Segundo uma pesquisa realizada pelo Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan) do Ministério da Saúde, uma em cada quatro crianças de dois a nove anos e que são atendidas nos serviços de Atenção Básica realiza as três refeições principais de maneira diária. Isso equivale dizer que somente 26% deste grupo é contemplado com a alimentação recomendada. Os dados foram obtidos pela Globo News mediante a Lei de Acesso à Informação.
A pesquisa apontou ainda que em 2020 a situação foi ainda pior. Somente 21% das crianças de dois a nove anos tinham acesso às três refeições diárias básicas. Os dados são referentes à realidade de todo Brasil e foram constituídos a partir de entrevistadas realizadas pelo Sisvan com as famílias.
Segundo Náercio Gomes Menezes Filho, membro do Comitê Científico do Núcleo Ciência pela Infância (NCPI), as crianças mais afetadas são aquelas que vêm de famílias pobres e que foram afetadas pela perda de emprego e renda.
— Geralmente, tendem a ser negras ou pardas e a morar nas regiões Norte e Nordeste — acrescenta Náercio ao G1.
Em 2015, a realidade era oposta: 76% das crianças na faixa etária indicada realizavam pelo menos as três refeições diárias. No ano seguinte, o índice caiu para 42%. Em 2017 foi para 46%. Já em 2018 subiu para 62%.
No ano de 2019 houve um decréscimo no número de crianças que consumiam as três refeições diárias, chegando a 28%. Mas o patamar mais baixo registrado em seis anos aconteceu em 2020, com a marca de 21%.
De acordo com Menezes Filho, economista e coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper, até a década de 1980 a fome era um grande problema no país. A situação começou a mudar a partir de 2010, com o impulsionamento das políticas públicas.
— O índice de crianças que consomem ao menos três refeições no dia vem caindo porque tivemos uma recessão muito grande a partir de 2015. Ela segue hoje em dia e foi agravada pela pandemia. Ou seja, a pandemia se sobrepôs a uma situação econômica que já vinha acontecendo — explica o economista ao portal.