Além de exigir a descoberta de vacinas para prevenção e a cura – ainda não obtida – da covid-19, a pandemia também desafia médicos e cientistas em outro ponto: as superbactérias. O novo vírus provou o consumo exagerado e até incorreto de antibióticos, medicações que combatem bactérias. As informações são do El País.
A situação já era complicada antes da covid, mas, de acordo com Cristina Muñoz, codiretora do Plano Espanhol Frente à Resistência aos Antibióticos, o processo está se acelerando de março de 2020 para cá. A cientista convida a imaginar o cotidiano sem antibióticos que funcionem, um mundo onde qualquer infecção poderia ser letal. As bactérias se multiplicam a cada 20 minutos e, às vezes, sofrem mutações que podem funcionar como um escudo contra algum antibiótico.
— Seria dar um passo atrás de quase cem anos de avanços médicos. Aconteceriam coisas que nem nos ocorre pensar, como que uma criança caia, abra o joelho, seja levada ao hospital e o médico lhe diga que não há nada a fazer, que sente muito — explicou Cristina ao El País.
O microbiologista Bruno González Zorn se mostra tão preocupando quando a colega.
– Temos os níveis de resistência que esperávamos ter em 2030. Aceleramos 10 anos. Estamos muito alarmados.
De alto custo de pesquisa e com muito tempo de pesquisa, as farmacêutica têm abandonado as pesquisas para novos antibióticos, o que gera apreensão em médicos do mundo todo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), existem apenas 43 antibióticos experimentais em ensaios clínicos frente a mais de 5,7 mil possíveis novos tratamentos contra o câncer, por exemplo.
Ainda de acordo com a pesquisadora Cristina Muñoz, algumas doenças bacterianas, como a pneumonia, a tuberculose, a gonorreia e a Salmonelose, já estão ficando sem tratamentos eficazes. A quimioterapia, que favorece as infecções microbianas nos pacientes com câncer ao reduzir suas defesas, também seria uma prática de alto risco na ausência de antibióticos.
— Deixaríamos de curar as pessoas, mas também os animais. Não poderíamos produzir alimentos saudáveis. [...] Estamos numa encruzilhada que pode dar lugar a uma segunda pandemia mundial devastadora — afirmou Marc Lemonnier, microbiologista e empresário.
Um relatório elaborado para o governo britânico já alertava, em 2016, que os micróbios resistentes aos medicamento matavam 700 mil pessoas no mundo e que se poderia chegar a 10 milhões em 2050. Contudo, essa previsão pode acabar vindo mais cedo do que o esperado.
– Pode ser que os 10 milhões de mortes já não ocorram em 2050, mas sim em 2040 ou em 2030 – adverte microbiologista Bruno González Zorn.