Pouco mais de três décadas após o início da pandemia de aids, a ciência ainda não chegou à cura para a doença e também não conseguiu uma vacina. No Dia Mundial de Combate à aids, celebrado nesta quinta-feira (1º), vale lembrar que os tratamentos e terapias evoluíram a tal ponto que, atualmente, é possível chegar no que os médicos chamam de I=I, ou seja, indetectável = intransmissível.
Desde 1996, o Brasil distribui gratuitamente os medicamentos antirretrovirais que trabalham no combate ao vírus HIV, causador da aids. No início, os então chamados “coquetéis” continham 10 a 15 comprimidos que precisam ser ingeridos diariamente. Já nos dias atuais, essa quantidade é reduzida e pode chegar a ser de apenas dois comprimidos por dia.
Especialistas recomendam esquemas padronizados para tratamento do HIV, com um ou dois comprimidos. Existem esquemas que são tratados até com apenas um comprimido ao dia, em combinação de três antirretrovirais. Com isso, há redução dos efeitos colaterais.
O Ministério da Saúde oferece 22 medicamentos hoje, com 38 apresentações farmacêuticas diferentes, como os comprimidos ou frascos, sachês, entre outros.
O infectologista e professor da Escola de Medicina da PUCRS, Diego Falci, foi consultado por GZH para explicar como funciona a ação dos medicamentos.
O vírus HIV utiliza suas proteínas para atingir as células de defesa do organismo. Logo, o objetivo da medicação é, em diferentes etapas, coibir esse efeito.
— O principal foco é diminuir a replicação do vírus. Dessa maneira, ele é mantido fora de um estágio de atividade e fica “adormecido”. Ele vai para locais considerados reservatórios, chamados de “santuários”, como em tecidos ou órgãos, como o cérebro — explica.
Após cerca de quatro a oito semanas fazendo o tratamento, o paciente já pode começar a apresentar a carga viral mais baixa. Depois que a replicação viral é suprimida, é quando se chega ao estágio de indetectável.
No sangue, a carga viral não aparece mais e os exames não conseguem encontrar o vírus porque a taxa de concentração dele é muito baixa.
A partir disso, o corpo começa a se recuperar e restaurar suas defesas, já que o alvo do vírus está nas células do sistema imunológico. A principal delas, chamada célula CD4, é uma espécie de general do sistema imunológico. Quando essa categoria se fortalece, o organismo começa a dar uma boa resposta.
Ainda que o vírus fique adormecido com o uso dos remédios, isso não significa que o paciente estará curado. Por isso, o HIV pode voltar a se replicar no corpo da pessoa caso o tratamento seja interrompido. O ideal, segundo Falci, é fazer o exame de detecção viral no mínimo a cada seis meses e, claro, seguir à risca o roteiro de medicações.
Estudos mostram que aqueles que estão com carga viral indetectável concentram um número tão baixo de vírus no sangue que passam a não mais transmiti-lo aos seus parceiros fixos. Porém, conforme Falci, há algumas ressalvas.
— Com outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), o conceito já não se aplica de maneira direta. Nessas situações, como gonorreia, sífilis, podem haver sangramentos que podem aumentar o risco de transmissão, então é preciso que haja esse cuidado — explica o médico.
A mesma indicação vale também para outras formas de transmissão do vírus, como por via sanguínea ou amamentação. Atualmente, as mães que tem aids não podem amamentar mesmo que estejam com carga indetectável.