Causador de surtos de gripe em regiões como Sudeste e Nordeste do Brasil, o vírus H3N2, subtipo da influenza A, tem circulado também no Rio Grande do Sul. Desde a metade de dezembro, hospitais de Porto Alegre viram um aumento nos atendimento de casos da doença em suas alas de urgência e emergência. A situação está sendo monitorada, mas, por enquanto, é considerada sob controle.
O Estado já teve uma morte confirmada causada por influenza do tipo H3N2, de uma idosa de 67 anos, em São Francisco de Paula. No último levantamento feito pela Secretaria Estadual da Saúde (SES), divulgado no dia 22 de dezembro, tinham sido identificados 24 casos da doença, sendo oito deles com necessidade de hospitalização. Desde então, municípios como Bento Gonçalves e Canoas, que ainda não tinham casos confirmados, já anunciaram habitantes com a enfermidade. Um novo boletim estadual deve ser divulgado na próxima semana.
Conforme Cynthia Molina Bastos, diretora do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVS), a tendência é de que haja dois vírus respiratórios circulando durante o verão. A preocupação, no entanto, é com o inverno.
— Não temos uma transmissão clara no Rio Grande do Sul. Aqui ainda não temos o número de internações se invertendo, como em São Paulo, onde o número de novos casos de doenças não-covid tem sido maior do que os de covid. Nossa preocupação é que esse surto siga no inverno, quando é mais difícil manter os ambientes arejados — avalia Cynthia.
Por enquanto, o local com maior número de registro de casos foi a emergência do Hospital Nossa Senhora da Conceição. No total, 13 pacientes foram internados com quadro de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) motivado por influenza A na segunda quinzena de dezembro. Destes, cinco permanecem internados, um está na unidade de tratamento intensivo (UTI), onde chegou a ser entubado, mas já passou pelo processo de extubação e vem apresentando melhoras. Dois casos de internação também foram registrados no Hospital da Criança Conceição, que atende pessoas de zero a 11 anos, um de H3N2 e outro de influenza A não subtipada.
— De maneira global, estamos vigilantes e nos preparando para a situação, mas, neste momento, sem alarmismo — pontua Cléber Verona, gerente das Interunidades de Urgência e Emergência do Grupo Hospitalar Conceição (GHC).
No Hospital de Clínicas de Porto Alegre, a testagem para influenza foi iniciada há uma semana e, por isso, só há dados dos últimos sete dias. Nesse período, dois casos de H3N2 foram atendidos na ala de emergência. Um deles precisou ser internado, pois tinha comorbidades, mas não teve de ser encaminhado para a UTI. Ambos os pacientes eram considerados em situação de baixa gravidade.
O Hospital Moinhos de Vento registrou aumento na procura por atendimento relacionado a doenças respiratórias. Atualmente, há dois adultos internados com diagnóstico de influenza A e nenhuma criança.
Outro hospital em que houve crescimento nos casos de síndrome gripal desde um pouco antes do Natal foi o Mãe de Deus. Muitos testes têm dado negativo para covid-19 e são potencialmente casos de influenza A. No entanto, como a maioria dos pacientes tem sido atendida na emergência e liberada, já que apresentam quadros de baixa gravidade, muitas vezes o diagnóstico conclusivo não acontece. Uma paciente estava internada ontem com SRAG causada por H3N2.
Cezar Riche, médico infectologista que faz o controle de infecções no Mãe de Deus, relata que ainda não há um dado epidemiológico que mostre que o Estado vive algum tipo de surto que saia muito dos padrões, mas é preciso ficar alerta.
— É importante que as informações sobre os casos sejam passadas, seja dado o alerta e que saibamos que há duas doenças respiratórias circulando por aí. Devemos ficar atentos para ambas. Se houver um aumento no número de hospitalizações ou uma demanda muito maior nos hospitais, o que ainda não está ocorrendo, aí sim será necessário tomar outras medidas — analisa Riche.
Os hospitais São Lucas da PUCRS e Ernesto Dornelles, que também foram procurados, não tiveram nenhuma internação por influenza A. No São Lucas, houve alguns casos suspeitos, mas sem necessidade de internação.
Prevenção envolve vacina, máscara e higienização das mãos
Apesar de a vacina contra a gripe oferecida nos postos de saúde neste ano não prever a imunização contra a cepa H3N2, a recomendação de especialistas e órgãos sanitários é de que as pessoas busquem a vacinação como forma de prevenir quadros mais graves da doença.
— Em algum grau, a vacina atual protege contra esta cepa também e é a arma mais importante que temos contra o agravamento da doença. Nos causa estranhamento que justamente os grupos de risco para a influenza não procuraram a vacinação — alerta Jana Ferrer, enfermeira responsável pela vigilância da influenza na Diretoria de Vigilância em Saúde de Porto Alegre.
O vírus H3N2 circula pelo mundo desde 1968 e, então, é bem conhecido pelos órgãos sanitários. Os grupos com mais risco de complicações e, por isso, prioritários para a vacinação já são bem definidos: crianças acima de cinco anos, gestantes, puérperas, pessoas com deficiência, pessoas com comorbidades, indígenas e idosos. No entanto, a meta de vacinação, de 90%, só foi alcançada entre idosos e indígenas. Atualmente, toda a população pode buscar a vacina contra a gripe, que protege contra três cepas diferentes, em qualquer posto de saúde.
Além da vacinação, as medidas de prevenção à contaminação por influenza A são as mesmas referentes à covid-19 — usar máscara, evitar aglomeração, manter os ambientes arejados e higienizar as mãos. Outro alerta feito por Jana Ferrer é para que as pessoas levem como lição da pandemia a lembrança de não expor os outros aos seus sintomas gripais.
— Quando tivermos sintomas, não podemos expor nossa família e amigos, temos que realmente nos precaver por nós e pelos outros, porque aí evitaremos covid-19, H3N2, H1N1 e todas as outras formas de vírus — adverte Jana.
A orientação para quem apresentar sintomas gripais é que procure atendimento médico. Especialmente entre pessoas dos grupos de risco é importante que o tratamento com o medicamento Tamiflu (Oseltamivir) seja iniciado em até 48 horas do começo dos sintomas.