A suspeita de um caso de influenza aviária em humano no Espírito Santo, após um homem ter tido contato com aves silvestres contaminadas no parque onde trabalha, acendeu um sinal de alerta. Além do caso ainda sem confirmação, outros 32 funcionários do parque também estão sob monitoramento. Contudo, especialistas alertam que a situação está controlada e que não há motivo para preocupação.
A influenza aviária A (H5N1) é uma doença de origem zoonótica, e os hospedeiros naturais são aves. A transmissão ocorre por meio de contato com aves doentes, vivas ou mortas. O vírus foi encontrado pela primeira vez em 1996 na China e, desde então, tem evoluído, conforme Helena Lage Ferreira, professora da Universidade de São Paulo (USP) e presidente da Sociedade Brasileira de Virologia (SBV).
Em 2020, na Europa, o microrganismo sofreu uma mudança genética e se tornou estável, espalhando-se para a Ásia, América e África. Ele chegou à América do Sul no final de 2022, mas foi identificado pela primeira vez no Brasil neste mês.
— Esse vírus se multiplica muito bem nas aves silvestres e é disseminado durante a migração delas pelos países, em busca de condições melhores para reprodução e alimentação. É o movimento normal dessas aves, mas elas acabam disseminando o vírus — explica a professora.
O H5N1 está adaptado aos animais, reforçam os especialistas. Contudo, por estar disseminado pelo mundo, há uma chance maior de exposição humana. Mas ainda que o vírus já tenha sido encontrado em diversos países e milhões de aves tenham sido infectadas nos últimos dois anos, além de várias espécies de mamíferos, houve apenas 11 relatos de infecção em humanos.
— Todas as pessoas que se infectaram tiveram contato direto com aves infectadas, e não houve nenhum relato de transmissão entre as pessoas, o que significa que o vírus não é capaz de ser transmissível entre pessoas — pontua Helena.
Os subtipos de influenza que circulam atualmente entre humanos são H1N1 e H3N2. Em geral, casos com vírus aviários, como o H5N1, ocorrem quando uma pessoa tem muito contato com o vírus, se expondo a uma grande quantidade. Os pacientes costumam apresentar sintomas gripais leves. No entanto, é preciso permanecer alerta, pois o quadro varia de indivíduo para indivíduo, e a doença já causou mortes humanas.
Entretanto, o H5N1 ainda não aprendeu a se adaptar a todos os humanos, de modo que possa ser transmitido de um para outro, explica o virologista Paulo Roehe, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Risco de nova pandemia é baixo
A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera que o risco de uma nova pandemia, ocasionada por esse vírus, até o momento, é baixo. Porém, o órgão recomenda ações de vigilância genômica, como o monitoramento da circulação e de possíveis mutações do vírus. Isso se justifica, conforme a presidente da SBV, porque quanto mais ele se espalha e se replica nos animais, infectando especialmente mamíferos, mais aumenta o risco de uma possível adaptação do vírus para mamíferos — incluindo humanos.
— Em princípio, não há a preocupação de que o vírus H5N1 venha a infectar humanos, até o momento. Mas, claro que, como vírus estão sujeitos a mutações, é possível que venha a se adaptar a células humanas, e aí, poderia ser transmitido entre humanos, não precisaria mais de aves — esclarece o professor Roehe.
Contudo, esse cenário ainda é algo distante. Portanto, no momento não há motivo para preocupação entre a população em geral, ressaltam os especialistas.
— Não há a preocupação de que a doença venha a causar uma pandemia porque esse risco ocorre quando o vírus se adapta a transmitir com facilidade entre humanos, e até o momento não há evidência de que isso ocorreu — complementa.
Mesmo assim, há o receio de que eventuais mutações poderiam causar uma crise sanitária global, como no caso da gripe espanhola de 1918, com um vírus influenza H1N1, de origem aviária, lembra Roehe. O patógeno se difundiu com grande força, resultando em ao menos 50 milhões de mortos.
— É o grande medo dos virologistas e epidemiologistas, que a gente venha a ter de enfrentar um vírus que possa vir a representar uma ameaça como aquela. A gente sempre tem essa preocupação — afirma.
Já o risco de transmissão para outras aves persiste. Há receio, em relação à avicultura, de que o vírus seja introduzido em aves domésticas e aviários comerciais, o que poderia prejudicar a exportação e, consequentemente, a economia brasileira.
Precauções
Os especialistas ressaltam que a preocupação, neste momento, deve ser em relação a manter distância de animais doentes, especialmente aves. Caso alguém encontre algum animal morto, a orientação é não entrar em contato e chamar o serviço veterinário oficial, para realizar a coleta do material. Além disso, se for visitar algum local onde há animais e, posteriormente, apresentar sintomas respiratórios, é necessário procurar um serviço de saúde.
É importante lembrar que o vírus não foi encontrado em aves comerciais, que servem como alimento, então, atualmente, não deve haver receio com a segurança de produtos oriundos de aves. Ainda, de acordo com a professora Helena, o H5N1 é inativado com o cozimento, portanto o frango cozido adequadamente é seguro para o consumo, assim como os ovos.
Além disso, é preciso permanecer sempre alerta para infecções respiratórias, adotando medidas permanentes, como o uso de máscara quando há manifestações de sintomas e evitando aglomerações, de modo a diminuir a disseminação dos vírus em geral. Lavar as mãos com água e sabão ou utilizar álcool gel, além de evitar compartilhar objetos pessoais também são cuidados fundamentais. A vacinação contra influenza, por sua vez, ainda que não seja específica para H5N1, também ajuda no reforço da imunidade.