Dar um trato na aparência durante uma árdua batalha contra o câncer de mama, o mais comum entre mulheres, não coloca um fim à doença, mas ajuda a revigorar o ânimo. Esse foi o objetivo de uma ação realizada ao longo desta quarta-feira (19) pelo Hospital São Lucas da PUCRS em parceria com um salão de beleza na zona leste de Porto Alegre.
Cerca de 30 mulheres que estão em tratamento no setor de oncologia do São Lucas, todas em atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS), foram convidadas a fazer pés, mãos, maquiagem e até receber uma sessão de massagem sem pagar nada. A oferta foi da proprietária do salão, Débora Zago, que tem na família uma referência de luta contra o câncer de mama.
— A minha sogra está passando por um câncer de mama e isso deixou ela bem triste. Ela perdeu o cabelo, perdeu a vaidade. Percebo que, toda vez que estamos lá, arrumando ela, ela fica mais feliz — conta Débora, que fechou o salão nesta quarta-feira para receber somente as pacientes do hospital.
Em quimioterapia desde julho deste ano, quando descobriu um nódulo na mama esquerda, Janete Gomes, 57 anos, pintava as unhas dos pés e das mãos depois de muito tempo. Ela perdeu todo o cabelo logo no início do tratamento, quando viu punhados de fios caírem com a água do banho.
— Desde que descobri o câncer, não fiz mais nada. Não tenho saído de casa, não tenho vida social, até por causa da covid-19, já que, com a quimioterapia, a imunidade fica baixa. Mas, amanhã, vou linda e maravilhosa para mais uma sessão de quimio — disse ela, que ainda precisará fazer radioterapia por causa da metástase na axila.
Enfrentando o terceiro câncer — já teve um melanoma e um carcinoma de tireoide —, Marcia Cristiane Durgante Ferrari, 48 anos, recebia uma sessão de drenagem linfática, a primeira massagem durante todos os percalços contra a doença. Apesar de ter retirado a mama direita em 2021, não optaria, hoje, por uma reconstrução mamária caso fosse uma opção. Ela não pensa se está feia ou se está bonita. Só consegue pensar em permanecer viva.
— Tenho três filhas, duas delas pequenas. Eu quero mesmo é me livrar desse problema — desabafa Marcia, que deve encerrar as sessões de quimioterapia no início de 2023 — Quero viver para ver minhas filhas crescerem.
Psicóloga que atende aos pacientes oncológicos no ambulatório do São Lucas da PUCRS, Marina Scur diz que a ida frequente ao hospital deixa essas pessoas em estado de permanente angústia. Tirar um dia para cuidar da própria imagem contribui para que se vejam com mais carinho.
— Essas mulheres passam a maior parte do tempo envolvidas com o tratamento. Durante as quimioterapias, elas não se sentem bonitas, não se arrumam, mas isso é importante para que se sintam confiantes — garante.
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o câncer de mama é o segundo tipo de câncer mais comum no Brasil — fica atrás do câncer de pele não melanoma. Também é o que causa mais mortes entre mulheres. Campanhas como o Outubro Rosa alertam para a importância dos exames de prevenção, feitos periodicamente, a fim de diagnosticar a doença com a maior brevidade possível.