Com o mestrado recém-iniciado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a médica Núbia Regina Alencar de Freitas, 35 anos, já terá uma grande oportunidade de mostrar seus objetivos acadêmicos ao mundo.
A aluna do Programa de Pós-Graduação em Farmacologia e Terapêutica do Instituto de Ciências Básicas (ICBS) da instituição, natural de Belo Horizonte (MG) e radicada em Porto Alegre, foi contemplada com recursos para participar de uma conferência sobre demência em países de média e baixa renda a ser realizada em Nairóbi, capital do Quênia, na África, de 6 a 9 de dezembro.
Quando se iniciaram as inscrições para os participantes, Núbia identificou que os grandes temas em discussão estavam intimamente relacionados ao que será tratado no mestrado. Submeteu à organização do evento, promovido pela Alzheimer’s Association, sediada nos Estados Unidos, um trabalho sobre determinantes sociais como fatores de risco para demência — vulnerabilidade socioeconômica, pouco acesso a informações e baixa escolaridade, por exemplo —, a base de sua pesquisa. Ela apresentará um pôster durante a programação.
No mestrado, o foco da médica mineira será a população idosa (a partir de 60 anos) assistida pelo programa Melhor em Casa de Porto Alegre, no qual Núbia trabalha, vinculada ao Hospital Vila Nova, da Capital. A iniciativa, idealizada pelo Ministério da Saúde, presta atendimento domiciliar pelo Sistema Único de Saúde (SUS) com o objetivo de evitar complicações e hospitalizações.
— Faremos testes cognitivos e exames de sangue para diagnóstico diferencial: entre esses idosos com demência, quais podem ter Alzheimer? — explica Núbia, pesquisadora do laboratório do farmacêutico Eduardo Zimmer, que será o orientador da pesquisa, com a coorientação do médico Wyllians Vendramini Borelli.
A partir dos atendimentos realizados pelo Melhor em Casa, a meta é selecionar 149 voluntários com demência para integrar o estudo, respeitando critérios de inclusão.
— Com o consentimento do paciente, vamos também aplicar outros testes para ver o perfil nutricional, socioeconômico, de escolaridade, tentando mapear o contexto em que ele vive. Não será simplesmente ver quem tem ou não tem demência — acrescenta a médica, que cursou especialização em Geriatria no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo (SP).
De acordo com a literatura científica, em torno de 10% da população sofre de demência de diversos tipos.
— O que está acontecendo é um subdiagnóstico nessa população vulnerável, em que o número é maior, justamente pelos fatores de risco sociais — diz a mestranda.
O Alzheimer é um dos focos da investigação, que irá além:
— Vemos que, no Brasil e no mundo, a demência muitas vezes é mista. Há muitos pacientes que tiveram acidente vascular cerebral, com fatores de risco para infarto, diabetes mal compensado e hipertensão, que podem gerar demência vascular.
Núbia está empolgada com a experiência e tudo o que a oportunidade representa.
— Fico muito lisonjeada. Especialmente, por sentir que o tema que estou pesquisando poderá gerar impacto no coletivo, em uma parcela que ainda é muito invisibilizada, que são os idosos, ainda mais os socialmente vulneráveis. Fico muito feliz também em jogar os holofotes ao programa Melhor em Casa, uma grande conquista do SUS. Poucas pessoas sabem que existe e como realmente funciona — afirma a médica.