Pelo menos 32,9 milhões de brasileiros que já poderiam estar imunizados com a terceira dose da vacina contra a covid-19 ainda não apareceram nos postos de saúde, conforme levantamento do jornal O Globo.
As explicações dadas pelas secretarias de Saúde dos Estados são variadas: sensação de segurança com as primeiras doses de imunização, notícias falsas, efeitos adversos das primeiras aplicações e falta de comodidade para receber o reforço.
A reportagem entrou em contato com todos as unidades da Federação entre os dias 15 e 17 de fevereiro . Ao todo, 18 secretarias responderam. Em alguns Estados, como Rio de Janeiro e Paraná, apenas as capitais disponibilizaram os dados. Os demais não responderam ou disseram não ter as informações.
O Estado com mais atrasados é também o mais populoso: São Paulo, que acumula 8 milhões de pessoas aptas à terceira dose que não apareceram nos postos de saúde, seguido pelo Pará, com 3,3 milhões, Minas Gerais, com 3 milhões, e Bahia, com 2,7 milhões. Como medida de controle da variante Ômicron, a dose de reforço deve ser dada no Brasil quatro meses após as duas primeiras aplicações, de acordo com o Ministério da Saúde.
A alta taxa de infectados no começo do ano também pode ter complicado o cenário pois, após a infecção, é preciso esperar 30 dias até receber um imunizante.
O que dizem os Estados
Secretário da Saúde de Minas Gerais, Fábio Baccheretti avalia que existia certo apelo para as primeiras aplicações, mas isso passou. Ele lembra que, antes, muitos postavam nas redes sociais que tinham ido receber as agulhadas, o que não ocorre mais com tanta frequência. Também acha que o processo deve ser menos burocrático e complexo em relação às datas e locais.
— Pedimos que os municípios abram os postos para vacinar qualquer pessoa, sem data específica. Está sobrando vacina e há baixa demanda — diz.
Alguns estados, como Bahia e Mato Grosso do Sul, orientam que os municípios corram atrás dos faltosos. No Tocantins, a aposta é em programas educativos nas redes sociais, rádio e TV. Em São Paulo, a Secretaria de Saúde afirma que mantém alertas por SMS e e-mail para lembrar a data de retorno aos imunizados. Curitiba também envia mensagens por meio de aplicativo de celular.
Passaporte vacinal
Já o Espírito Santo adotou um sistema de passaporte vacinal bastante abrangente, que inclui atividades como bares, restaurantes e eventos em condomínios. O comprovante deve ser baixado em um aplicativo do governo, que mostra quem está com doses em dia ou atrasadas.
De acordo com Nésio Fernandes, secretário da Saúde capixaba e vice-presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), após a medida, a procura por imunizantes nos postos subiu.
— Existe uma dificuldade natural para qualquer campanha de vacinação de adultos que leve mais de uma dose. Quando você estabelece um calendário de duas, três, quatro doses, ou um cronograma de aplicação que você não diz como será no futuro, porque ainda depende do desfecho de efetividade (do imunizante), torna-se algo que tem um entendimento complexo para a população— explica.
Outra leitura
No Rio Grande do Sul, de acordo com levantamento de GZH com base em estatísticas da Secretaria Estadual da Saúde (SES-RS), cinco meses após o início da aplicação da dose de reforço contra a covid-19, o Estado atingiu 30,6% de toda a população com três doses ou a segunda de Janssen.
Dados de 8 de fevereiro mostravam que quase 800 mil gaúchos estavam com segunda dose em atraso e 2,5 milhões já deveriam ter tomado o reforço. Consultada pela reportagem no domingo (20), a SES não repassou dados atualizados.
A despeito da alta abstenção, é a quarta melhor adesão à dose de reforço do país, atrás de São Paulo (42% da população com três doses), Mato Grosso do Sul (34%) e Paraíba (32,5%), segundo o portal coronavirusbra1.github.io, que compila dados com as secretarias estaduais.