A morte do cineasta Jean-Luc Godard, aos 91 anos, através de um procedimento de suicídio assistido, levantou dúvidas sobre a diferença desta prática e da eutanásia. GZH conversou com Marcelo Fleck, professor titular do departamento de Psiquiatria Legal da UFRGS, sobre as diferenças entre os dois atos, que culminam no falecimento do paciente. Segundo Fleck, na maioria dos países, ambos os procedimentos não são permitidos.
Fleck explica que as práticas se diferenciam pela participação ativa ou passiva do paciente:
— No suicídio assistido, a pessoa que morre está diretamente envolvida no processo, ela é orientada a fazer isso e se mata auxiliada por alguém, vamos dizer assim. Mas ela tem um papel ativo na escolha. Já a eutanásia é um processo passivo. É uma pessoa que está, por exemplo, inconsciente, com dor, e a família ou um médico decide por aliviar o sofrimento dela — explicou Fleck.
No Brasil, ambas as técnicas são consideradas ilegais pela Justiça. Em outros países, como na Suíça, onde morava o cineasta Jean-Luc Godard, que faleceu na terça-feira (13), e recorreu ao suicídio assistido, a prática é legalizada:
— A Suíça é um dos poucos países que tem uma tradição longa do suicídio assistido, desde o século 20 já se discute isso. É uma ideia socialmente aceita há muitas décadas. Uma situação que tem muitas forças envolvidas — afirmou o especialista.
O psiquiatra cita a questão religiosa e a crença no não-direito de tirar a própria vida:
— Países com uma grande influência religiosa também tem uma questão cultural que torna isso (suicídio assistido e eutanásia) bastante polêmico. Por isso que, na maioria dos países, não é permitido. Na Europa, as pessoas vão pra Suíça para realizar o procedimento. O continente tem uma tradição mais liberal para esse tipo de comportamento.
Tema é tabu Brasil
Além da proibição legal, o assunto é considerado um tabu no Brasil que, por mais que seja de Estado laico, tem muitos traços religiosos socialmente.
Fleck acredita que a discussão sobre a legalização do suicídio assistido pode vir à tona em algum momento, por conta do avanço da tecnologia:
— A discussão vai ter que surgir com o avanço da medicina, com a possibilidade de manter a pessoa viva por muito mais tempo. Ela pode, conscientemente, não querer mais viver com determinadas limitações. É uma discussão que tem evoluído — concluiu o professor.
* Produção: Nikolas Mondadori