A poucos dias do início do verão, o Rio Grande do Sul passa por um aumento nos casos de covid-19. Isso pode ser notado no levantamento feito por GZH, que indica disparada nos diagnósticos positivos em novembro, na comparação com outubro. O crescimento é impulsionado pela circulação da subvariante BQ.1 no Estado.
Especialistas consultados pela reportagem têm visões diferentes sobre o que pode ocorrer nos próximos meses, e se o aumento de casos pode “atrapalhar” as férias de verão - a estação começa oficialmente em 21 de dezembro. No entanto, são unânimes na indicação de completar o esquema vacinal o quanto antes. Por outro lado, segue a orientação de ter cuidado com pessoas que fazem parte dos grupos de risco, como gestantes, idosos e imunossuprimidos, ainda que tenham recebido todas as doses indicadas.
Eduardo Sprinz, infectologista e chefe do Serviço de Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), diz que o surto que o Estado vive neste momento é parecido ao registrado em países europeus nas últimas semanas. Ele cita o exemplo de Reino Unido, Inglaterra e França, que, segundo Sprinz, tiveram elevação de casos, mas que foi controlada em poucas semanas. Cenário parecido é esperado para o caso do Rio Grande do Sul nos próximos dias, acrescenta o infectologista:
— Dificilmente esses surtos se estendem por mais de 10 semanas, em geral, são de seis a oito. As festas de fim de ano podem servir de combustível (para novos casos), mas uma subvariante não se sustenta muito tempo.
Sprinz ressalta que, diferente de 2021, existe uma dissociação entre o número de novos casos com a quantidade de casos graves e mortes. Em novembro do ano passado, por exemplo, o Estado registrou 24.365 diagnósticos positivos para covid-19 e 621 mortes. Neste ano, no mesmo período, foram 22.422 novos casos computados, mas com uma diferença: os óbitos chegaram a 76, o que significa redução de 87% entre um ano e outro no mesmo período.
Ainda assim, Sprinz diz esperar aumento de casos positivos e hospitalizações nos próximos meses, em especial relacionados a pessoas com o esquema vacinal incompleto. Apesar dessa situação, o infectologista afirma que as orientações sanitárias para a população em geral não mudam com as férias de verão.
— Antes não tínhamos nenhuma arma contra o vírus, hoje temos a vacinação, que é extremamente necessária. A máscara não é tão importante neste momento, serve para proteger apenas as pessoas que têm risco de evoluir para as formas mais graves da doença — comenta.
Paulo Ernesto Gewehr Filho, infectologista do Hospital Moinhos de Vento, alerta para a baixa cobertura vacinal no Rio Grande do Sul. Segundo a Secretaria Estadual de Saúde (SES), 650 mil pessoas estão sem a segunda dose do esquema primário, mais de 3 milhões sem a terceira dose e mais de 2,1 milhões sem a quarta dose no Estado. Por isso, antes de iniciar o período de férias, a indicação é buscar imunizantes, diz o médico.
— É fundamental estar com o esquema vacinal completo para todas as idades. A reunião social com várias pessoas, sem máscaras, em ambientes não bem ventilados, aumenta muito a chance de transmissão caso tenha alguém doente. As pessoas dos grupos de maior risco devem evitar reuniões sociais que possam ser evitadas, e usar máscara cirúrgica ou N95 nas reuniões que frequentar — orienta.
O infectologista do Moinhos de Vento é cauteloso quanto à evolução da pandemia nas férias de verão, ao relacionar o momento com o contexto vivido no Estado entre o fim de 2021 e início de 2022. Em dezembro do ano passado, o Estado registrou 15.812 novos casos de covid-19, em um cenário que parecia “controlado”. No entanto, no primeiro mês de 2022, o número saltou para 319.178, um acréscimo próximo a 1.900%, quando da disseminação da variante Ômicron.
O pico do ano ocorreu em fevereiro, com 329.621 registros, também com recorde no número de mortes, 1.399. Isso não significa que o mesmo ocorrerá nos próximos meses, pontua o médico, mas serve de alerta para completar o esquema vacinal e ter atenção às pessoas dos grupos de risco enquanto não é possível mensurar o alcance do surto atual de covid-19 no RS.
— Desde o início da pandemia, temos o aumento no número de casos de testes positivos, depois vemos um aumento de internações. As mortes vêm de quatro a oito semanas depois do aumento de internações. Esses são os três momentos de uma onda — diz.
Fabiano Ramos, infectologista e diretor técnico do Hospital São Lucas (HSL), diz compreender que as aglomerações do fim de ano devem impactar na elevação de casos. No entanto, ele pontua que o momento da pandemia dá indícios de um comportamento distinto ao vivido no fim de 2021, quando o número de diagnósticos positivos era acompanhado pelo acréscimo de casos graves e óbitos.
— Apesar do grande aumento (nas últimas semanas), isso não se refletiu em casos graves e em um aumento expressivo de mortalidade. Temos visto que os casos graves envolvem os imunossuprimidos. Até este momento, diagnósticos positivos não têm tido repercussão nas internações, está longe do que vivemos, em especial no início do ano (de 2022) — comenta.
Diante desse cenário, o infectologista não recomenda outras medidas não farmacológicas para o verão a pessoas com o calendário de imunização completo e que não têm problemas de saúde no momento. Da mesma forma que os outros especialistas ouvidos pela reportagem, ele reforça que é preciso atenção para não expor pessoas dos grupos vulneráveis a uma eventual contaminação, além de buscar a imunização completa.
— O risco é extremamente baixo para pessoas que não têm problemas de saúde e estão vacinadas. Sabemos que é um vírus que pode trazer uma doença mais prolongada, em algumas situações com complicações, mas privar as pessoas de estar com a família é complicado e acho que neste momento não cabe esse tipo de orientação — completa.