A baixa cobertura vacinal contra a poliomielite (também chamada de paralisia infantil) segue chamando a atenção no Rio Grande do Sul. A três dias do fim da campanha de imunização, apenas 58,9% do público-alvo recebeu as doses contra a doença. A meta é atingir 95% das 553.814 crianças de um a menos de cinco anos no Estado. Os dados constam em sistema do Ministério da Saúde.
Originalmente, a campanha, que ocorre todos os anos, se encerraria no último dia 6. Porém, em função da cobertura muito abaixo da meta, o Ministério da Saúde decidiu prorrogar a mobilização até a próxima sexta-feira (30). Durante a campanha, são vacinadas todas as crianças incluídas na faixa etária, independentemente de sua situação vacinal, e há aplicação de doses de reforço.
Pela vacinação de rotina, a criança deve receber doses como injeção aos dois, quatro e seis meses de idade, além do reforço com vacina em gotinhas aos 15 meses e quatro anos. Por isso, o fim da campanha não é justificativa para que as crianças não sejam vacinadas: as doses contra a pólio para a imunização de rotina ficam disponíveis nos postos de saúde o ano inteiro, sem custo.
No Brasil, a cobertura está em 52,7%. O painel nacional mostra que nenhuma unidade da federação atingiu a meta: o Estado com o maior percentual é Paraíba, com 83,6%. O Rio Grande do Sul aparece em 11º lugar. Historicamente, o RS não tem atingido a meta. Segundo a Secretaria Estadual da Saúde (SES), a análise da série histórica das coberturas vacinais de 2017 a 2020 tem variado entre 75% e 86%.
Risco real de reintrodução da doença no país
O Brasil recebeu o certificado de eliminação da poliomielite em 1994. No entanto, a baixa adesão à vacinação faz especialistas alertarem sobre o risco da reintrodução da doença no país. Diretora do Centro Estadual de Vigilância em Saúde, Tani Raniei diz que há um risco real de retorno da doença ao Estado e ao país, assim como já aconteceu com o sarampo devido às baixas taxas de vacinação.
— É um risco real. Tanto que houve casos em outros países, como os Estados Unidos. Mas, mesmo que haja reintrodução da doença, se houver um percentual de cobertura alto, impedimos a propagação para outras crianças e evitamos um surto — afirma.
A poliomielite é uma doença altamente contagiosa, que atinge principalmente crianças com menos de cinco anos e que vivem em alta vulnerabilidade social, em locais onde não há tratamento de água e esgoto adequado. O poliovírus é transmitido de pessoa para pessoa por via fecal-oral ou por água ou alimentos contaminados, e também de forma oral-oral, por meio de gotículas expelidas ao falar, tossir ou espirrar.
O vírus ataca o intestino, mas pode chegar ao sistema nervoso e provocar paralisia irreversível — daí o nome paralisia infantil — em membros como as pernas, e também dos músculos respiratórios, levando o paciente à morte. A poliomielite não tem cura, apenas prevenção, que é feita com a vacina.
Situação no RS
Dentre os 497 municípios gaúchos, 278 não atingiram a meta da campanha — ou seja, mais da metade. A cidade com menor cobertura vacinal é Chuí, no Sul, com 13,1%. Porto Alegre aparece na segunda pior colocação, com 30,8%.
A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) da Capital informou que, devido à necessidade de preenchimento de dois sistemas diferentes, os dados não estão sendo abastecidos na mesma velocidade da vacinação. No entanto, a pasta confirmou que há baixa procura na cidade, e disse que faz busca ativa junto às equipe para reforçar a necessidade de registro nos dois sistemas.
O Ministério Público do Rio Grande do Sul lançou nesta semana o selo "Município Amigo da Vacina". O reconhecimento é destinado às cidades que atingirem a meta de 95% da campanha.
Cidades do RS com menor cobertura vacinal
- Chuí - 13,1%
- Porto Alegre - 30,8%
- Gravataí - 31,2%
- Canoas - 32%
- Tapes - 33%
Cidades do RS com maior cobertura vacinal
- Montauri - 172%
- Santa Maria do Herval - 169,8%
- Monte Belo do Sul - 153,8%
- Porto Vera Cruz - 151,1%
- Boa Vista do Buricá - 147,7%