Cirurgias endoscópicas em bebês ainda dentro do útero materno, agora, podem ser realizadas no Estado pela primeira vez exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Isto porque a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) adquiriu um fetoscópio e passa a oferecer, a partir desta sexta-feira (6), os procedimentos no Hospital Materno Infantil Presidente Vargas (HMIPV).
A tecnologia está indicada, por exemplo, em gêmeos idênticos com quadro de Síndrome da Transfusão Feto-fetal, permitindo o acesso direto aos fetos, placenta e vasos sanguíneos placentários. Com o procedimento, então, é possível corrigir algumas anomalias que podem ser fatais, melhorando significativamente o prognóstico dos bebês — em hospitais de ponta, a nível mundial, índices de sobrevivência chegam a 92% para um dos fetos e de 75% para ambos os fetos.
— Na Síndrome da Transfusão Feto-fetal, um dos bebês recebe tanto sangue que fica com insuficiência cardíaca e pode vir a óbito. E o outro recebe tão pouco sangue que acaba se tornando subnutrido, com uma circulação baixa de sangue e acaba vindo a óbito por este motivo. Então, um morre pelo excesso e outro morre pela falta — explica o médico André Campos da Cunha, chefe da equipe de medicina fetal e gestação de alto risco do HMIPV.
Segundo o especialista, a conduta observacional e retiradas seriadas de líquido amniótico de um dos gêmeos, único tratamento utilizado até o momento no âmbito do SUS municipal e estadual, ainda resulta em alta porcentagem de perdas e danos em um ou ambos os fetos. Em alguns casos, as gestantes eram enviadas para fora do Estado, na tentativa de tratamento para salvar a gestação. Cunha destaca que a média anual de nascimentos no Rio Grande do Sul beira os 135 mil e, destes, pelo menos 100 bebês podem passar ou passam pelo problema que poderá ser corrigido pelo fetoscópio.
— A gente espera, agora, conseguir ajudar estes bebês, que ou nasciam prematuros ou morriam. O fetoscópio tem um canal, por onde passa uma câmera, uma óptica, com luz e um equipamento de laser. Ele localiza a circulação placentária e faz a cauterização destes vasos que estão causando a comunicação entre os dois gêmeos. Então, tenta fazer com que a circulação placentária fique metade da placenta para um bebê e a metade para o outro, equilibrando a nutrição de ambos, aumentando as chances de sobrevivência e ambos nascerem sem sequelas — detalha Cunha.
O equipamento estará pronto para uso já nesta sexta-feira e o primeiro caso de bebês que precisam utilizar o fetoscópio já deu entrada no HMIPV nesta terça-feira (3). Segundo Cunha, nas próximas duas ou três semanas, o equipamento será utilizado para buscar melhorar o prognóstico dos fetos. O aparelho custou cerca de R$ 100 mil — com redução de taxas por ter sido adquirido por um hospital público. A aquisição faz parte da renovação do parque tecnológico do Presidente Vargas e conta com parceria da Associação dos Amigos do HMIPV para a implementação da nova terapêutica em medicina fetal.