Na internet e em farmácias, multiplicam-se anúncios e recomendações de reposição de colágeno por meio da ingestão de cápsulas, pó ou em outros formatos – em alguns casos, contendo ainda outros componentes, como ácido hialurônico, vitaminas e minerais. Chamam atenção os altos custos dessa proteína, que, muitas vezes, é associada a promessas de resultados milagrosos e certeiros para a pele. No entanto, ainda que seja possível suplementá-la oralmente, há formas mais eficazes de repor a substância, segundo especialistas.
O colágeno é uma molécula de proteína que atua na promoção da firmeza da pele e dos tecidos conjuntivos, como tendões e ligamentos, além de estar presente nos ossos e nas articulações, explica Mariele Bevilaqua, dermatologista do Hospital Moinhos de Vento. Também pode auxiliar na cicatrização de feridas, sendo indicado em pós-operatórios de cirurgia plástica, por exemplo.
A reposição do colágeno pode ser indicada por uma gama de profissionais da área da saúde, como dermatologistas, nutrólogos, nutricionistas, endocrinologistas, reumatologistas, ortopedistas e cirurgiões plásticos.
É possível tomar colágeno?
Há três tipos de colágeno: o 1 atua na firmeza da pele, e o 2 e 3, principalmente, nas articulações – vale lembrar que o tipo que beneficia a articulação não serve para a pele, e vice-versa. Existem várias formulações de colágeno para reposição, inclusive a suplementação via oral. Ela atua ativando fibroblastos, células produtoras de colágeno que estão presentes na pele.
— A gente repõe de forma oral especialmente os peptídeos de colágenos, que são moléculas menores capazes de serem absorvidas via intestinal e atuar diretamente no tecido, especialmente na pele. Não adianta tomar gelatina, que é uma molécula grande, achando que vai ter o mesmo efeito — explica Mariele.
Além disso, suplementar o colágeno significa melhorar o aporte de aminoácidos na dieta – ou seja, está relacionado ao subsídio de proteínas, segundo a médica nutróloga Carolina Dias da Costa Morales.
— Os benefícios estarão relacionados ao tipo de colágeno escolhido para reposição — afirma.
Em relação à pele, também é possível fazer a aplicação de bioestimuladores injetáveis de colágeno – substâncias industriais que vão agir sob a pele, na atividade do fibroblasto. Isso faz com que o paciente, cerca de 30 a 90 dias após a aplicação, estimule essa ação celular para a produção de colágeno pelo organismo de uma forma natural.
Quando suplementar colágeno via oral?
Como suplemento, o colágeno é mais um aliado nos cuidados em relação ao envelhecimento, seja da pele, seja do tecido osteomuscular. Contudo, não se trata de um tratamento milagroso, alerta a nutróloga.
Para a dermatologista do Hospital Moinhos de Vento, é mais importante suplementar colágeno via oral quando é realizado o procedimento estético de aplicação de bioestimuladores ou outros que também visam estimular o colágeno, como laser ou preenchimento cutâneo com ácido hialurônico. Assim, recomenda-se iniciar a suplementação oral um mês antes, para que quando o procedimento seja feito, já existam alguns fibroblastos ativados, alcançando uma produção própria natural e com melhores resultados do que apenas suplementando via oral.
Neste sentido, entre as opções de reposição, a que surte mais efeito é o procedimento estético. Apenas a suplementação oral isoladamente não é suficiente, pois atua como um auxiliar, conforme as especialistas.
Só tomar todo dia, existe evidência científica, mas não tão contundente que, do meu ponto de vista, valha a pena. Mas, às vezes, o paciente não quer fazer um procedimento estético, se contenta com a melhora superficial, e aí vale repor.
MARIELE BEVILAQUA
DERMATOLOGISTA DO HOSPITAL MOINHOS DE VENTO
— Estudos demonstram que, após 12 semanas de suplementação dos peptídeos de colágeno, existe uma melhoria na qualidade da pele, nas rugas finas, brilho, textura, mas a firmeza é muito maior quando o paciente faz o procedimento — explica Mariele.
