Correção: a fila de cem pessoas aguardando no Instituto de Cardiologia diz respeito à espera por colocação de marca-passo e de cardio desfibrilador implantável, e não a procedimentos no geral como publicado entre às 18h27min e às 20h05min de 17 de março. O texto foi corrigido.
Responsável por cerca de 60% dos atendimentos cardiológicos de Porto Alegre e recebendo pacientes de todo o Rio Grande do Sul, o Instituto de Cardiologia vem enfrentando grandes dificuldades para realização de procedimentos que envolvem o Sistema Único de Saúde (SUS). Conforme a instituição, 99 pessoas aguardam para a realização de cirurgias de ajuste no marca-passo e de Cardio Desfibrilador Implantável (CDI).
Deste total, 33 pacientes estão internadas e 66 são consideradas ambulatoriais - estão em casa, mas seguem sendo acompanhados pelos médicos. No momento, o Instituto não tem previsão de quando os procedimentos serão realizados pela falta de recursos para compra dos equipamentos.
O hospital viu os problemas financeiros crescerem após o Ministério da Saúde (MS)atualizar, em 2021, a tabela de repasse para compra de equipamentos cardiológicos com uma redução dos valores. Na tabela, por exemplo, um desfibrilador é cotado a R$ 18 mil. No entanto, os fornecedores cobram cerca de R$ 50 mil dos hospitais.
— Nós não estamos deixando de fazer esses procedimentos. Em todo ano, fazemos em média, 11 mil cirurgias de colocação de stents. Somos uma referência para o Estado e um hospital de ensino. Se hoje pedimos ajuda é porque temos pacientes na fila, aguardando meses por um procedimento — afirmou a preceptora de residentes e médica cardiologista do Instituto de Cardiologia, Miriana Gomes.
Para tentar arrecadar recursos, o Instituto abriu uma vaquinha com o nome "Seja um amigo do Instituto de Cardiologia". O hospital não divulga o valor do prejuízo já contabilizado desde que houve a correção na tabela por parte do MS.
Embora não seja possível acompanhar a trajetória de cada um dos pacientes, a fila que vem sendo registrada no Cardiologia pode impactar a lotação de outras emergências de Porto Alegre, como dos hospitais Conceição e Clínicas.
— Não temos contato com outros hospitais, mas o Instituto de Cardiologia é responsável por atender a maior parte de Porto Alegre e até de outros municípios e, infelizmente, não conseguimos atender todos. A nossa fila já está muito grande — avaliou a médica Miriana Gomes.
GZH entrou em contato com o Ministério da Saúde e aguarda por um posicionamento. Já a Secretaria Estadual da Saúde (SES) afirmou que envia incentivos às instituições filantrópicas para o atendimento de entrada na urgência, UTIs e transplantes. Ainda, a pasta ressaltou que o Instituto de Cardiologia teve um aumento de 14% no novo programa de incentivos, em um valor de cerca de R$ 6,8 milhões.
A SES ainda ressaltou que aguarda pelo repasse do Ministério da Saúde que foi anunciado em uma portaria ainda no início do mês de fevereiro, no valor de cerca de R$ 7,2 milhões.
Já a Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre (SMS) informou que está ciente do problema e foi o primeiro órgão a sinalizar junto ao Ministério da Saúde, em julho de 2022, a dificuldade com a tabela de preços SUS para os equipamentos cardiológicos. A SMS afirma ainda que, diante da prestação de contas do hospital, realiza o pagamento da diferença de valores.