Conforme o boletim mais recente divulgado pela Secretaria Estadual da Saúde (SES), 39,44% dos pacientes hospitalizados em 2023 por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) são crianças. O número total de hospitalizações de todas as faixas etárias diminuiu em comparação a 2022, de 17.896 para 7.114. Porém, o de crianças cresceu de 2.279 para 2.806, representando um aumento de 23,12% em comparação com o mesmo período do ano passado.
O Rio Grande do Sul se encontra em estado de emergência em saúde pública, decretado pelo governo estadual nesta quinta-feira (6), em razão do aumento do número de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em crianças. Até o último dia 10 de junho, o Estado apresentava 2.806 casos dessa síndrome em pacientes de 0 a 11 anos, sendo 642 internações em UTI.
A SRAG decorre do agravamento de doenças respiratórias, caracterizando-se por uma dificuldade respiratória. As principais causas costumam ser vírus respiratórios, como o sincicial respiratório (VSR), principalmente em crianças, a influenza A e B e o coronavírus — os três são os mais prevalentes e perigosos. Para o vírus sincicial respiratório (VSR), ainda não há uma vacina disponível no Brasil.
Os especialistas explicam que a ocorrência da síndrome depende da suscetibilidade individual de cada organismo. Contudo, crianças menores de dois anos e idosos, por terem uma imunidade reduzida, são mais suscetíveis à SRAG. Liana Corrêa, pneumologista do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), explica que as crianças têm uma via aérea menor, e com a inflamação na parede do brônquio, ele acaba ficando mais estreito, o que resulta em falta de ar. Já os idosos, por terem uma imunidade mais reduzida e outras comorbidades, acabam tendo um quadro de maior gravidade quando são acometidos pela SRAG.
Conforme o pneumologista Gilberto Fischer, coordenador do Serviço de Pneumologia Pediátrica do Hospital da Criança Santo Antônio, da Santa Casa de Porto Alegre, as crianças enfrentam uma sequência natural de infecções respiratórias virais no início da vida e, desta maneira, desenvolvem uma resposta imunológica. O problema é que, durante a pandemia, por ficarem isoladas, elas deixaram de vivenciar as infecções comuns a sua faixa etária.
— De uma hora para a outra, com a volta às atividades escolares e sociais, começou a acontecer a primeira experiência, ao mesmo tempo, de várias crianças. Crianças de um, dois, três e quatro anos estão vivendo ao mesmo tempo a infecção respiratória, e aí, com isso, acumulou o número de casos — explica Fischer, ressaltando que a adaptação dos vírus também está atrelada à gravidade dos casos.
Liana acrescenta ainda que as crianças não utilizam máscaras na escola — um ambiente "extremamente fechado" nesta época, para evitar exposição ao frio, o que impede a circulação de ar. Esses fatores somam-se ao uso precário de álcool gel pelos pequenos, que também costumam passar a mão na boca e encostar em colegas.
— Essa é uma época que eu sempre digo para os pais: fica tranquilo que, por ano, vai pegar mais ou menos umas quinze infecções. É no mínimo uma por mês — ressalta Liana.
Como prevenir
As infecções são naturais, por isso os especialistas afirmam que não há como evitá-las totalmente, mas compartilham dicas para tentar reduzir o alto número de casos atualmente verificado no Estado:
- Permitir a circulação de ar nos ambientes, com janelas abertas
- Estimular o uso de álcool gel, tanto em adultos quanto em crianças
- Atualizar o calendário vacinal contra a influenza, coronavírus e todas as vacinas infantis indicadas, como sarampo, difteria, tétano, entre outras, diminuindo o risco de outras infecções. Contra pneumonia, para idosos e pacientes com problemas respiratórios ou crônicos, com recomendação médica
- Redobrar os cuidados perto de crianças com menos de um ano e de idosos, utilizando máscara e álcool gel, buscando protegê-los
- Evitar visitas a prematuros e recém-nascidos
- Manter uma boa alimentação
- Reforçar a hidratação de idosos
Quando buscar atendimento médico e emergência
Sinais de alerta para procurar uma emergência em uma síndrome gripal, segundo especialistas:
- Dificuldade para respirar ou respiração muito acelerada
- Cianose - lábio roxo ou extremidades roxas
- Dor no peito
- Confusão mental, com falas desconexas, ou sonolência, tanto em crianças quanto em adultos
- Vômito ou inapetência, quando não aceitando líquidos nem comidas
No caso de sintomas leves, a orientação é procurar um consultório médico, mas não necessariamente uma emergência. Isso muda quando há dificuldade em respirar.
— Dificuldade respiratória é emergência. Muitas vezes é ansiedade, mas essa é a recomendação — recomenda Liana.
— Quando o seu pediatra tem disponibilidade ou o posto de saúde tem disponibilidade para diferenciar uma síndrome gripal leve de uma grave, seria importante, para não acumular pessoas nos hospitais — pondera Fischer.