Além disso, a suplementação só terá valor se o aporte de proteínas individualizado estiver sendo suficiente, frisa a nutróloga Carolina. Para garantir os benefícios, também é preciso avaliar se quem está utilizando a suplementação tem uma alimentação que garanta a quantidade básica de nutrientes.
Contudo, a suplementação oral pode ser indicada para pacientes que não conseguem ter uma alimentação tão rica em proteínas, ou que tenham alguma restrição alimentar ou doenças que prejudiquem a absorção dos nutrientes. A reposição oral também pode ser recomendada ao alto consumidor proteico, como um esportista de alta performance, que acaba gastando mais colágeno e envelhecendo precocemente.
Vale a pena suplementar colágeno?
Para a dermatologista, ingerir colágeno vale a pena se há interesse estético na melhora da qualidade da pele e será realizado o procedimento estético.
— Só tomar todo dia, existe evidência científica, mas não tão contundente que, do meu ponto de vista, valha a pena. Mas, às vezes, o paciente não quer fazer um procedimento estético, se contenta com a melhora superficial, e aí vale repor. Tem de avaliar o risco-benefício, pois um bom peptídeo custa em torno de R$ 150 — expõe Mariele.
Na visão de Carolina, a suplementação de colágeno via oral é uma alternativa, mas, justamente pelo custo, a nutróloga considera importante alinhar as expectativas dos pacientes ao resultado real que uma suplementação pode trazer.
— Por exemplo, ele pode melhorar o viço da pele, e isso é ótimo, mas não é capaz de gerar um resultado surpreendente em relação à melhora da sustentação e da flacidez, por exemplo — alerta.
Como tomar colágeno
É preciso observar o produto antes de comprá-lo, pois há alguns de procedência duvidosa no mercado, como a venda a granel, sem qualquer cuidado, lembra a dermatologista. O mesmo é válido para a associação do colágeno com outras formulações, como ácido hialurônico, vitaminas e minerais. Além disso, pacientes com insuficiência renal devem ter aval do nefrologista para suplementar.
Também é necessário consumir a quantidade adequada – o recomendado, considerando efeitos para a pele, são 2,5g de peptídeo colágeno tipo verisol e 10g tipo peptan. É indicado tomar com água, suco, chá ou iogurte. Além disso, há uma melhor absorção se for ingerido com vitamina C. Os demais tipos de colágeno (para articulações ou suplementação proteica) terão outras dosagens. Recomenda-se procurar um especialista para avaliar a necessidade de suplementação com base no objetivo do paciente e no histórico médico.
Confira mitos e verdades sobre o colágeno, segundo as especialistas:
Mitos sobre colágeno
- Apenas tomando colágeno a pele ficará mais jovem, com rejuvenescimento e resultados tão impactantes quanto aqueles obtidos por meio de procedimentos estéticos ou muito além das expectativas do que um suplemento oral possa entregar
- Colágeno engorda – ele pode, inclusive, auxiliar no processo de emagrecimento, pois possui fibras
- Todo colágeno é igual
- O gosto é ruim – pode não ser palatável, mas já existem formulações em pó, goma, cafés e shots que auxiliam na ingestão
Verdades sobre colágeno
- Funciona – no caso da suplementação, desde que aliado a outros estímulos, como bioestimuladores, preenchedores com ácido hialurônico, laser, entre outros procedimentos
- As tecnologias estão cada vez melhores, facilitando a absorção do colágeno e permitindo sua chegada aos mais diversos tecidos-alvo
- É melhor absorvido quando consumido com antioxidantes, como vitamina C (um suco cítrico, por exemplo), que também atuam combatendo o processo de envelhecimento
- Não adianta ingerir colágeno e manter maus hábitos de saúde, como se expor em excesso ao sol, não se alimentar ou dormir adequadamente e levar uma vida estressante e uma dieta rica em açúcar