe de neurocirurgia da instituição Samir dos Santos, o caso dos gêmeos é incomum. Durante os estudos, os médicos encontraram um caso semelhante no Japão. Segundo a cirurgiã pediátrica Melissa Migotto Silva, o primeiro caso desse tipo foi registrado em 1956.
— A gente descobriu que era um caso raro, de um para 200 mil nascidos e, dentro desses tipos de união, a deles é em torno de 20% — afirma Santos.
De acordo com Melissa, esse tipo de união é o sétimo caso registrado na literatura. Jairo e Gabriel são o quarto mais parecido com os outros mundialmente.
Adoção
O destino das crianças era incerto. Sem famílias interessadas na adoção, eles poderiam parar em uma instituição de acolhimento.
Em janeiro deste ano, Estela Baumgarten e Patrícia Maldonado começaram com o processo de adoção. O casal queria ter filhos desde o dia que se conheceram. Em junho, com todos os papéis em mãos, elas enxergaram no Aplicativo do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) os dois rostinhos que mudaram suas vidas.
— Quando eu olhei, eu não sei descrever muito bem o que senti naquele momento, mas já me deu uma emoção muito grande, como se já conhecesse eles de alguma forma. Quando eu vi a foto, eu só conseguia chorar e dizia que eles eram os nossos filhos — diz Estela.
A separação
Quando as crianças completaram seis meses, os médicos entenderam que eles estavam prontos para a separação. Uma simulação foi feita usando dois bonecos, que reproduziam a forma como eles estavam unidos.
No dia 29 de junho o procedimento começou. Foram 19h de cirurgia e mais de 70 profissionais foram mobilizados. A primeira equipe separou os gêmeos sem comprometer as funções neurológicas e os movimentos de pés e pernas. A segunda equipe reconstituiu os intestinos. Já a terceira, os órgãos sexuais e a parte urinária.
— É algo muito inusitado. Havia uma pressão porque era um caso muito complexo — fala o neurocirurgião.
O urologista Ivan Denardi foi quem fez a separação total dos gêmeos e afirma que foi "uma emoção".
O encontro das mães com os filhos aconteceu 15 dias após a cirurgia.
— Não tem nem como explicar. Não tem como descrever — fala Estela.
Os dois já estão em casa. Jairo ainda vai passar por mais uma cirurgia para fechar o intestino.
— A gente queria isso. A gente esperou por isso. A gente está disposta — finaliza Estela.