O Rio Grande do Sul começa a conhecer, andar por andar, o resultado de um grandioso investimento em saúde. O Hospital Nora Teixeira, mais nova unidade do Complexo Hospitalar da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, foi viabilizado pelo aporte de R$ 80 milhões do casal de empresários Alexandre Grendene e Nora Teixeira, cofundador da empresa de calçados Grendene e sócia da Casa NTX de eventos de luxo, respectivamente, para a emergência com atendimento totalmente vinculado ao Sistema Único de Saúde (SUS). O projeto vem sendo levado adiante por famílias e empresas, além do Palácio Piratini.
Até outubro, quando a instituição celebra 220 anos, devem estar concluídos os 15 andares do prédio que prima pela contemporaneidade, focado no bem-estar de pacientes e acompanhantes. Do orçamento total de R$ 284 milhões, R$ 220 milhões já foram captados.
A ideia do projeto começou pela emergência, primeiro setor a ser concluído, e operante desde outubro de 2022. Depois, ganhou pavimentos acima e abaixo. Com exceção da emergência, todas as demais áreas assistenciais do prédio são destinadas ao atendimento de pacientes de convênios médicos elegíveis e particulares. O objetivo maior é ampliar a capacidade de sustentabilidade do SUS como um todo na instituição. Ou seja, o Hospital Nora Teixeira levantará recursos para garantir os serviços, de forma sustentável, de sua porção gratuita.
— Queremos reduzir o prejuízo que temos com o SUS (estimado em R$ 150 milhões anuais). Nossa missão é atender o SUS, mas tem que ser viável — explica o cirurgião cardiovascular Fernando Lucchese, diretor médico dos hospitais Nora Teixeira, São Francisco e Criança Santo Antônio.
Na última segunda-feira (29), a reportagem de GZH percorreu as instalações do Nora Teixeira. A visita começou pelo quarto andar, reservado a internações, que recebe pacientes desde o início de maio. Dali até o nono, todos os pavimentos têm a mesma finalidade e se assemelham. Cada área de internação tem uma especialidade médica de ênfase – no nono piso, por exemplo, estará a cardiologia. Um sistema de farmácia eletrônica tem dispensários eletrônicos e está interligado aos prontuários. Todos os quartos, que lembram mais as instalações de um hotel de alto padrão, e não as de uma instituição de saúde, podem ganhar mais leitos e, em caso de necessidade, passarem de privativos a semiprivativos. Um lounge conta com minicopa e área de estar com mesas, sofás e bancada para computadores.
Os fluxos para pacientes e colaboradores/serviços são separados, cada grupo tem acesso a um corredor. Dessa forma, foi possível manter a parte assistencial livre da movimentação e dos ruídos típicos de um hospital. A central de hotelaria pode ser acessada a partir de um QR code disponibilizado no quarto.
No terceiro andar, está a unidade de terapia intensiva (UTI), que terá parte da operação iniciada em 3 de julho. Serão 20 leitos para adultos, com vista para a rua e possibilidade de presença do acompanhante durante as 24 horas do dia. Entre os destaques, estão as camas, conectadas à central de enfermagem e capazes de pesar e movimentar o paciente (troca de decúbito), e um mecanismo com trilho no teto que possibilitará a movimentação dos internados — do leito para a sala de fisioterapia, levando junto o respirador, se necessário, sem fazer o uso de cadeira de rodas. Todos os quartos dispõem de espaço para a realização de diálise contínua.
— Será um ambiente de alta tecnologia, com o que tem de mais moderno hoje no mundo — destaca Gisele Nader Bastos, diretora de Operações da Santa Casa.
O Centro de Oncologia ocupará o segundo andar, com salas para exames e infusão de medicamentos. Uma figura fará toda a diferença: a chamada enfermeira navegadora facilitará os processos para os pacientes, tomando conta do fluxo de procedimentos a serem realizados.
No primeiro andar, ficará a maternidade, onde também serão realizadas cirurgias intrauterinas. O térreo abrigará o grande hall de entrada, com projeto do arquiteto paulista Sig Bergamin e um piano Steinway que toca sozinho, comprado em Nova York pelo equivalente a R$ 1 milhão. Diante de uma ampla janela, haverá café e restaurante, que estão em fase final de escolha a partir de carta-convite. O hall estará no mesmo nível da Praça Alexandre Grendene, no lado exterior.
A Rua da Saúde, que começa no Centro Histórico-Cultural e vai até a entrada principal do Nora Teixeira, será destinada a deslocamentos a pé, sob uma imensa cobertura de 3.998 metros quadrados em aço e vidro — a ideia da estrutura foi concebida por um escritório local, com desenvolvimento tocado por uma empresa alemã, resultando na utilização de 1,6 mil placas de vidro de tamanhos específicos. O térreo e a Rua da Saúde são os dois pontos do projeto que ainda aguardam interessados em ser doadores.
Os andares no subsolo concentram áreas de apoio: cadeia de nutrição, com produção da alimentação para pacientes e restaurante para colaboradores (subsolo dois); estacionamento para clientes (subsolo três); cadeia de suprimentos para o complexo (subsolos quatro e cinco).
Uma passarela já em uso interliga todas as oito unidades da Santa Casa e o edifício garagem, com mil vagas de estacionamento. As vias, com vista para o exterior, são climatizadas. Faltam três trechos a serem inaugurados.
Entre as famílias que permitiram concluir o hospital, estão as de Santina De Carli Zaffari, Irineu Boff, Ling Sheun Ming, João Jacob Vontobel, Regina e Hermes Gazzola, Caio Poester e Renato Bastos Ribeiro. Josapar/Real Empreendimentos e JBS integram a relação de empresas doadoras. A contribuição decisiva da sociedade é marcante desde os primórdios do complexo, que já soma mais de dois séculos. Todos os hospitais, agora em um total de oito, foram construídos com doações de pessoas, empresas e poder público.
Véra Lucia Maciel Barroso, historiadora e coordenadora do Arquivo Histórico da Santa Casa, doutora em História, ressalta a importância decisiva da benemerência:
— Não só a estrutura física dos hospitais como também os serviços dentro dos prédios e dos pavilhões foram doados pelas mãos da comunidade. A comunidade banca a modernização, o bloco cirúrgico, a implementação dos aparelhos. A comunidade ergueu e fez, ao longo do tempo, toda a construção e a organização da Santa Casa.
A partir do início da obra que deu início ao que ganhou forma como o Hospital Nora Teixeira, em 2019, o complexo hospitalar, como um todo, recebeu R$ 500 milhões em investimentos. Até outubro, o montante chegará a R$ 600 milhões, contemplando todo o Nora Teixeira, a Rua da Saúde, as passarelas, melhorias em equipamentos, reformas em ambientes de internação do SUS e de convênios, entre outras iniciativas.
A oitava unidade, que demandará 1 mil novos funcionários, foi a propulsora para o incremento de praticamente todas as demais, segundo Jader Pires, diretor administrativo da Santa Casa.
— Foi um upgrade muito importante. A Santa Casa melhorou como um todo. O Nora Teixeira chega em um momento em que a Santa Casa está valorizada — avalia Pires, um dos guias do tour para a equipe de GZH:
— Isso aqui tudo só existe por uma coisa: a proposta da instituição de manter o foco em todos, mas sempre o maior possível no SUS — complementa.
Números
- Valor total da obra: R$ 284 milhões
- Valor captado até o momento: R$ 220 milhões (inclui R$ 15 milhões do governo do Estado, destinados especificamente à emergência SUS)
- 15 andares, dos quais 9 para internação
- UTI adulto com 20 leitos