A ampliação da dose de reforço da vacina contra a covid-19 para todos os brasileiros adultos, anunciada nesta terça-feira (16) pelo Ministério da Saúde, é avaliada de forma positiva por especialistas, que ressaltaram a importância da medida. No entanto, os infectologistas consultados pela reportagem alertam sobre a necessidade de buscar as pessoas que ainda não fizeram nenhuma dose dos imunizantes ou estão com a segunda atrasada.
De acordo com os especialistas, o reforço se faz necessário porque a proteção das vacinas contra o coronavírus começa a diminuir após aproximadamente seis meses da aplicação da segunda dose. Eduardo Sprinz, chefe do Serviço de Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) e professor de Infectologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), explica que essa dose extra serve justamente para estimular a produção de defesa no organismo.
Assim, as pessoas permanecem menos suscetíveis a manifestações mais graves da doença e também adquirem maior proteção diante das variantes.
— Além de fazer com que o sistema imunológico continue atuando nessa defesa específica, muitas vezes o reforço consegue aumentar o número de anticorpos disponíveis. Ou seja, aumenta o tamanho da defesa e, quanto maior a quantidade de anticorpos, mais ampla será a proteção contra as variantes — afirma Sprinz, ressaltando que a medida também tem impacto comunitário, já que, quanto menor o número de pessoas suscetíveis à contaminação, menor será a circulação do vírus e a quantidade de novos casos.
Além disso, a decisão é importante porque há possibilidade de que o vírus fique circulando por um bom tempo no mundo e só será possível manter a pandemia controlada com a vacinação, destaca o médico infectologista do Hospital Moinhos de Vento Paulo Ernesto Gewehr Filho. Desta forma, pode ser necessário que doses de reforço sejam aplicadas constantemente até que a situação esteja controlada.
— Os dados que temos apontam na direção da necessidade de doses de reforço adicionais nos próximos 12 meses. E, não oferecendo esse reforço, corremos o risco de que a proteção diminua e a população fique vulnerável, podendo gerar uma nova onda — alerta o especialista.
— Temos que reforçar a ideia de que uma dose só não é suficiente. Quanto maior o número de doses, maior será o estímulo para as defesas serem produzidas. Essa terceira dose é necessária, só é preciso dar prioridade para as pessoas mais vulneráveis — complementa Sprinz.
Esforços para D1 e D2
Em paralelo ao estímulo à terceira dose, os órgãos de saúde precisarão fazer um esforço para buscar quem ainda não recebeu a primeira aplicação ou está com a segunda atrasada, opinam os especialistas. Paulo Ernesto Gewehr Filho enfatiza que é especialmente nos grupos não imunizados ou com esquema vacinal incompleto que o vírus está tendo maior impacto, gerando quadros de covid-19 que exigem internação e podem levar à morte:
— Partindo do pressuposto de que não há mais falta no abastecimento de vacinas, oferecer a terceira dose não prejudica quem ainda precisa fazer a primeira ou a segunda, mas é importante que haja um esforço contínuo para resgatar essas pessoas e não focar somente no reforço.
Infectologista membro da Sociedade Rio-Grandense de Infectologia (SRGI), Andréa Dal Bó concorda com o especialista do Hospital Moinhos de Vento, ressaltando que tem ocorrido aumento nas internações de pessoas que ainda não fizeram a primeira ou a segunda. Ela afirma também que a faixa etária dos internados em decorrência da covid-19 tem diminuído conforme avança a aplicação do reforço em pessoas com mais de 60 anos.
A médica destaca outro ponto importante: a necessidade de progresso na vacinação das crianças. Segundo Andréa, o número de crianças com coronavírus e com síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica (que pode se manifestar após a covid-19) tem aumentado. E isso se deve ao fato de que muitas pessoas imunizadas relaxaram as medidas de prevenção e, quando contaminadas, mesmo apresentando quadros leves ou assintomáticos, transmitem o vírus para aquelas que ainda não foram vacinadas — sendo a maioria crianças.
Intercambialidade de vacinas
A intercambialidade de vacinas, que ocorre quando se aplicam doses de tecnologias de produção diferentes — CoronaVac e Pfizer, por exemplo —, também é vista como algo positivo. O infectologista Paulo Ernesto Gewehr Filho afirma que diversos estudos mostram que a combinação de imunizantes é segura e efetiva e que, em alguns casos, inclusive, aumenta a proteção na comparação com o esquema vacinal completo com um mesmo imunizante.
— Combinar duas vacinas pode ter um resultado melhor do que utilizar só uma. E tem a questão da facilidade: não tendo determinado imunizante, pode-se utilizar outro que estiver disponível. Então, a vacinação não atrasa por falta de uma vacina específica — explica.
De acordo com o Ministério da Saúde, a vacina utilizada para a aplicação extra deve ser, preferencialmente, a da Pfizer. Porém, também podem ser usados os imunizantes da AstraZeneca e da Janssen.