Os próximos 60 dias serão cruciais para a continuidade da prestação de serviços do único hospital de Viamão, na Região Metropolitana. Segundo o diretor-executivo, Leandro Santos, nesse período, é preciso encontrar uma solução para a crise financeira da instituição. Caso contrário, mais serviços poderão ser reduzidos.
Os atendimentos de traumato-ortopedia foram encerrados em março porque o Instituto de Cardiologia, administrador do local, não tinha mais condições de pagar a equipe. Sem detalhar números, Santos explica o cenário de dificuldades. Ele conta que o Instituto de Cardiologia já acionou a prefeitura e o governo do Estado para que os demais atendimentos sejam mantidos.
— O recurso recebido não cobre os custos para a prestação de serviços. Essa diferença vem acumulando um déficit que foi coberto por muito tempo pelo Instituto de Cardiologia. Nesse momento, o déficit tem um valor que nós não estamos mais conseguindo manter os serviços — comenta o diretor-executivo.
Santos diz que uma portaria ministerial, a ser recebida nos próximos dias, destinará recursos que permitirão “tranquilidade” ao hospital, mas apenas por dois meses. Para depois, será preciso encontrar uma alternativa.
Mobilização política
O deputado estadual Valdir Bonatto (PSDB), ex-prefeito de Viamão, diz estar articulando reuniões nesta semana com a Secretaria Estadual de Saúde (SES) para identificar o que pode ser feito. Questionado se recebeu a informação de que o hospital pode fechar totalmente, ele não confirma. Porém, o político afirma que todos as partes envolvidas têm trabalhado para que isso não aconteça.
— O hospital alega dificuldade financeira. O que o IPE paga é muito aquém do que efetivamente é o custo dos atendimentos, assim como o que o SUS paga. Isso para quem trabalha em média e alta complexidade é complicado. O Hospital de Viamão não pode fechar. É claro que não podemos dar as costas para o problema, mas não temos a leitura de que vai fechar — avalia Bonatto.
O que dizem a prefeitura e o governo do Estado
Por meio de nota enviada à reportagem, a prefeitura de Viamão diz que se preocupa “muito” com a situação do hospital e que mantém “diálogo permanente com a Secretaria Estadual de Saúde, buscando a garantia do não fechamento do hospital”. “Nossa posição e nossos movimentos são para não deixar que o hospital feche”, completa o texto.
A SES repassa R$ 4.622.589,41 por mês ao hospital. O valor, no entanto, é considerado insuficiente pelo Instituto de Cardiologia. Quanto aos serviços de traumato-ortopedia, a SES informa que Porto Alegre é a referência para os moradores de Viamão, como ocorre para as cidades de Alvorada, Triunfo, Barra do Ribeiro, Guaíba e Eldorado do Sul.
Há tratativas com o Hospital Regional de Guaíba para que, em breve, a instituição se torne referência para Guaíba, Eldorado do Sul e Barra do Ribeiro, a fim de reequilibrar a demanda que, no momento, recai somente sobre a Capital.
Além da área de traumato-ortopedia, os serviços contratados pelo Estado no Hospital de Viamão são: internações clínicas, leitos de saúde mental, procedimentos cirúrgicos na área de cirurgia do aparelho digestivo, procedimentos de oftalmologia, exames para diagnóstico, atendimentos de urgência, hemoterapia e pequenas cirurgias.
Confira na íntegra a nota da Prefeitura de Viamão
"Ao longo dos últimos dois anos, a Prefeitura de Viamão vem fazendo uma série de investimentos, dentro da sua responsabilidade que é a atenção básica, uma vez que a gestão do SUS é tripartite, e a média e alta complexidade são responsabilidades do Estado e da União.
Nesse contexto, fizemos importantes investimentos para o sistema como um todo, o que inclui o Hospital Viamão.
Viamão possui hoje 20 Unidades de Saúde, 1 Unidade de Pronto Atendimento (UPA 24H) e o Centro de Especialidades, num total de 500 funcionários e com serviços funcionando a pleno. Somente nos primeiros três meses de 2023, já foram realizados 74.175 atendimentos.
Além disso, a UPA Viamão está operando acima da capacidade de atendimento, com 29.046 pessoas atendidas nos primeiros três meses de 2023, um aumento de 20% em relação ao mesmo período de 2022.
Três Unidades de Saúde (Águas Claras, Santa Isabel e São Lucas), atendem até as 20 horas, de segunda a sexta-feira
Em relação direta ao Hospital, além da qualificação e aumento de atendimentos da rede, implantamos uma unidade de saúde dentro do prédio do Hospital, desde maio de 2021. Nela, os usuários de pulseiras azul ou verde que chegam na emergência do hospital são atendidos pela equipe da Prefeitura, ajudando a desafogar a emergência. Em 2022, foram 9.451pessoas atendidas.
Além disso, implantamos o Melhor em Casa, programa que desde março de 2021, atendeu 248 pacientes e auxiliou a desocupar 140 leitos do Hospital, antecipando a alta hospitalar, oferecendo atendimento no seu domicílio.
A Prefeitura de Viamão investiu 24% de seu orçamento em saúde em 2022, cerca de 77 milhões de reais, qualificando e ampliando serviços e, com isso, auxiliando o sistema como um todo.
Nos preocupamos muito com a situação do Hospital e estamos mantendo diálogo permanente com a Secretaria Estadual de Saúde, buscando a garantia do não fechamento do Hospital. Nossa posição e nossos movimentos são para não deixar que o hospital feche."