Ainda sem causas estabelecidas de forma clara pela ciência, o vitiligo é uma doença caracterizada pela perda de coloração da pele, causando manchas brancas, de tamanhos variáveis, espalhadas pelo corpo. Embora não seja transmissível, nem traga prejuízos à saúde física de quem a tem, a doença ainda é alvo de muito estigma e preconceito. Por isso, o dia 25 de junho marca o Dia Mundial do Vitiligo.
A data pretende, a longo prazo, gerar conscientização sobre a condição. O vitiligo é uma doença considerada autoimune e a formação das manchas ocorre em função da ausência de melanócitos, as células que formam a melanina, pigmento que dá cor à pele. Embora a origem ainda não seja determinada, especialistas indicam que genética, exposição solar ou química, alterações autoimunes, condições emocionais de estresse e traumas psicológicos podem desencadear o surgimento ou agravamento do vitiligo.
— O que se sabe é que há um desequilíbrio do sistema imune e as células que são voltadas para defender a gente interferem nesse funcionamento normal dos melanócitos. É isso que impede que eles produzam a cor nessas regiões — explica a dermatologista do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) Clarissa Patri.
Conforme a dermatologista, fora o surgimento das manchas, não existem sintomas da doença. Eventualmente há registro de dor, ardência ou coceira nas áreas afetadas, por exemplo. O vitiligo, de maneira geral, não traz grandes prejuízos para a saúde física, mas pode se tornar um grande desafio emocional. A forma com que ele afeta a aparência faz com que muitas pessoas tenham problemas de aceitação, influenciando a autoestima.
— Os pacientes, muitas vezes crianças, vêm com reclamações de ser chacota, com relatos de que não querem se olhar no espelho ou, ainda, em determinada fase da vida não querem sair de casa. Eles se incomodam muito com isso — exemplifica Clarissa.
De acordo com Clarissa, os lugares mais afetados pelo vitiligo são o rosto, principalmente ao redor dos orifícios como boca, olhos e nariz, nos dedos das mãos e no pescoço. Também não há idade certa para o surgimento das primeiras manchas, mas elas são mais comuns antes dos 30 anos.
Tipos
A doença se caracteriza em dois tipos, o segmentar e o não segmentar. O primeiro se manifesta apenas em uma parte do corpo, como um lado do rosto e do pescoço, geralmente quando o paciente ainda é criança. Pelos e cabelos também podem perder a coloração, já que os melanócitos estão presentes também nessa região.
Já o segundo, que é o mais comum entre eles, acomete os dois lados do corpo. Em geral, as manchas surgem inicialmente em extremidades. É possível que o vitiligo surja de maneira segmentar e se desenvolva para o não segmentar com o passar dos anos.
Há ciclos de perda de cor e épocas em que a doença se desenvolve, e depois há períodos de estagnação, que ocorrem durante toda a vida. Manchas na pele são comuns, ainda mais com o avanço da idade. Por causa disso, o principal sinal de alerta para o vitiligo é quando surgem manchas muito mais claras que o tom da pele.
— Geralmente a mancha é bem branca. Falta qualquer pigmento naquela área. Pode acontecer do paciente de pele mais clara se bronzear e aquela região afetada se destacar, chamando atenção para o diagnóstico — completa Clarissa.
Em alguns casos, o vitiligo pode ser confundido com hanseníase, uma doença infecciosa com diversas manifestações na pele, entre elas manchas claras. A diferença entre os dois diagnósticos é que as manchas da hanseníase são acompanhadas da falta de sensibilidade na região.
Tratamento
O tratamento do vitiligo deve ser acompanhado pelo dermatologista, conforme o quadro de cada paciente. Entre as formas mais comumente usadas está o uso de cremes ou pomadas com corticóide e de imunomoduladores, associadas a procedimentos com feixes de luz, a chamada fototerapia. O objetivo do tratamento é reduzir as manchas e que elas pigmentem o máximo possível.
Mesmo após o tratamento, as manchas podem voltar, o que acontece, geralmente, nas mesmas regiões. Contudo, nada impede de que as manchas surjam em novos locais.
Há cura?
Como as causas ainda são desconhecidas, não existe nenhum tratamento curativo. No entanto, de acordo com Clarissa, novos procedimentos têm sido desenvolvidos, apresentando melhores resultados. Existem pessoas que respondem bem aos procedimentos de tratamento e diminuem a quantidade de manchas, mas a condição muda em cada indivíduo.
— Há diversos estudos sobre o vitiligo hoje, especialmente para entender o que acontece na pele afinal e com isso desenvolver tratamentos mais eficazes. Já existem novos medicamentos tópicos disponíveis em outros países, por exemplo. Alguns pacientes respondem super bem e outros nem tanto. Para esses que não respondem, podemos fazer transplante de melanócitos — detalha Clarissa.
No transplante de melanócitos uma pequena parte da pele do paciente é retirada e colocada na área da mancha na tentativa de repigmentar a região.
Prevenção
Não existem formas de prevenção do vitiligo. O que os dermatologistas recomendam é que pacientes que tenham diagnósticos de vitiligo na família redobrem a atenção para o surgimento de qualquer mancha pelo corpo. Isso permitirá o tratamento precoce de qualquer alteração. É recomendado também que essas pessoas mantenham um controle maior da saúde psíquica.
— A gente orienta também que os pacientes façam psicoterapia, atividades físicas ou tudo que possa controlar o estresse — comenta a dermatologista.
Em pacientes já diagnosticados, é recomendado evitar fatores que possam precipitar o aparecimento de novas lesões ou acentuar as já existentes, como o uso de roupas apertadas, ou que provoquem atrito ou pressão sobre a pele, exposição ao sol. Como condições emocionais também podem estar ligadas à doença, controlar o estresse pode ajudar.