Tudo que se refere à recém-descoberta variante Ômicron do coronavírus ganha atenção mundial, mas ainda é muito cedo para definições — o que inclui características e nível de gravidade dos sintomas dos infectados.
No domingo passado (28), Angelique Coetzee, da Associação Médica da África do Sul, responsável pelo atendimento de alguns dos primeiros pacientes diagnosticados no país de onde partiu o alerta à Organização Mundial da Saúde (OMS), relatou as semelhanças observadas entre os casos: forte fadiga, dores no corpo e de cabeça e, eventualmente, tosse e dor de garganta — nada de novo em relação a fases anteriores da pandemia, é importante frisar. Um detalhe de seu relato ganhou enorme repercussão na imprensa: todos os quadros de covid-19 foram considerados leves.
Alexandre Zavascki, médico infectologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), destaca que não há como concluir nada por enquanto e é preciso evitar "afobação". Uma amostragem mínima que se preste à obtenção de dados mais precisos deveria ter, pelo menos, mil pacientes.
— É muito cedo mesmo, muito poucos casos. Tem o viés de aferição: você está impressionado com aquilo, está todo mundo olhando. Tem que comparar um grande número de casos e ver as diferenças — explica o médico.
Zavascki contrapõe um exemplo hipotético com menos indivíduos:
— Em um grupo de cem pacientes, se todos vão bem (sintomas leves), isso não me diz nada. Uma taxa de complicação de 5% a 10% não vai aparecer em uma amostragem dessas.
O professor destaca uma peculiaridade do cenário epidemiológico do país africano: a baixa taxa de imunização contra a covid-19 (em torno de 24%). Quase metade dos doentes examinados por Angelique, conforme falou a médica, não estavam vacinados. Em outras partes do mundo aonde a Ômicron chegar, os desdobramentos podem ser bem distintos.
— Tem outros fatores influenciando o agravamento: se o paciente está vacinado ou não, se teve covid e tomou vacina, se teve a infecção, tomou a vacina e também a terceira dose. É muito complicado dizer que o quadro não vai agravar — comenta Zavascki.
As próximas semanas serão cruciais para avançar no entendimento de como a variante se comporta.
— O vírus pode adquirir mutações que favoreçam muito a transmissibilidade, mas que tirem virulência. Ele pode inclusive mudar o curso (da doença), retardando o aparecimento de sintomas — afirma o médico.
O lado positivo do atual panorama de incertezas é que a importância de medidas preventivas volta a ganhar visibilidade, aponta o infectologista:
— As pessoas estão mobilizadas, as vigilâncias do Estado e do município estão tentando manter atenção aos viajantes, aplicando testes. Temos que reforçar os cuidados, reforçar o que já sabemos, e rever decisões.