A alta de casos que forma a quarta onda de covid-19 na Europa, somada à descoberta de uma nova variante do vírus na África do Sul, tem levantado dúvidas sobre o futuro da situação brasileira na pandemia. Pesquisadores ouvidos pela reportagem afirmam que é difícil prever os rumos da pandemia no país, mas não descartam o risco de uma nova alta nos registros, sobretudo diante do relaxamento de medidas de proteção, como distanciamento social e uso de máscaras. Com o avanço da vacinação, porém, a expectativa é de haver menos internações e mortes.
Para a epidemiologista e vice-presidente do Instituto Sabin, Denise Garrett, ainda que seja a principal ferramenta de controle da pandemia, a vacinação não pode ser vista como a única forma de conter novas ondas da pandemia.
— A nossa vacinação não segura o aumento no número de casos, sem contar que são milhões de pessoas que ainda não se vacinaram. Se fosse uma variante inicial, que uma pessoa transmite para duas, a vacinação conseguiria barrar. Uma variante como as que surgiram, que transmitem para cinco a nove pessoas, não dá para barrar — alerta Garrett, reforçando a importância de convocar a população para segunda dose.
Como exemplo, a epidemiologista cita Cingapura, que, com mais de 90% da população com o esquema vacinal completo contra covid, viu um aumento recente no número de casos. O mesmo aconteceu com países como a Alemanha, que atingiu 100 mil mortes pela doença e teve recorde diários de casos. O coronavírus, explica Garrett, parece não ser sazonal como outras doenças, mas responde a uma soma de fatores — o que também inclui o comportamento das pessoas e as medidas de segurança adotadas pelos países.
Olhar
Diretor da Fiocruz/SP, Rodrigo Stabeli reforça que é importante olhar o que está acontecendo especialmente na Europa, porque normalmente o que ocorre por lá tem ditado o ritmo da pandemia no país. Desse modo, ele enxerga que é "natural" que o Brasil passe por uma nova onda. A principal diferença é o desfecho dos casos, que pode ser mais positivo com o avanço da vacinação e a manutenção da campanha com doses adicionais.
— Em países com a população mais vacinada, como Portugal, Inglaterra e Alemanha, já se vê uma nova onda caracterizada de síndromes leves. A gente vê ainda baixos índices de hospitalização e mortes — explica Stabeli. — Quando olhamos para Rússia, Áustria e países que têm dificuldade na vacinação, vemos uma onda já caracterizada com alto índice de hospitalização e óbitos.
Cabo de guerra
Segundo o cientista de dados e coordenador da Rede Análise Covid-19, Isaac Schrarstzhaupt, o que tem se observado na Europa é uma soma de estagnação da cobertura vacinal e de flexibilizações em excesso.
— É aquela história do cabo de guerra: de um lado a vacina está puxando para tentar reduzir a transmissão e de outro lado o vírus está puxando para tentar contaminar as pessoas. Quando há estagnação da cobertura vacinal e flexibilizações, a gente começa a ajudar o vírus nesse cabo de guerra — explica.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.