Em março de 2021, o cenário era de desespero. A cada dia, a cada hora, se multiplicavam os casos de coronavírus no Rio Grande do Sul e no país. Novos pacientes eram internados sem parar em leitos de enfermaria, outros rumavam às pressas para unidades de terapia intensiva com falta de ar, e as cifras de mortos subiam em escala geométrica.
Aos poucos, graças a um esforço inédito da ciência, o número de doentes começou a baixar, os leitos foram ficando vagos, e a triste contagem de vítimas passou a somar quantidades cada vez menores de vidas perdidas para o vírus. Enquanto a curva da pandemia voltava a apontar para baixo, os índices de vacinação subiam em sentido contrário e ajudavam a colocar um freio na covid-19 ao lado da manutenção de medidas como distanciamento social e uso de máscaras.
Investimento maciço de recursos e ajustes de protocolos científicos, que permitiram acelerar a produção dos imunizantes sem pular nenhuma etapa de segurança, resultaram em um feito histórico: em menos de um ano, a humanidade tinha uma arma capaz de fazer frente a um dos mais danosos vírus dos últimos séculos.
Até a metade de dezembro, mais de 8,5 bilhões de doses haviam sido aplicadas em todo o mundo, imunizando integralmente 3,6 bilhões de pessoas — mais de 46% da população mundial. Apesar do surgimento de novas variantes como a Delta e a Ômicron, a expectativa é de que a continuidade das campanhas contra o vírus resulte em um 2022 mais próximo da normalidade perdida.
— As vacinas foram a grande virada de jogo. Estávamos só perdendo para o vírus até aquele momento, e elas mudaram a situação. Claro que temos desafios pela frente. Mas se podemos ter esperança de um retorno mais completo à normalidade, mesmo em face do desafio de variantes como a Ômicron, devemos isso às vacinas — analisa o virologista da Universidade Feevale Fernando Spilki.
As principais farmacêuticas do planeta estudam formas de adaptar os imunizantes disponíveis à mais recente mutação, caso isso se confirme necessário. O tempo previsto para calibrar as vacinas seria rápido: algo em torno de três a quatro meses.
Se podemos ter esperança de um retorno mais completo à normalidade, mesmo em face do desafio de variantes como a Ômicron, devemos isso às vacinas.
FERNANDO SPILKI
Virologista da Universidade Feevale
Enquanto a luta entre ciência e vírus prossegue, o Rio Grande do Sul superou em dezembro a marca de 70% da população beneficiada com a imunização completa. O recorde de aplicações ocorreu no dia 7 de julho, quando foram oferecidas 151,9 mil injeções em apenas 24 horas. Inicialmente, se acreditava que esse percentual de vacinação seria suficiente para barrar a circulação do vírus, mas desde a eclosão de mutações como a Gama e a Delta, cada vez mais transmissíveis, será preciso seguir investindo na campanha contra o sars-cov-2.
O desafio que permanece para 2022 é tornar a distribuição dos imunizantes mais igualitária em todo o planeta. Os baixos índices de vacinação na África, por exemplo, onde menos de 10% das pessoas estavam integralmente protegidas, favoreceram a proliferação da variante Ômicron. Isso levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a renovar os apelos endereçados aos principais líderes globais para que façam as injeções chegarem ao braço da população nas nações mais pobres.