Virologistas e infectologistas consultados por GZH fazem um alerta: a pandemia de covid-19 está num momento explosivo no Brasil devido à variante Ômicron, e ainda afirmam que a dose de reforço da vacina contra o coronavírus e a imunização das crianças são fundamentais para evitar o colapso no sistema de saúde.
Os especialistas preveem um janeiro complicado, com explosão de casos de covid-19 e também de influenza H3N2. Segundo o virologista e coordenador do Laboratório da Microbiologia Molecular da Feevale, Fernando Spilki, se isso se refletirá numa pressão maior no serviço de internação e de UTI dependerá muito do tamanho do surto, atingindo, principalmente, os não vacinados ou com esquema vacinal incompleto.
— As pessoas precisam estar cientes de que haverá necessidade de faltar ao trabalho, de evitar determinados eventos sociais, as viagens poderão ser prejudicadas e teremos seguramente um grande número de infecções. Por mais atenuada ou mais leve que seja a infecção, como tem sido denotado para a variante Ômicron, uma porcentagem das pessoas ainda continuará internando. Atingindo, principalmente, indivíduos não vacinados ou vacinados apenas com primeira dose ou com esquema vacinal incompleto ou feito há mais tempo — explica Spilki.
O chefe do Serviço de Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Eduardo Sprinz, aponta que a dimensão da situação só poderá ser determinada daqui a algumas semanas.
— Em duas ou três semanas, teremos a dimensão do estrago que ocorreu e que acontecerá. A única coisa que sabemos agora é que os casos cresceram de forma exponencial. É o que ocorreu na África do Sul e na Europa e o que está ocorrendo agora nos Estados Unidos. A notícia boa vem da África do Sul, que, depois de quase seis semanas, começou a ver os casos diminuírem. Vamos torcer que ocorra o mesmo aqui — relata Sprinz.
Em entrevista ao Estúdio Gaúcha, na noite desta terça-feira (4), o virologista e pesquisador do Instituto Todos Pela Saúde Anderson Brito destacou que a imunização de crianças e a dose de reforço da vacina contra o coronavírus são essenciais para evitar o aumento dos casos graves de covid-19 e o colapso no sistema de saúde.
Conforme o pesquisador, entre as preocupações no combate à pandemia estão o baixo número de testes feitos no Brasil e os problemas na divulgação dos dados, devido ao ataque hacker aos sistemas do Ministério da Saúde. Ainda na entrevista, Brito afirmou que, em 2020, as infecções duplas por coronavírus e outras infecções respiratórias somaram somente 20% dos casos, pois havia distanciamento social e uso correto das máscara. Mas elas voltaram a se tornar mais comuns a partir do aumento das flexibilizações.
Spilki completa dizendo que além da etiqueta contra a covid-19, a população havia aderido à vacinação contra a influenza em 2020, algo que não ocorreu em 2021.
— Do ano passado para cá, começou a mudar e agora é algo que agravou muito. Temos um surto instalado de influenza, uma variante Darwin H3N2 ocorrendo junto com uma variante de grande expansão de covid-19, que é a Ômicron. Teremos muito maiores chances de encontrar coinfecções, algo que é corriqueiro no universo das doenças respiratórias, mas que neste momento será ainda maior — destaca Spilki.
A vacina contra a influenza que será distribuída no Sistema Único de Saúde (SUS) em 2022 já está em produção pelo Instituto Butantan. Ela será trivalente, composta pelos vírus H1N1, H3N2, do subtipo Darwin, e a cepa B. O Brasil vive um surto de influenza H3N2, e o imunizante será importante para conter o espalhamento do vírus.
— Mesmo vacinas feitas com outros tipos virais próximos podem induzir alguma proteção e, especialmente, o que sabemos, tanto para H1N1, quanto para as influenzas sazonais, como H3N2, é que várias vacinações ao longo da vida também promovem uma melhora da imunidade cruzada. Então, é importante que as pessoas que, de repente, não tenham se vacinado busquem a vacinação e aquelas que estão com o calendário em dia, assim que sair a nova vacina de influenza, busquem a vacinação para evitar eventuais complicações — orienta Spilki.
Segundo o chefe do Serviço de Infectologia do HCPA, Eduardo Sprinz, a explosão de casos se deve às pessoas terem deixado de se proteger, aliado aos encontros e festas nos períodos de Natal e Ano-Novo e, ainda, às aglomerações:
— Coloca tudo isso junto com uma variante muito mais transmissível e é o que estamos vendo agora: uma explosão de casos. Agora, estamos diante de um tsunami. Nunca houve tantos contaminados ao mesmo tempo. Mas os que estão ocorrendo em pessoas vacinadas são mais brandos.
Para Sprinz, neste momento inicial, os primeiros passos poderiam ser parar as festas, as aglomerações e não começar o futebol com público. As demais ações, porém, dependerão do quanto for explosiva esta nova onda de disseminação da covid-19.
— Lutamos pela vacina para que as formas graves não ocorram. Vamos ver se a gente só sobrecarrega a porta de entrada, sem precisar de internações. Estou chamando de a "covid dos vacinados", é uma doença que causa sintomas brandos. Óbvio que ocorrerão casos graves, mas infinitamente inferior ao ano passado — finaliza.