A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu neste mês a propaganda da gestrinona e de produtos que contêm essa substância e, ainda, disse que esses itens são um "risco à saúde pública". Difundido nos últimos anos, o chamado "chip da beleza" é um dispositivo de silicone implantado no corpo para liberar continuamente hormônios, como a gestrinona, esteroide com ações anabolizantes.
A promessa é de que, com os efeitos androgênicos da substância, ocorra emagrecimento, ganho de massa muscular e aumento na disposição física. Costuma-se omitir nos anúncios, porém, que ele não tem registro da Anvisa e pode causar efeitos colaterais, como desníveis de colesterol, problemas no coração e no fígado, entre outros.
Na Resoluçãoº 4.768, de 22 de dezembro, a agência argumenta que a divulgação da substância fere regras que restringem propaganda de produtos com necessidade de prescrição e manipulados a médicos, cirurgiões-dentistas e farmacêuticos. Por isso, adotou a medida preventiva.
Em resposta a ofício da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem), a Anvisa reforçou que "não há medicamentos contendo o insumo farmacêutico ativo gestrinona com registro sanitário válido no Brasil". E destacou que "tampouco constam em seu banco de dados pedidos de registro aguardando análise ou em avaliação pela área técnica".
"Em outras palavras, não é possível alegar que esses produtos são eficazes e seguros, o que representa, per se, um risco à saúde pública", diz ainda a nota técnica da agência.
No início de novembro, a Sbem divulgou posicionamento contrário ao implante de gestrinona — que foi enviado à Anvisa, ao Conselho Federal de Medicina (CFM) e à Associação Médica Brasileira (AMB). O documento destacou que "a gestrinona têm sido usada erroneamente por mulheres na busca de melhora da performance física e estética".
"No Brasil, a utilização de implantes hormonais utilizando esteroides sexuais e seus derivados aumenta de forma avassaladora. Por serem apresentações customizáveis, existe um real risco de superdosagem e de subdosagem", afirma o texto.
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo no início de dezembro, o presidente do Departamento de Endocrinologia Feminina, Andrologia e Transgeneridade da Sbem, Alexandre Hohl, um dos signatários do posicionamento, explicou que, em um primeiro momento, o dispositivo com gestrinona era injetado no corpo com a justificativa de tratar a endometriose — distúrbio ligado ao crescimento de tecidos do útero.
Há cerca de cinco anos, porém, percebeu-se que passaram a se intensificar o uso do dispositivo para fins estéticos e a combinação com outros tipos de hormônios. O nome "chip da beleza" veio no meio desse processo.
— Quando se viu, estavam colocando todo tipo de anabolizante nos chips, principalmente com a justificativa de aumentar massa magra e diminuir massa gorda. Mas não há indicação médica para benefício estético— contou Hohl à época.
E complementou, alertando:
— Pode dar acne, problemas no fígado, no coração, na mama, aumentar colesterol e gerar uma série de outros efeitos.