Um estudo publicado na última terça-feira (25) pela revista Cell, encontrou quatro fatores que podem identificar no início da infecção de coronavírus se o caso será de covid longa — quando os sintomas da doença se manifestam por semanas, ou até meses, após o contágio. Pesquisadores disseram que as descobertas podem sugerir maneiras de prevenir ou tratar alguns destes casos, incluindo a possibilidade de administrar medicamentos antivirais às pessoas logo após o diagnóstico de infecção. As informações são do Estadão.
Segundo o estudo, os quatro fatores identificados pelos pesquisadores são:
- Nível muito alto de RNA de coronavírus no sangue no início da infecção, um indicador de carga viral.
- Presença de certos autoanticorpos que atacam erroneamente os tecidos do corpo, como fazem em condições como lúpus e artrite reumatoide.
- Reativação do vírus Epstein-Barr: que infecta a maioria das pessoas, geralmente quando jovens, e depois normalmente fica inativo.
- Ter diabetes tipo 2. Em estudos que envolvem um número maior de participantes, pesquisadores e outros especialistas dizem que o diabetes é uma das várias condições médicas que aumentam o risco de covid longa.
— Acho que esta pesquisa enfatiza a importância de fazer medições logo no início do curso da doença para descobrir como tratar os pacientes, mesmo que ainda não saibamos como usar todas essas informações — disse Jim Heath, diretor investigador do estudo e presidente do Instituto de Biologia de Sistemas, ao New York Times.
— Quando você consegue mensurar algo, então você pode começar a fazer algo a respeito. Fizemos essa análise porque sabemos que os pacientes procuram os médicos dizendo que estão cansados o tempo todo, e os médico só dizem para eles dormirem mais. Não é uma coisa muito útil. Então, queríamos realmente ter uma maneira de quantificar e dizer que realmente há de errado com esses pacientes — acrescentou Heath.
Para os testes, o estudo usou um grupo principal de 209 pacientes, com idades entre 18 e 89 anos, que foi infectado com o coronavírus durante 2020 ou o inicio de 2021. Muitos foram hospitalizados por suas infecções iniciais, porém alguns ficaram apenas em atendimentos ambulatoriais. Os pesquisadores analisaram sangue e amostras nasais quando os pacientes foram diagnosticados durante a fase aguda de suas infecções e dois a três meses depois.
Os pacientes foram analisados com cerca de 20 sintomas associados à covid longa, como fadiga, confusão mental e falta de ar, e corroboraram esses relatórios com registros eletrônicos de saúde.
O principal autor do estudo, dr. Jason Goldman, especialista em doenças infecciosas, disse que 37% dos pacientes relataram três ou mais sintomas de covid longa dois ou três meses após a infecção. Outros 24% relataram um ou dois sintomas e 39% não relatara sintoma algum. Destes pacientes que relataram três ou mais sintomas, 95% tinham um ou mais dos quatro fatores biológicos identificados no estudo quando foram diagnosticados com covid-19.
Os autoanticorpos parecem ser o fator mais influente, segundo o estudo. Eles foram associados a dois terços dos casos de covid longa. Cada um dos três fatores apareceram em cerca de um terço dos casos, e houve sobreposição considerável, com vários fatores identificados em alguns pacientes.
Separadamente, um grupo de 100 pacientes, muitos com infecções leves, também foram avaliados por uma pesquisa liderada pela dra. Helen Chu, da Universidade de Washington. Os pesquisadores também compararam seus resultados com dados de 457 pessoas saudáveis.
Foi observado que 71% dos pacientes do grupo primário haviam sido hospitalizados, o que limitou a capacidade de concluir que os fatores biológicos eram igualmente relevantes para pessoas com infecções iniciais leves. Especialistas concluíram que, como os pacientes com altas cargas virais no início geralmente desenvolvem covid longa, dar antivirais às pessoas logo após o diagnóstico poderia ajudar a prevenir sintomas a longo prazo.
— O estudo é grande e abrangente, é um ótimo recurso para a comunidade que estuda covid longa — disse Akiko Iwasaki, imunologista de Yale, que não participou da pesquisa.
— Quanto mais rápido se eliminar o vírus, menor a probabilidade de desenvolver vírus persistente ou autoimunidade, o que pode levar à covid longa — completou.