Cinco meses após iniciar a aplicação do reforço contra a covid-19, o Rio Grande do Sul atingiu 30,6% de toda a população com três doses ou segunda dose de Janssen, segundo estatísticas da Secretaria Estadual da Saúde (SES-RS), cobertura considerada de avanço lento por especialistas.
Dados de 8 de fevereiro mostravam que quase 800 mil gaúchos estavam com segunda dose em atraso e 2,5 milhões já deveriam ter tomado o reforço. Consultada pela reportagem na manhã deste domingo (20), a Secretaria Estadual da Saúde do Rio Grande do Sul não repassou dados atualizados.
A despeito da alta abstenção, o Rio Grande do Sul apresenta a quarta melhor adesão à dose de reforço do país, atrás de São Paulo (42% da população com três doses), Mato Grosso do Sul (34%) e Paraíba (32,5%), segundo o portal coronavirusbra1.github.io, que compila dados com as secretarias estaduais da saúde.
No Brasil, a cobertura é de 28,3%, quase igual à dos Estados Unidos e abaixo de países como Chile, Argentina, Uruguai, Reino Unido e Portugal, como mostra o gráfico a seguir.
Até este domingo (20), 39,3% dos adultos gaúchos receberam o reforço - a meta estabelecida pelo Ministério da Saúde é 90% para cada grupo prioritário. A dose de reforço deve ser tomada por todos os brasileiros com 18 anos ou mais como forma de elevar as defesas imunes, reduzir o risco de casos graves e ainda auxiliar para acabar com a onda de , hoje estável no Rio Grande do Sul.
- Três doses são fundamentais, principalmente para quem tomou a segunda dose há mais de cinco ou seis meses. Ter 30% da população com três doses é ok, mas precisamos de muito mais pessoas contempladas. Quanto mais preparados estivermos para uma próxima variante, menor será o impacto sobre nossa população - diz o médico Eduardo Sprinz, chefe da Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e professor na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Sprinz acrescenta que está atendendo a pacientes que se infectaram na virada do ano, em meio à onda de Ômicron, e que, agora, pegaram covid-19 novamente e apresentaram sintomas, o que pode indicar a possibilidade de reinfecção pela mesma variante. A ciência ainda não bateu o martelo sobre a possibilidade de uma pessoa infectada com a Ômicron readquiri-la porque a cepa existe há pouco tempo.
- Se as pessoas pegaram Delta antes e agora Ômicron ou se pegaram Ômicron antes e agora a subvariante BA.2, só saberemos com sequenciamento genético - pondera o médico infectologista.
No fim de dezembro, o governo do Estado reduziu de cinco para quatro meses o intervalo para dose de reforço, após estudos mostrarem a redução de eficácia das vacinas no período e com medo dos estragos da variante Ômicron.
Que estatísticas foram usadas para a matéria?
A reportagem analisou as estatísticas com base no total de pessoas que tomou a primeira dose, e não na população estimada para cada grupo, porque discute a adesão de pessoas dispostas a se vacinar. Passado mais de um ano desde o início da vacinação e seus claros efeitos em reduzir hospitalizações e mortes, especialistas entendem que quem ainda não tomou a primeira dose provavelmente não o fará. A margem de crescimento da cobertura vacinal, portanto, afeta quem já buscou os postos de saúde ao menos uma vez.
A despeito do entrave para atrair a população pela terceira vez aos postos de saúde, as estatísticas mostram que, no Rio Grande do Sul, a população mais vulnerável ao coronavírus - os idosos - busca, em peso, a terceira vacina. A maior cobertura é entre gaúchos de com 70 anos ou mais, dos quais cerca de 80% receberam o reforço.
Mas a adesão começa a cair a partir da população entre 65 a 69 anos e perde drástica força nas faixas etárias mais jovens. Entre adultos de 18 a 59 anos, menos de 23% das pessoas que tomaram a primeira dose voltaram para receber o reforço.
As piores adesões estão entre membros ativos das Forças Armadas, população em situação de rua e trabalhadores portuários, como mostra o gráfico a seguir.
Historicamente, a adesão às vacinas cai conforme mais doses são necessárias, o que exige de autoridades estratégias para convocar a população a retornar aos postos de saúde e de levar os imunizantes o mais próximo das pessoas.
- Pessoas mais idosas têm conscientização maior sobre a necessidade de proteção. Mas jovens entendem que seu risco é menor, então têm menor preocupação com a terceira dose. Só que se você tiver 70% das pessoas com três doses, reduz mais ainda a circulação do vírus em toda a sociedade, porque pessoas vacinadas transmitem menos - destaca Rodrigo Boldo, médico intensivista no Hospital Mãe de Deus e na Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre.
Boldo acrescenta que, se a adesão à terceira dose fosse maior, o Rio Grande do Sul registraria menos internações e mortes por covid-19 nesta onda atual.
- Atendi a um casal de idosos. Ela tomou três doses, o esposo não. Ela ficou em casa com sintomas leves, ele foi para UTI e foi intubado. Dos que estão na UTI do Mãe de Deus, nem 10% está com três doses. Quem está com três doses está muito mais protegido - acrescenta.