Tuíte com trecho de vídeo mente ao dizer que o Japão declarou que a ivermectina tem mais eficácia contra a covid-19 do que os imunizantes. No WhatsApp, circula gravação mais longa com outras afirmações falsas, como a de que o governo do país vai substituir as vacinas pelo medicamento antiparasitário. A Embaixada do Japão no Brasil disse ao Comprova que as informações não procedem.
Conteúdo investigado: Tuíte com a legenda “Japão declara ao mundo que a ivermectina é mais eficaz que a vacina. E agora, como fica?”. O texto acompanha vídeo que não cita o medicamento, mas diz que o país “está mais inclinado para reconhecer as lesões das vacinas e a procurar outras opções de tratamento”. Uma gravação mais longa, citando o medicamento e dizendo que o governo do país asiático o usará para substituir a vacina, circula no WhatsApp.
Onde foi publicado: Twitter e WhatsApp.
Conclusão do Comprova: É falso um post que circula nas redes sociais afirmando que o Japão declarou que a ivermectina é mais eficaz do que os imunizantes no combate ao novo coronavírus. Segundo vídeo publicado junto com a mensagem falsa, o país asiático “está mais inclinado a reconhecer as lesões das vacinas e a procurar outras opções de tratamento em comparação com outras nações desenvolvidas”, o que também não é verdade.
A gravação é um trecho de um vídeo que diz que o Japão substituirá a vacina pela ivermectina, remédio antiparasitário que, ainda segundo o narrador, se tornou uma opção de tratamento e pode ser usado como cura contra a covid-19. No entanto, não há evidências científicas que o medicamento funcione contra a doença.
Procurada pela reportagem, a Embaixada do Japão no Brasil afirmou que “não há, até o momento, nenhum processo de aprovação da ivermectina como medicamento para o tratamento da covid-19 no país”. Além disso, o governo japonês, em seu site, diferentemente do que afirma o conteúdo verificado, recomenda que as pessoas se vacinem.
Para o Comprova, é falso todo o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.
Alcance da publicação: O post teve até 14 de julho de 2022: 14,8 mil curtidas, 298 comentários e mais de 4.700 compartilhamentos.
O que diz o autor da publicação: A publicação foi feita por um perfil no Twitter que não permite o envio de mensagens. O Comprova localizou o autor no Instagram e tentou contatá-lo, mas não houve retorno até a publicação deste texto.
Como verificamos: Para obter as informações foram feitas pesquisas no Google que levaram aos sites do Ministério da Saúde e da Agência de Produtos Farmacêuticos e Dispositivos Médicos (Pharmaceutical and Medical Devices Agency; PMDA) do Japão. Nestes links, foi possível verificar os medicamentos liberados e as vacinas utilizadas para combater o coronavírus no país.
O Comprova também contatou, por e-mail, a Embaixada do Japão no Brasil. Além de responder os questionamentos da reportagem, o órgão enviou links de páginas oficiais vinculadas ao governo local nas quais é possível obter informações sobre vacinas e tratamento da doença. Para saber dados gerais sobre a pandemia na nação asiática, a equipe consultou o site do Ministério da Saúde japonês e o Our World in Data.
Japão e ivermectina
“O governo do Japão não determinou o uso da ivermectina como tratamento para a covid-19 em vez da vacinação. Não há, até o momento, nenhum processo de aprovação da ivermectina como medicamento para o tratamento da covid-19 no Japão”, afirmou ao Comprova a Embaixada do Japão no Brasil.
A ivermectina também não consta de uma lista de drogas aprovadas para o tratamento do coronavírus, de acordo com uma relação de substâncias aprovadas pela PMDA. Na mesma lista também é possível verificar os imunizantes que são utilizados e aceitos no país.
Segundo a página da PMDA, as drogas aprovadas para a covid-19 pelo Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar do Japão (Ministry of Health, Labour and Welfare of Japan – MHLW), após março de 2020, com revisão científica da agência são: Redemvisir, Baricitinibe, Casirivimabe/imdevimabe (uso combinado), sotrovimabe, molnupiravir, Tocilizumabe, e Nirmatrelvir/Ritonavir também administrados em conjunto.
Ivermectina e covid
“O uso da ivermectina para covid-19 não está previsto em bula e a utilização off label (quando um medicamento é utilizado para um tratamento diferente do recomendado na bula), até o momento não teve o respaldo das agências reguladoras, bem como do fabricante do medicamento”, afirma a mais recente nota técnica encontrada no site da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em relação ao remédio, de março de 2021.
O documento destaca ainda que resultados “não parecem ser suficientes para suportar recomendação de uso da ivermectina no tratamento de pacientes com covid-19, sendo que a recomendação da OMS para que a ivermectina seja utilizada, apenas, em protocolos de pesquisa clínica parece ser adequada”.
Na bula do remédio, é explicado que a ivermectina é um medicamento que atua contra várias espécies de parasitas e vermes.
Pandemia no Japão
De acordo com dados oficiais do Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar do Japão, o país registrou 9.790.789 casos domésticos de covid-19 até 13 de julho. O número de mortes confirmadas que tiveram relação com a doença era de 31.437 até a mesma data. Além disso, outros 31.170 óbitos continuam sob investigação.
As autoridades sanitárias japonesas já aprovaram o uso de quatro imunizantes de diferentes farmacêuticas: Pfizer, aprovada em fevereiro de 2021; Moderna e Astrazeneca, em maio de 2021; e Novavax, em abril de 2022.
A vacina da Pfizer direcionada ao público com idade entre 5 e 11 anos foi aprovada em janeiro deste ano, segundo o ministério.
Embora tenha enfrentado dificuldades no início da vacinação, tendo aprovado o primeiro imunizante apenas em fevereiro de 2021, cerca de dois meses depois de países como Reino Unido e Estados Unidos e um mês depois do Brasil, atualmente o Japão está entre os países que mais imunizaram. De acordo com o Our World in Data, site da Universidade de Oxford (Inglaterra) que monitora dados relacionados à covid-19 no mundo, 81,25% dos japoneses foram vacinados com pelo menos duas doses até o último dia 11 de julho. Segundo a plataforma, o percentual de pessoas parcialmente imunizadas é de 82,35%.
O autor do post
Nas redes sociais, o criador do perfil afirma ser economista e empresário. Define-se como “terrivelmente cristão e entusiasta do Brasil”.
Na conta do Twitter, criada em janeiro do ano passado, compartilha diversos posts com críticas aos pré-candidatos à presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Simone Tebet (MDB), bem como elogios a falas e atitudes do presidente Jair Bolsonaro (PL) e de ações do governo, como a redução de ICMS nos estados.
No Instagram, a última publicação data de junho de 2020 e é uma repostagem de Bolsonaro. Não foram encontradas outras checagens ou notícias sobre o economista.
Como informado anteriormente, ele foi procurado pela reportagem, mas não respondeu.
Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre a pandemia, eleições presidenciais e políticas públicas do governo federal que viralizaram nas redes sociais. O post verificado aqui traz risco à população ao mentir/enganar sobre o uso da ivermectina contra a covid. O conteúdo também é perigoso por afirmar que as vacinas não são seguras – até o momento, elas são uma das ferramentas mais eficazes contra a doença.