A Organização Mundial da Saúde (OMS) iniciou, nesta quinta-feira (17), sua primeira cúpula de medicina tradicional, na Índia, alertando que esses tratamentos alternativos baseados em produtos naturais são eficazes apenas se forem baseados em evidências científicas.
A cúpula de dois dias acontece à margem de uma reunião dos ministros da saúde do G20 na cidade indiana de Gandhinagar.
O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, declarou na abertura da cúpula que a agência da ONU "está trabalhando para criar dados e evidências que sirvam de base para políticas, normas e regulamentos para um uso seguro, rentável e equitativo da medicina tradicional". A medicina tradicional pode aliviar as "lacunas de acesso" aos cuidados de saúde, mas tem valor apenas se for usada "de forma adequada, eficaz e, acima de tudo, com base em evidências científicas", afirmou.
A agência foi amplamente criticada pelos internautas, que a acusaram de ter dado validade científica à pseudociência ao perguntar a seus seguidores se eles haviam recorrido a tratamentos como a homeopatia, ou a naturopatia.
A OMS indicou posteriormente na rede social X (antes chamada Twitter) que estava ciente das "preocupações" manifestadas pelas pessoas e admitiu que "poderia ter articulado melhor (a sua) mensagem".
— Precisamos enfrentar um fato muito importante, que as medicinas tradicionais são amplamente utilizadas — disse o chefe do Conselho Científico da OMS, o prêmio Nobel Harold Varmus, em uma mensagem de vídeo durante a cúpula.
— É importante entender quais são os ingredientes das medicinas tradicionais, por que eles funcionam em alguns casos [...] e, mais importante, precisamos entender e identificar quais medicinas tradicionais não funcionam — disse ele.
A cúpula, que deve se tornar um evento anual, ocorre após a inauguração do Centro Global de Medicina Tradicional da OMS, no mesmo estado indiano de Gujarat.
Pouca regulamentação
O uso dessas técnicas é muito difundido em algumas partes do mundo, mas também é objeto de divergências. A agência de saúde da ONU define medicina tradicional como o conhecimento, habilidades e práticas usadas para manter a saúde e prevenir, diagnosticar e tratar doenças físicas e mentais.
Mas a eficácia de muitos tratamentos não foi comprovada cientificamente e os defensores da natureza alertam que a indústria alimenta o comércio de espécies ameaçadas, como tigres, rinocerontes e pangolins.
O uso de remédios caseiros cresceu durante a pandemia de covid-19, como uma infusão de artemísia promovida pelo presidente de Madagascar como tratamento. Embora a planta tenha propriedades curativas contra a malária, sua eficácia contra a covid-19 é contestada por muitos médicos.
Na China, a medicina tradicional está profundamente enraizada, mas os órgãos de saúde europeus pedem, repetidamente, que esteja sujeita à mesma regulamentação que os métodos ocidentais.
"Os avanços científicos na medicina tradicional devem seguir os mesmos padrões rigorosos de outras áreas da saúde", disse o pesquisador-chefe da OMS, John Reeder, em comunicado. Segundo ele, isso provavelmente requer uma nova metodologia "mais holística e contextual" para fornecer "evidências suficientemente conclusivas e robustas".
Dos 194 países da OMS, 170 reconhecem a medicina tradicional desde 2018, mas apenas 124 têm leis ou regulamentos sobre seu uso.
"Natural nem sempre significa seguro, e séculos de uso não são garantia de eficácia. Portanto, o método e o processo científicos devem ser aplicados para fornecer as evidências sólidas necessárias", afirmou a OMS.
A agência afirma que 40% dos medicamentos aprovados atualmente em uso derivam de uma "base de produtos naturais" e cita "medicamentos fundamentais" que vêm da medicina tradicional, como a aspirina, feita de fórmulas de casca de salgueiro.
* AFP