O Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (INTO), do Ministério da Saúde, realizou, pela primeira vez no Sistema Único de Saúde (SUS), a técnica que corrige quadros graves de escoliose e hipercifose infantis com apenas um procedimento cirúrgico. A nova tecnologia de alongamento da coluna, que é voltada para menores de dez anos, diminui a exposição de crianças a novas cirurgias, enquanto o tratamento convencional exige o retorno dos pacientes pediátricos a cada seis meses para a manutenção do procedimento.
A técnica para correção de escoliose de início precoce com a utilização de um sistema automático de crescimento foi criada pelo médico ortopedista francês Lotfi Miladi, do Hospital Necker-Enfants Malades, vinculado à Universidade de Paris. O especialista esteve no INTO, em agosto, para participar do procedimento ao lado do chefe do Centro de Doenças da Coluna do INTO, Ricardo Meirelles, e do ortopedista do mesmo Centro, Alderico Girão.
— Uma criança que chegava ao tratamento com sete anos realizava, no mínimo, seis cirurgias para completar a correção dessas doenças. Então, além da redução da exposição a anestesias e infecções, há uma queda da reincidência desses procedimentos, e consequente aumento da produção cirúrgica para atender outros pacientes — explica Meirelles.
Na cirurgia, é inserido um dispositivo, que funciona como uma catraca, capaz de acompanhar o alongamento vertebral da criança durante o desenvolvimento corporal. Entre os benefícios da iniciativa estão o menor tempo de internação dos pacientes, redução de cerca de seis horas da duração da cirurgia, manutenção da capacidade pulmonar e a extinção do risco de lesões na medula óssea.
— A escoliose e a hipercifose precoces possuem, normalmente, origem neuromuscular. Esse é o caso da paciente operada pelo INTO, de oito anos, que apresenta paralisia cerebral. Esperamos devolver a essa criança equilíbrio do tronco e melhora na qualidade de vida — pontua Meirelles.
A nova tecnologia, chamada de Nemost e fabricada por apenas duas empresas no mundo, foi utilizada somente pela Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD), em São Paulo. No Rio de Janeiro, esta é a primeira vez que o procedimento é executado.
Silenciosa e progressiva, a escoliose é definida como uma deformidade da coluna vertebral. Embora bastante característica, a inclinação para um dos lados é apenas um dos indicativos do problema, que pode ainda provocar uma rotação e uma retificação da coluna — perda das curvas naturais, lordose e cifose. Outra característica da condição é o fato de não ser passível de correção voluntária, como é possível fazer com os ombros ao notar a má postura, por exemplo.